O tráfico de drogas é apenas a ponta mais visível do
iceberg bandido
Com territórios ocupados, todas as classes sociais estão
ameaçadas, inclusive as mais ricas
Desbaratado pela Polícia
Federal na semana passada, o comércio
ilegal de armas de fogo produzidas em escala industrial funcionava no
interior de São Paulo e abastecia o Complexo do Alemão e a Rocinha. Uma
evidência de que o crime organizado tem ramificações em todo o país, não é
exclusividade paulista, carioca, cearense ou amazonense.
Com componentes estrangeiros e peças retiradas de
equipamentos de airsoft, a fábrica tinha capacidade para montar cerca de 3.500
fuzis por ano, quantidade sete vezes maior que o número de armas do mesmo tipo
apreendido pela Polícia
Militar do Rio de Janeiro em 2024.
O tráfico de drogas é a ponta visível do
iceberg. Alguém já disse que hoje é mais fácil apontar onde o crime organizado
não atua. Presente em 28 países, no Brasil o PCC está
infiltrado em diversos setores da economia: postos de gasolina, agência de
automóveis, empresas de construção, mercado imobiliário, casas de câmbio,
fintechs, fundos de investimento e criptomoedas, empresas de ônibus do
transporte público, igrejas, coleta de lixo e limpeza urbana, mineração, casas
eletrônicas de apostas e de jogos de azar, clubes de futebol.
Alarmante já não basta. De acordo com pesquisa Datafolha
encomendada pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, é preciso inventar um
novo adjetivo para definir a extensão do crime.
Facções e milícias ampliaram sua influência sobre o
território brasileiro, alcançando a vizinhança de 19% da população. O
percentual representa 28,5 milhões de pessoas vivendo em perigo, muitas morando
ao lado de cemitérios clandestinos —informação que desacredita os índices
oficiais de homicídio.
Todas as classes estão ameaçadas, inclusive as mais ricas.
Mas nem isso faz com que deputados e senadores se movam para votar com rapidez
a PEC
da Segurança, cujo mérito é incluir a PF no enfrentamento das quadrilhas
organizadas. Sem tirar o poder dos estados, como alegam os críticos, mais
interessados em promover a retórica da força e do sangue com finalidade
eleitoral.


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