Nada indica que Gleisi tenha se tornado ministra porque Lula
quer virar o governo à esquerda
A melhor chance de ela ser bem-sucedida é Haddad entregar
resultados na economia
Gleisi
Hoffmann é a nova ministra da Secretaria de Relações Institucionais do
governo Lula.
Sua indicação gerou reações negativas no centrão e no mercado, como tudo que
Lula fez nos últimos meses.
Do ponto de vista do mercado, o medo é que a nomeação de
Gleisi enfraqueça ainda mais o ministro da Fazenda, Fernando
Haddad. Como presidente do PT, ela criticava
abertamente a política econômica do ministro, que a derrotou na disputa pela
candidatura do PT em 2018.
As críticas
de Gleisi e de seus aliados a Haddad foram completamente
irresponsáveis. Ajudaram a difundir na esquerda a ideia de que Haddad, o
primeiro ministro da Fazenda petista a propor taxar os ricos, é um neoliberal
maluco. Entre os operadores do mercado, ajudaram a criar a imagem de que Haddad
pode até ter ideias certas, mas não consegue se impor dentro do PT.
Por outro lado, até agora, nada indica que
Gleisi tenha virado ministra porque Lula quer virar o governo para a esquerda.
Ela virou ministra para facilitar a vida da tendência
moderada do PT, a Construindo um Novo Brasil (CNB) na
eleição do novo presidente do PT. A CNB quer eleger Edinho Silva,
ex-prefeito de Araraquara, como seu sucessor.
É muito difícil que Edinho não se eleja, mas a disputa por
cargos importantes na nova direção está acirrada. Lula espera que os aliados de
Gleisi tornem a vida de Edinho mais fácil agora que a emplacaram como ministra.
Já faz tempo, inclusive, que o principal adversário de
Haddad não é mais Gleisi Hoffmann. É Rui Costa,
que continua firme e forte no comando da Casa Civil. Costa, como Gleisi em
2018, quer ser candidato a presidente da República no lugar de Fernando Haddad.
A estratégia de Costa é difícil de entender. Não consigo
vislumbrar um cenário em que Haddad fracasse como ministro e Lula eleja seu
sucessor. Que realizações, à frente da Casa Civil, apresentará como argumento a
favor de sua candidatura?
De qualquer jeito, não sei o que Gleisi fará na disputa
interna do governo, mas não acho que sua nomeação altere fundamentalmente o
equilíbrio político na Esplanada. E talvez ajude a consolidar os moderados
dentro do PT.
E, no fim das contas, Gleisi e Haddad talvez desenvolvam
simpatia mútua agora que os dois têm tarefas impossíveis pela frente.
Em 2025, o trabalho da Secretaria de Relações Institucionais
é negociar o apoio de um centrão autofinanciado
com emendas parlamentares e geneticamente propenso a apoiar qualquer
candidato de direita em 2026.
Se eu estivesse chegando em um novo emprego, ficaria meio
assustado se o antigo ocupante parecesse tão feliz de ir embora como Alexandre
Padilha estava nas fotos da semana passada.
No fundo, o que mais afasta o centrão de Lula é o medo de
apostar no cavalo perdedor de 2026, especialmente se o presidente não concorrer
à reeleição. Por isso, o humor com que o centrão atenderá as ligações de Gleisi
Hoffmann nos próximos dois anos dependerá crucialmente do sucesso do governo em
recuperar sua popularidade.
Para quem conhece essa história de rivalidade, não deixa de
ser engraçado: a melhor chance de Gleisi Hoffmann ser bem-sucedida como
ministra é Fernando Haddad entregar resultados na economia que
mantenham os petistas competitivos em 2026.
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