Por Gabriel Manzano, de O Estado de S.Paulo
Foi há uns oito anos, num voo entre São Paulo e Brasília,
que o então deputado Michel Temer (PMDB-SP ) pegou um guardanapo e rabiscou
ideias que lhe vieram à cabeça. Era um poeminha curto, e ele o guardou. Desde
então, foram tantos voos e tantos guardanapos que sua fama de poeta começou a
correr, discretamente, entre os amigos. Ajuntados em grandes envelopes, esses
frágeis papéis, alguns já amarfanhados, foram parar na editora Topbooks e o
resultado é Anônima Intimidade, um livro de 166 páginas que o vice-presidente
lança no dia 31, com ilustrações de Ciro Fernandes.
"Eu não sabia se os versos eram bons, mas os amigos me
diziam que sim", avisa o autor, que é também professor de Direito e dono
de bem-sucedida carreira no mundo jurídico - seu Elementos de Direito
Constitucional já vendeu mais de 200 mil exemplares. "Tive o privilégio de
conhecer a obra quando era um conjunto de rabiscos", diz seu velho amigo e
assessor Gaudêncio Torquato, cientista político e colunista do Estado.
"Outros amigos também apreciaram", diz Temer, "e o Carlinhos
gostou tanto que se ofereceu até para escrever o prefácio". Carlinhos,
amigo de décadas, é Carlos Ayres Britto, ex-ministro do Supremo Tribunal
Federal e também poeta nas horas vagas.
"Cada escrito representava meu eu interior se
exteriorizando", resume o autor de seus 120 poemas. E essas
exteriorizações vão desfilando em versos curtos, página por página. Às vezes,
num tom filosófico, como "O mundo não era eu/ Eu não era o mundo / Dois
estranhos contra a minha vontade / Convivendo". Em "Circo", ele
faz um balanço da vida: "Somos todos palhaços / Choramos no camarim / Para
alegrar-nos / No palco da vida".
Ele se dá momentos de exaltação amorosa: "Assim louco /
Vou à procura de ti / Do teu querer / Do amor, da entrega / No ato / E fora
dele / Desatino-me". Mais adiante, um olhar sobre o tempo: "Quando
parei para pensar / Todos os pensamentos / Já haviam acontecido". Mas
também há lugar para bom humor, neste trecho de "Assintonia", que ele
mesmo lê e ri: "Lamentavelmente as coisas andam bem / Por isso andam mal
os meus escritos".
O apoio crítico parece garantido. O amigo Torquato, que
muito o estimulou, define a poesia de Temer como "autêntica, concisa,
plena de agudas percepções". O imortal Carlos Nejar, que além da Academia
Brasileira de Letras integra a Academia Brasileira de Filosofia, saúda nele
"um jurisconsulto do verso, arquitetando metáforas, hipérboles, oxímoros,
símbolos".
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