quinta-feira, 6 de fevereiro de 2025

MERENDA ESCOLAR MAIS SAUDÁVEL

Editorial Folha de S. Paulo

Redução do limite de ultraprocessados é correta pois atinge estrato vulnerável e pode reduzir gasto com obesidade no SUS

Quando políticas são baseadas em estudos e experiência, saem ganhando a população e o governo. Esse deve ser o caso da medida, anunciada pela gestão de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que diminui o limite de alimentos processados e ultraprocessados na merenda das escolas públicas de 20% para 15%, com meta de 10% em 2026.

A mudança favorece alunos de um estrato que padece com déficit nutricional e gera efeitos que podem reduzir gastos no SUS.

As comidas ultraprocessadas são aquelas que passam por intenso processo de industrialização e contêm alto teor de ingredientes artificiais, como aromatizantes, emulsificantes, espessantes e corantes, além de níveis elevados de açúcar, sódio e gorduras —são biscoitos, salgadinhos, salsicha, macarrão instantâneo, refrigerantes e outros.

Segundo a maior revisão de estudos sobre o tema, publicada por pesquisadores da Austrália e dos EUA em março de 2024, elas estão associados a 32 efeitos prejudiciais à saúde, incluindo doenças cardiovasculares, diabetes e obesidade.

Ademais, pesquisas mostram que sua composição estimula o sistema de recompensa do cérebro, fazendo com que as pessoas queiram consumir maiores quantidades mesmo que a fome esteja saciada —fenômeno conhecido como hiperpalatabilidade.

A redução de ultraprocessados no ambiente escolar também é bem-vinda porque a infância e a adolescência são as fases da vida mais propensas à formação de hábitos saudáveis.

De acordo com o Atlas 2024 da Federação Mundial da Obesidade, o índice de jovens brasileiros entre 5 e 19 anos de idade acima do peso era de 34% em 2019 e tende a saltar para 50% em 2035.

Levantamento da USP e da Fiocruz revelou que, de 2013 a 2022, o custo de internação de crianças e adolescentes por obesidade no SUS aumentou 20%, de R$ 145 milhões para R$ 174 milhões. O gasto total com a doença nesse período superou R$ 1,54 bilhão.

O controle de ultraprocessados na rede pública de ensino beneficia famílias mais pobres, que têm acesso precário a alimentos frescos, como frutas e verduras, e a espaços para atividades físicas.

A medida deve ser aliada à educação alimentar nas escolas e vigilância sobre as informações nos rótulos dos produtos, que desde 2022 devem alertar para altos índices de sal, açúcar e gorduras.

A obesidade exige ações interdisciplinares e de longo prazo. Agir na infância produz resultados positivos para os cofres públicos e, mais importante, para a saúde dos brasileiros.
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