Novo presidente da Câmara diz que não considera 8/1 uma
tentativa de golpe e gera reação de governistas
Sempre que algum neófito assume cargo público relevante,
acaba levando um susto com a força que a nova função empresta a suas palavras.
Não foi diferente com o novo presidente da Câmara
dos Deputados, Hugo Motta.
Depois de uma campanha em que sabiamente evitou
pronunciar-se sobre questões polêmicas, Motta resolveu
dizer o que pensa. Mostrou-se simpático à anistia aos condenados pelo 8 de
janeiro, ao esvaziamento da Lei da Ficha Limpa, entre outras pautas que
desagradam ao governo.
Ao que tudo indica, foi surpreendido pelas
reações e passou os últimos dias em modo contenção de danos, tentando se
explicar a interlocutores. Se for esperto, aprenderá rapidamente a calibrar
suas falas.
E quanto ao mérito da mais polêmica das declarações? O 8/1
foi tentativa de golpe ou baderna?
Até acho que, se isolarmos as ações daquele dia, despindo-as
de seu contexto histórico e político, daria para descrevê-las como um episódio
de vandalismo. Só que fazer isso seria um erro.
As manifestações de militantes bolsonaristas diante de
quartéis, que depois desaguaram na invasão da praça dos Três Poderes, eram um
dos eixos do plano golpista. Se a movimentação tivesse ocorrido enquanto
Bolsonaro ainda detinha a caneta presidencial, o desfecho da intentona poderia
ter sido outro.
Na minha leitura, o binômio manifestações/invasão foi um
pavio que os conspiradores acenderam deliberadamente em sua tentativa de
golpear a democracia, mas se esqueceram de desligar (ou não puderam fazê-lo)
depois que desistiram de dar continuidade à ação.
Incompetência, penso, não basta para descaracterizar a
tentativa. Ao contrário até, acho que a materialização do 8/1 pode ser
interpretada como um forte indício de que a tentativa de golpe entrou em fase
de execução, não sendo mera cogitação, como pretendem alguns defensores dos
indiciados.
Diferentemente de parte da esquerda, porém, não vejo mal em
debater essa questão. Uma das razões por que vale a pena preservar a democracia
é que ela permite discutir tudo sob qualquer ângulo.


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