Leitura inicial do entorno de Tarcísio é a de que
movimento do filho de Bolsonaro faz com que governador saia, momentaneamente,
de foco
O anúncio de que o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) foi
escolhido para receber o apoio do pai, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), na
corrida ao Palácio do Planalto em 2026 foi visto com surpresa e cautela por
parte das lideranças de direita, que agora refazem cálculos. Fontes ouvidas
pelo Valor relataram um cenário de ceticismo, neste primeiro
momento, e o desejo de observar os desdobramentos. No núcleo duro do
bolsonarismo, contudo, as manifestações têm sido em tom de entusiasmo com a
hipótese.
No entorno do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas
(Republicanos), que vinha sendo tratado como o nome predileto de setores da
direita e do Centrão, a leitura inicial é a de que o movimento de Flávio faz
com que ele saia de foco, ao menos momentaneamente. Tarcísio foi avisado por
Flávio da decisão do ex-presidente antes de a informação vir a público, em
coluna do portal Metrópoles, na tarde desta sexta-feira (5). O presidente do
PL, Valdemar Costa Neto, confirmou a decisão da legenda no mesmo dia.
Dois dias depois, no domingo (7), no
entanto, Flávio admitiu que pode não levar a candidatura até o fim. "Eu
tenho um preço para isso. Vou negociar", disse, sinalizando que esse
"preço" seria a aprovação de uma anistia aos condenados por tentativa
de golpe de Estado, que poderia livrar o seu pai da prisão. Flávio afirmou
ainda que vai se reunir nesta segunda-feira (8) com dirigentes de partidos de
direita para tratar sobre sua candidatura.
Tarcísio é visto como o nome com maior possibilidade de
construir consenso para que a oposição ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva
(PT) tente se unificar ainda no primeiro turno, evitando uma pulverização de
votos. Os governadores de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil), e de Minas
Gerais, Romeu Zema (Novo), que têm pré-candidaturas lançadas, devem adaptar
suas estratégias caso Flávio esteja no páreo. Na sexta-feira, ambos confirmaram
que concorrerão à Presidência em 2026.
Aliados de Tarcísio endossaram nos bastidores, antes do
anúncio de Flávio, a defesa de que ele apostasse na tentativa de reeleição, na
expectativa de uma vitória tida como praticamente certa no Estado. Um dos
pontos repetidos pelos entusiastas desse plano era o de que Lula se mantém
competitivo e dispõe de um trunfo eleitoral que nenhum dos rivais possui, o
controle da máquina pública.
Segundo aliados de Tarcísio, a indicação de Flávio fará com
que o governador concentre sua energia na tentativa de reeleição, já que ele se
recusa a discutir qualquer plano nacional sem a bênção do ex-presidente. Os
próximos passos, nas palavras de um auxiliar, devem ser abraçar a
pré-candidatura de Flávio e oferecer um palanque forte para o aliado no Estado
de São Paulo em 2026. Essa mesma fonte, no entanto, pondera que a confirmação
da candidatura de Flávio ainda depende de uma série de fatores.
Para um dirigente de um partido de centro-direita que
acompanha as tratativas eleitorais em São Paulo, o movimento de Flávio soa como
precipitado, mas pode embutir um desejo da família de ocupar um vácuo político,
na intenção de manter uma mobilização popular em torno de Bolsonaro, agora
preso.
Governador de SP é visto como nome com maior possibilidade
de construir consenso
Interlocutores de Caiado e Zema especulam que os dois
ganharam um estímulo para manterem suas pré-candidaturas, já que as pressões
para que eles abram mão de concorrer em nome de Tarcísio devem arrefecer.
Caiado foi às redes pedir respeito à decisão de Bolsonaro e
dizer que ele tem o direito de “buscar viabilizar” Flávio - mas que seu plano é
continuar na disputa para ajudar a “tirar o PT do poder”.
Já Romeu Zema afirmou nas redes que a candidatura do senador
carioca “faz todo sentido”. “Quando anunciei minha pré-candidatura ao
presidente Bolsonaro ele foi claro: múltiplas candidaturas no 1º turno ajudam a
somar forças no 2º. Então faz todo sentido o Flávio apresentar seu nome à
Presidência. É justo e democrático”, escreveu o governador na sexta-feira (5).
Um conselheiro ligado a Zema faz, sob reserva, a avaliação
de que uma candidatura de Flávio, caso se efetive, tende a beneficiar
principalmente Lula, que teria a chance de rivalizar novamente com o sobrenome
Bolsonaro e explorar os índices de rejeição do eleitorado à família. Um dos
debates feitos na direita nos últimos meses é se a presença de um Bolsonaro
numa eventual chapa mais ajudaria ou atrapalharia.
Na última segunda-feira (1º), durante evento na capital
paulista, o secretário de Governo e Relações Institucionais do Estado de São
Paulo, Gilberto Kassab, afirmou que Tarcísio cometeu um erro ao “exagerar”
recentemente nos acenos a Bolsonaro e à agenda da família.
Em setembro, o governador chegou a chamar o ministro
Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), de “ditador”, ao
criticar o processo que tinha como alvo Bolsonaro e outros acusados de tramar
um golpe de Estado após as eleições de 2022.
Kassab, que é presidente nacional do PSD, disse que o
governador “não pode se apresentar como bolsonarista”, ao comentar uma possível
candidatura presidencial dele. O secretário, que sinalizava intenção de apoiar
Tarcísio na disputa presidencial, disse que o aliado poderia “perder a eleição”
se não se apresentasse como alguém de centro-direita e “um líder acima de
tudo”.


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