Carta de um policial militar ao governador do Estado de São Paulo
Excelentíssimo senhor governador, dirijo-me humildemente através
desta carta, para expressar ao senhor, a minha dor. Sou policial militar do
Estado de São Paulo e apesar de muito orgulho e prazer que sinto em poder fazer
o uso de uma farda e cumprir sempre meu trabalho com muita maestria, mesmo
ganhando pouco, venho tentando entender os últimos acontecimentos. E claro, não
estou falando sobre o PCC, pois já tenho um bom tempo de serviços prestados a sociedade
e com a experiência que adquiri não me restam dúvidas sobre a origem dos
ataques a nós policiais militares, ou seja, sabemos que desde antes de maio de
2006 o PCC planejou e planeja covardemente a morte de muitos de nós, onde não temos
chances para reagir.
E acredite senhor governador, perder um policial militar, é
perder uma parte da tropa. Temos consciência do quão grande e forte somos e constituímos
a união de homens tão valorosos, mas não somos respeitados e não estou falando
em sociedade, pois compreendemos o quão alienados são diante do conhecimento
real que deveriam ter afinal para alguns políticos, uma sociedade alienada é
bem mais interessante para ser manipulada.
A polícia militar do Estado de São Paulo é a maior polícia
deste país, nosso contingente é maior que qualquer exército da América Latina e
claro, deve ser vista como a melhor polícia do mundo, pois apesar de alguns
bons recursos que temos, trabalhamos em um país onde há leis muito brandas e um
sistema carcerário precário, a ponto de realmente ser impossível um indivíduo
depois de preso e ressocializar, sem falar na violência que há em nosso Estado, onde arriscamos demais
“secando gelo” pois, indivíduo não ressocializado
volta para o crime tornando-se cada vez mais violento.
Antes senhor governador, quem sofria com a falta de
segurança pública era a população, e agora a polícia também enfrenta
dificuldades com essa questão. O que será da população, em uma sociedade em que
a polícia morre nas mãos de bandidos? Durante esses dias em que perdi e enterrei
mais alguns dos meus irmãos de farda, perguntei-me o porquê de não ser admitido
um erro na administração da segurança pública? Trabalhamos tanto nessas operações
de saturação, cumprindo escalas extras, onde nossas famílias não descansaram um
minuto se quer.
Tudo está uma verdadeira loucura. Através da minha dor
expressa nesta carta, peço para que o senhor compreenda que se houver uma
mudança em nossos equipamentos, como viaturas e armamentos apropriados, um
salário decente, operações contínuas e bem planejadas para combater o tráfico
de drogas, sem essas escalas extras as quais o policial perde completamente a
atenção do serviço, correndo o risco de ser alvejado por um bandido, haverá uma
polícia melhor, pois não seremos vítimas de um estado omisso, e não precisaremos
enterrar nossos irmãos.
Já as questões das leis brandas e do sistema carcerário
precário, nós sabemos e temos consciência de que não depende só do senhor
resolver. Precisamos ser valorizados pelo seu governo e todos os outros que o
sucederão. Um policial militar valorizado rende o dobro. E quanto aos
atentados, peço-lhe encarecidamente para que o governo não nos veja como casos
isolados. Nós temos família, não somos um número, carregamos nosso nome no
peito. Tenha coragem senhor governador, “dê nome aos bois”, chama o problema
para o senhor e o “mate no peito”, porque em nosso dia a dia é assim que
fazemos.
Resolvemos inúmeras ocorrências, desde briga entre casal até
situações de bombas e reféns. Recorro ao senhor, porque sei que se desejar
resolver realmente nosso problema, conseguirá. O senhor é dono da empresa e por
favor, não seja responsável pela falência desta. O senhor antes de ser
governador do Estado é um cidadão, se não tomar providencia hoje, poderá
precisar de nós amanhã e talvez não tenhamos recursos para bem atendê-lo. Nós amamos
a nossa vocação. A nossa vontade de servir a sociedade, vem da ideia de que
podemos combater aquilo que nenhum homem comum suportaria. Quem vive para
proteger, merece respeito para viver.
Ass.: Policial Militar do Estado de São Paulo.
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