Parece que a população manifesta cansaço com a falta de
austeridade e contenção no uso do dinheiro público
Quase metade dos brasileiros, ou exatamente 48%, considera
que a economia piorou — tal é um dos resultados da pesquisa Quaest divulgada na
última quarta-feira. Na rodada anterior, em março, o descontentamento era
maior: 56% dos entrevistados. Houve, portanto, ligeira melhora na percepção,
mas ainda assim o dado chama a atenção.
Depois de dois anos de crescimento acima de 3%, com
desemprego baixo, quase metade dos brasileiros acha que a economia está pior.
Mas o presidente Lula acredita
que vai muito bem. Ele não perde oportunidade para alardear o “pibão” e zombar
dos analistas que antecipam desaceleração. Nos bastidores, Lula cobra de sua
equipe mais esforço para “mostrar” à população que o Brasil vai melhor do que
ela pensa. De novo, o problema seria de comunicação. Mas não é. Outros dados da
mesma pesquisa mostram que a população percebe problemas que o governo não quer
ou não pode ver.
É verdade que diminuiu o número de
entrevistados se queixando da alta de preços, refletindo a folga da inflação
neste início de ano. Mas a maioria declara que o poder de compra é menor que há
um ano. Trata-se de uma percepção exata. A inflação de alimentos até caiu um
pouco, mas os preços não. Inflação menor significa que os preços sobem em ritmo
menor, mas, como dizem os entrevistados da Quaest, continuam altos, corroendo o
poder de compra.
Esse é um dos motivos por que a maioria considera o Brasil
conduzido na direção errada — e a conta, claro, vai para o governo Lula. Aqui,
não se trata só de economia, mas de vida em geral. A percepção envolve a
violência urbana, a maior preocupação da população apontada na pesquisa de
maio. Não adianta o governo federal dizer que a segurança é, legalmente, de
responsabilidade dos governos estaduais. A questão é outra: se os governos
estaduais obviamente não dão conta do problema, por que Brasília, com
mais recursos, não assume o comando?
Dirão: mas não é exatamente o que o governo Lula faz com a
proposta de nova lei de segurança? Pois é, mas a proposta anunciada, com forte
comunicação, não avança. Todo dia, as pessoas percebem no noticiário que a
bandidagem leva vantagem e que os planos governamentais continuam apenas isso,
planos.
Há outras situações, aparentemente menos graves, mas que,
acumuladas, causam desconforto. Entram aí as crises do Pix, a roubalheira
no INSS (que
reaproxima o governo da corrupção) e as trapalhadas com o aumento do IOF. Tudo
culpa do governo atual, diz a população. Acrescentem as filas para atendimento
no SUS e para obtenção de benefícios no INSS, e a sensação de mal-estar se
amplia.
De novo, o governo se atrapalha. Assim como diante da
escalada da violência, anuncia um plano. Também no caso do SUS a resposta é o
anúncio de um programa, o Mais Acesso a Especialistas. No caso do INSS, Lula
disse que os aposentados roubados serão ressarcidos rapidamente. Disse. É o
governo dos grandes anúncios, quando a população espera, com razão, que Lula
cumpra as promessas de campanha, entre as quais a eliminação daquelas filas.
Mais ação, menos palavrório.
Outras situações, aparentemente de menor impacto, também
causam a sensação de que o país vai na direção errada. Incluem-se aí: os
supersalários do funcionalismo e de membros do governo, agraciados com valiosos
cargos em estatais e outras empresas; os prejuízos de estatais; o péssimo
serviço dos Correios; e, sim, as luxuosas viagens internacionais de Lula e
Janja, hospedados em hotéis de alto luxo, levando comitivas numerosas, na
boca-livre.
Parece que a população manifesta cansaço com essa lambança
ou — dito de outro modo — com a falta de austeridade e contenção no uso do
dinheiro público. Isso sugere cansaço com o Lula 3. Está aqui talvez o dado
mais importante da pesquisa Quaest. Dois em cada três brasileiros acham que
Lula não deveria se candidatar a um quarto mandato. E exatamente na mesma
proporção, dois em três acham que Bolsonaro não deveria se candidatar a um
segundo mandato. O cansaço, pois, é com a situação política, com essa polarização
que tanto mal tem feito ao país.


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