Redução do limite de ultraprocessados é correta pois
atinge estrato vulnerável e pode reduzir gasto com obesidade no SUS
Quando políticas são baseadas em estudos e experiência, saem
ganhando a população e o governo. Esse deve ser o caso da medida, anunciada
pela gestão de Luiz Inácio Lula da
Silva (PT), que diminui o limite de alimentos processados e ultraprocessados na
merenda das escolas públicas de
20% para 15%, com meta de 10% em 2026.
A mudança favorece alunos de um estrato que padece com
déficit nutricional e gera efeitos que podem reduzir gastos no SUS.
As comidas ultraprocessadas são aquelas que passam por
intenso processo de industrialização e contêm alto teor de ingredientes
artificiais, como aromatizantes, emulsificantes, espessantes e corantes, além
de níveis elevados de açúcar, sódio e gorduras —são biscoitos, salgadinhos,
salsicha, macarrão instantâneo, refrigerantes e outros.
Segundo a maior revisão de estudos sobre o tema, publicada
por pesquisadores da Austrália e
dos EUA em março de 2024, elas estão associados a 32 efeitos prejudiciais
à saúde,
incluindo doenças cardiovasculares, diabetes e obesidade.
Ademais, pesquisas mostram que sua composição estimula o
sistema de recompensa do cérebro, fazendo com que as pessoas queiram consumir
maiores quantidades mesmo que a fome esteja saciada —fenômeno conhecido como
hiperpalatabilidade.
A redução de ultraprocessados no ambiente escolar também é
bem-vinda porque a infância e a adolescência são as fases da vida mais
propensas à formação de hábitos saudáveis.
De acordo com o Atlas 2024 da Federação Mundial da
Obesidade, o índice de jovens brasileiros entre 5 e 19 anos de idade acima do
peso era de 34% em 2019 e tende a saltar para 50% em 2035.
Levantamento da USP e
da Fiocruz revelou
que, de 2013 a 2022, o custo de internação de crianças e adolescentes por
obesidade no SUS aumentou
20%, de R$ 145 milhões para R$ 174 milhões. O gasto total com a doença
nesse período superou R$ 1,54 bilhão.
O controle de ultraprocessados na rede pública de ensino
beneficia famílias mais pobres, que têm acesso precário a alimentos frescos,
como frutas e verduras, e a espaços para atividades físicas.
A medida deve ser aliada à educação alimentar nas escolas e
vigilância sobre as informações nos rótulos dos produtos, que desde
2022 devem alertar para altos índices de sal, açúcar e gorduras.


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