Preso e isolado politicamente, Bolsonaro deixa bastão com
Flávio, que também pode ser alvo da PF
Candidatura presidencial do filho zero um, entretanto,
não une a centro-direita e ainda há temor de eventual investigação sobre o
senador também inviabilize seu nome
Amigos e correligionários de Jair
Bolsonaro (PL) já tinham acionado a contagem regressiva para a prisão
do ex-presidente, antes mesmo de o ministro Alexandre
de Moraes decretar a preventiva neste sábado, 22. Todos sabiam que o
momento estava chegando, mas acreditavam que ocorreria entre as próximas
terça-feira e quarta-feira.
Apesar do fim inevitável se aproximando, falar da prisão com
Bolsonaro e da transferência de seu espólio político para 2026 virou um tabu.
“Parece abutre à espreita”, resumiu à Coluna do Estadão uma liderança
política da direita bolsonarista para expor o desconforto com o tema.
Discutir os palanques estaduais e a corrida ao Planalto com
o capitão virou um problema. Seu quadro emocional e clínico cada vez mais
prejudicado inibia as abordagens, segundo relato de pessoas próximas ao
ex-presidente. Além disso, há as limitações judiciais. Para visitá-lo é preciso
autorização prévia de Moraes, e o diálogo entre Bolsonaro e o presidente
do PL, Valdemar
Costa Neto, está proibido.
“O que vimos nos últimos dias foi uma
absoluta desorientação e falta de articulação”, relatou um dos amigos do
ex-presidente.
O exemplo mais evidente é na articulação para o Palácio do
Planalto. No começo da prisão domiciliar, em agosto, houve tratativas para o
ex-presidente anunciar apoio a Tarcísio
de Freitas (Republicanos). Entretanto, alvo dos ataques do deputado
federal Eduardo
Bolsonaro (PL-SP), o governador de São Paulo recuou e tem feito
movimentos de idas e vindas nas sinalizações sobre a intenção de concorrer ao
Planalto.
Eduardo vem colecionando desavenças com antigos aliados. De
lá dos Estados Unidos, e sem pretensão de voltar diante do medo de ser preso,
ele mantém sua metralhadora verbal contra quem quer que ouse defender outro
nome na chapa presidencial que não seja da família Bolsonaro.
O filho zero três já atacou
colegas do partido, como Nikolas Ferreira (PL-MG) e Ana Campagnolo (PL-SC),
acusando-os de articular, com outros parlamentares mais jovens, uma tentativa
de “se livrar de Bolsonaro”. A
discussão mais recente foi com o governador de Mato Grosso, Mauro
Mendes (União Brasil).
Agora, com a prisão de Jair Bolsonaro e sem o tema ter sido
resolvido entre os filhos e a centro-direita, o bastão da corrida ao
Planalto cai no colo do senador Flávio
Bolsonaro (PL-RJ), o filho zero um. Dificilmente, porém, ele
conseguirá unir a direita em torno do seu nome.
A tendência é ver a fragmentação de candidaturas desse bloco
político que tem outros interessados na vaga como os governadores de Goiás,
Ronaldo Caiado (União), e do Paraná, Ratinho Júnior (PSD). Além disso, há temor
de que eventual investigação sobre o senador também inviabilize seu nome.
Na decisão que determinou a prisão de Bolsonaro, o ministro
Alexandre de Moraes deu sinais de que o senador pode ser alvo da Polícia
Federal. Ele apontou a vigília convocada por Flávio e o risco de fuga para
estabelecer a preventiva.
No texto, o magistrado aponta ainda o tom do vídeo publicado
pelo senador e ressalta “o caráter beligerante em relação ao Judiciário, em
reiteração da narrativa falsa no sentido de que a condenação do réu Jair
Bolsonaro seria consequência de uma ‘perseguição’ e de uma ‘ditadura’ desta
Suprema Corte”.
Prisão de Bolsonaro dificulta negociação dos palanques
estaduais
A composição de palanques estaduais também virou uma guerra
fratricida entre bolsonaristas. Pretensos candidatos desse campo político
reivindicam o título de “escudeiro mais fiel” e estremecem acordos. Uma vez
mais, é a família Bolsonaro que vai tomando o espaço.
Vereador pelo Rio, o filho zero dois Carlos
Bolsonaro impôs sua vontade de disputar o cargo de senador por Santa
Catarina e gerou crise com o governador Jorginho Mello e a deputada federal
Caroline de Toni. No Distrito Federal, a deputada federal Bia Kicis conseguiu
apoio de Michelle e do senador Flávio
Bolsonaro para lançar pré-candidatura ao Senado, ignorando acordo
anterior para apoio do grupo a Ibaneis Rocha (MDB), atual governador.


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