A Folha publicou editorial ("Vale-populismo" )
crítico do Vale-Cultura (VC). Chama de "populismo" e promoção pessoal
e eleitoreira projeto de lei que buscava aprovação desde 2009. Com a
regulamentação do VC, empresas poderão passar R$ 50 a seus funcionários que
recebam prioritariamente até cinco salários mínimos (R$ 3.390) para gastarem em
cultura.
O Brasil nos últimos anos, com Lula e agora Dilma, tem dado
passos gigantescos para acabar com a miséria. Não preciso citar os números dos
que hoje comem nem dos que hoje entraram na classe média. O Bolsa Família,
trucidado pela oposição, hoje é comprovadamente um instrumento de erradicação
da pobreza.
O Vale-Cultura pode, sim, ser o "alimento da
alma". Por que não? Pela primeira vez o trabalhador terá um dinheiro que
poderá gastar no consumo cultural: sejam livros, cinema, DVDs, teatro, museus,
shows, revistas...
Lembro que, quando fizemos os CEUs (Centro Educacional
Unificado), na pesquisa (2004) realizada no primeiro deles, na zona leste, 100%
dos entrevistados nunca tinham entrado num teatro e 86%, num cinema. Quando
Denise Stoklos fez seu espetáculo de mímica, a plateia se remexia inquieta até
entender a linguagem e não se ouvir uma mosca no teatro, fascinado.
Fomento ao teatro, aquisição de conhecimento e bagagem
cultural! Não foi à toa que Fernanda Montenegro ficou pasma com a plateia dos
CEUs. Essas pessoas, se tiverem criado gosto, finalmente poderão usufruir e
escolher mais do que hoje podem. E os que não têm CEU têm televisão e conhecem
o que é oferecido para determinado público. Sabem também o que aparece no
bairro. E sabem que não podem ir.
Existe toda uma multidão de brasileiros (17 milhões) que
hoje ganha até cinco salários mínimos (R$ 3.390) que potencialmente poderão,
além de comer, alimentar o espírito. Este é um projeto de lei que toca duas
pontas: o cidadão que vai consumir e o produtor cultural que terá mais público
para sua oferta.
Quando chegarmos nesse potencial, serão R$ 7 bilhões
injetados na cultura. Nossa previsão é atingir R$ 500 milhões neste ano.
Em 2008, o Ibope realizou pesquisa sobre indicadores de
cultura no Brasil e mostrou que a grande maioria da população está alijada do
consumo dos produtos culturais: 87% não frequentavam cinemas, 92% nunca foram a
um museu; 90% dos municípios do país não tinham sala de cinema e 78% nunca
assistiram a um espetáculo de dança.
Segundo a Folha, estaremos incentivando blockbusters e
livros de autoajuda. Visão elitista. Cada um tem direito de consumir o que lhe
agrada. Não esqueço quando, visitando um telecentro, fiquei indignada que a
maioria dos jovens estava nos chats de um reality show. Fui advertida pela
gestora: "Esse é um instrumento que eles estão aprendendo a usar. Depois,
poderão voar para outros interesses. Ou não".
Não custa lembrar que a fome pelo acesso à cultura é enorme,
o que ficou evidente nas filas quilométricas na mostra sobre impressionistas
quando apresentada gratuitamente pelo Banco do Brasil.
O que a Folha também menosprezou é a enorme alavanca que o
VC pode representar e desencadear na economia. A cadeia produtiva da cultura é
o investimento de maior rentabilidade a curto prazo. Para uma peça de teatro,
você vai desde os artistas, ao carpinteiro, cenógrafo, vestuário, iluminador...
Quanto ao recurso ir para formação e atividades de menor
sustentação comercial, citadas como prioritários pela Folha, os editais do
ministério, os Pontos de Cultura, têm exatamente essa preocupação, assim como
os CEUs das Artes e Esporte que são, no momento, 124 em construção no país.
"A gente quer comida, diversão e arte." (Titãs)
MARTA SUPLICY, 67, é ministra da Cultura. Foi prefeita de
São Paulo (2001-2004), ministra do Turismo (2007-2008) e senadora (2011-2012)
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