O caminho para o zelo ambiental precisa vir das escolas
As sucessivas reuniões e acordos internacionais ambientais
desde 1972 foram insuficientes para reorientar a humanidade na direção do
desenvolvimento sustentável. O futuro da Terra pede uma mudança de mentalidade
aos cidadãos. Os cientistas alertam que, apesar de termos atravessado 29
cúpulas, hoje chamadas de COP, Conferência das Partes, é possível estarmos
próximo ao ponto de não retorno nas mudanças climáticas, na devastação da
biodiversidade e na elevação da temperatura do planeta, com consequências catastróficas.
A COP30, em Belém do Pará, poderá ser mais um evento mundial de boas
intenções.
Os gestos insanos de Donald Trump talvez
façam o mundo perceber que a humanidade está em uma encruzilhada: continua a
marcha para o desequilíbrio ecológico e a radical desigualdade social ou
reorienta o progresso para um desenvolvimento sustentável e solidário. Há
evidente divórcio entre o humanismo planetário, de permanente cunho
democrático, e a pressão dos eleitores, atalho para interesses locais, nem
sempre cuidados com o respeito ao ambiente. O eleitor vota querendo baixar o
preço da gasolina no posto da esquina na próxima semana, não para manter o
nível do mar daqui a duas décadas; vota preocupado com a segurança imediata da
sua família, não com a sobrevivência da espécie humana no próximo século.
“Ainda que não gritem como Donald Trump, muitos
governantes andam na contramão”
Antes, o mundo era a soma de países
isolados, mas agora cada país é um pedaço do planeta interligado. Barack Obama
assinou o Acordo de Paris, em 2015, lembrando que não há presidente global.
Trump, no avesso, bateu a seu estilo: “Sou presidente dos Estados Unidos, o
resto não me interessa”. Mas interessa, sim, e precisamos ter essa condição em
mente. Ainda que não gritem como Trump, contudo, muitos governantes andam na
contramão. Recomendam investimentos privados em combustíveis fósseis,
determinam o aumento da produção de petróleo por empresas estatais, enquanto
fazem discursos ecológicos. São “Trumps” dissimulados, com a mesma voracidade
pelo consumo e desprezo pela ecologia.
O desumanismo explícito de Trump pode despertar para o fato
de que a democracia nacional precisa estar subordinada a valores morais
humanistas. Isto requer uma mudança de mentalidade: os eleitores abandonarem a
voracidade consumista e abrirem mão da soberania plena de seus países, passando
a tratar a natureza em seu território como patrimônio da humanidade.
A transformação da cidadania, portanto, exige educação. A evolução
sustentável e solidária em escala planetária não virá de leis e acordos assinados
por presidentes nacionais, mas da mudança de mentalidade das novas gerações, a
partir das escolas. Para ser efetiva, a COP30, diferentemente das 29
anteriores, deve pôr na sua pauta a educação de base das crianças do mundo.
Tanto para garantir escolas com qualidade para todos, quanto para oferecer
formação de mentes solidárias com a natureza e com os seres humanos de todos os
países. A educação para a sustentabilidade e a solidariedade é condição para
evitar a catástrofe. É o caminho de uma civilização que sobreviva e seja mais
justa e mais bela. Uma sugestão: o embaixador André Corrêa do Lago e o
presidente Lula podem
ser os portadores para o mundo da ideia de a COP30 ser a porta de entrada para
um novo tipo de compreensão, a educação como pilar do ambientalismo.
Publicado em VEJA de 4 de abril de 2025, edição nº 2938
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