Memória - Veja
Roberto Civita, diretor editorial e presidente do Conselho
de Administração do Grupo Abril, morreu neste domingo, às 21h41, no Hospital
Sírio-Libanês, em São Paulo, devido à falência de múltiplos órgãos, depois de
três meses internado para a correção de um aneurisma abdominal. Civita deixa a
mulher Maria Antonia, os filhos do primeiro casamento Giancarlo, Roberta e
Victor, além de seis netos e enteados. O velório acontece nesta segunda-feira,
27 de maio, a partir das 11h, no Crematório Horto da Paz, em Itapecerica da
Serra, São Paulo.
Memória - “Gosto de ser editor e o que eu sei fazer é
revista”, dizia Roberto Civita. Mesmo depois de 1990, quando a morte de Victor
Civita o levou a assumir o comando da Abril e chefiar o processo de
diversificação do grupo fundado pelo pai, ele nunca se afastou da atividade que
o seduziu definitivamente na década de 60, quando começou a por em prática os
conhecimentos assimilados anos antes, na sua segunda temporada nos Estados
Unidos. Nascido em Milão, Roberto Civita morou em Nova York de 1939 a 1949,
quando veio para São Paulo. O bom desempenho no Colégio Graded garantiu-lhe uma
bolsa de estudos nos EUA, onde percorreu, ao longo da década de 50, caminhos
que o levariam à descoberta da vocação profissional e à volta definitiva ao
Brasil.
Depois de interromper o curso de Física Nuclear na
Universidade Rice, no Texas, para diplomar-se em jornalismo e economia na
Universidade da Pensilvânia, Roberto Civita conseguiu um estágio na editora
Time Inc, que controlava as revistas Time, Life e Sports Illustrated. Durante
um ano e meio, familiarizou-se com todos os setores da empresa, da redação à
contabilidade. Em 1958, quando Victor Civita perguntou ao filho que acabara de
voltar o que pretendia fazer, ouviu a resposta que apressaria a entrada da
Abril no universo jornalístico: “Quero fazer uma revista de informação semanal,
como a Time, uma revista de negócios como a Fortune e uma revista como a
Playboy”, respondeu.
Pioneirismo - O pai prometeu preparar a empresa para o passo
audacioso, consumado em 11 de setembro de 1968, quando chegou às bancas a
primeira edição de VEJA. Roberto Civita participou intensamente das
experiências pioneiras que resultaram no lançamento de Realidade, Exame, Quatro
Rodas e Playboy. Mas nada o deixava mais emocionado que recordar a trajetória
descrita pela primeira revista semanal de informação do Brasil. Foi ele quem a
criou. E foi ele o primeiro e único editor de VEJA, hoje a maior publicação do
gênero fora dos Estados Unidos.
“Ninguém é mais importante que o leitor, e ele merece saber
o que está acontecendo”, lembrava aos recém-chegados. “VEJA existe para contar
a verdade. A fórmula é muito simples. Difícil é aplicá-la o tempo todo”.
Sobretudo em ambientes hostis à liberdade de expressão, aprendeu Roberto Civita
três meses depois do parto da revista. Em 13 de dezembro de 1968, a decretação
do Ato Institucional n° 5 transformou o que era um governo autoritário numa
ditadura militar sem disfarces. A capa da edição que noticiou o endurecimento
do regime exibiu uma foto do general-presidente Arthur da Costa e Silva
sentado, sozinho, no plenário do Congresso que o AI-5 havia fechado. Os chefes
militares não gostaram da imagem, e ordenaram a apreensão de todos os
exemplares. A essa violência seguiu-se a instauração da censura prévia, que só
em meados da década seguinte deixaria de tolher os passos de VEJA.
Nenhum comentário:
Postar um comentário