Por Leandro Loyola e Diego Escosteguy, com Flávia Tavares e
Marcelo Rocha, da revista Época
Na tarde do primeiro sábado deste mês, no exato dia em que a
Constituição da República completava 25 anos de vida, dois políticos adentraram
o auditório do Hotel Nacional, em Brasília, para anunciar a mais espetacular e
improvável aliança eleitoral desde a redemocratização do Brasil. Marina Silva,
exibindo ao país toda a força política de sua frágil figura num tailleur preto,
entrava no auditório com 20 milhões de votos, 500 mil assinaturas para o
partido que tentava criar e um carisma ainda impossível de medir em números.
Eduardo Campos, vestindo camisa social branca e calça jeans, não entrava apenas
com o frescor de sua juventude e a simpatia de seus olhos verdes. Levava também
um partido, tempo de TV, dinheiro, marqueteiros, palanques regionais e,
sobretudo, uma candidatura presidencial ambiciosa, ainda que neste momento
empacada nas pesquisas, construída minuciosamente para derrotar o PT de Luiz
Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff nas eleições que se aproximam. Separados,
os dois pareciam não ter chances reais de chegar ao Planalto. Juntos, podiam
sonhar.
Marina se sentia claramente vítima do partido que a acolhera
por quase três décadas. Atribuía ao governo do PT o fato de, dois dias antes,
não ter conseguido o registro eleitoral para o partido Rede Sustentabilidade.
Isso a obrigava a se filiar a outro partido, caso quisesse disputar as eleições
de 2014. “Não estamos pensando o processo político se resumindo a eleições,
ainda que elas sejam muito importantes. Estamos iniciando um processo de
governabilidade programática, em vez de uma governabilidade pragmática, que
privatiza pedaços do Estado para partidos. Estamos iniciando um processo para
fazer um realinhamento histórico e sepultar a Velha República!” A claque que
lotava o auditório irrompeu em aplausos e assovios. Algo mudara em Marina. Ela
falava com a indignação que só a raiva dá. Nas palavras e no semblante, havia
uma determinação que não se vira nas eleições de 2010. Campos podia ser o
candidato, mas era ela a estrela.
Em seguida, falou Campos, anunciado como “futuro presidente
da República”. “Nossa inquietação com tudo isso que está aí nos moveu. Aqui
estamos porque o Brasil espera de nós uma atitude que vá além do olhar
eleitoral”, disse ele sobre uma aliança que nasceu, bem, por causa das eleições
de 2014. O Brasil assistia ao vivo. O auditório do Hotel Nacional
transformara-se no palanque que dava início à imprevisível campanha
presidencial de 2014, precipitada pela pragmática união de dois políticos que
sonham em derrotar o governo. Se agora era vilipendiado por ambos, num passado
não tão distante, ainda nos tempos da Velha República, no dizer de Marina,
albergava-lhes confortavelmente. Nascia, portanto, um bicho político
inclassificável. Mas que, se vingar, mudará o jogo eleitoral no país,
impedindo, pela primeira vez em cinco eleições presidenciais, a disputa bipolar
entre PT e PSDB.
O bicho nasceu inteiramente da cabeça de Marina, ainda sob o
calor da derrota da Rede no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), na quinta-feira
anterior à apoteose política no Hotel Nacional. Era tarde da noite quando ela,
acompanhada de aliados, deixou a sede do TSE e se encaminhou para o apartamento
de uma amiga, onde cerca de 40 colegas da Rede a esperavam. Alguns choravam. O
clima era de desânimo e derrota. Sem o registro da Rede, Marina e seus aliados
perdiam a plataforma que haviam construído para a campanha de 2014. O que
fazer? Era quase meia-noite quando Marina, já com a ideia de se aliar a Eduardo
Campos fervilhando na cabeça, estimulou o início de um debate para decidir o
destino dela e da Rede. Restavam menos de 48 horas para o encerramento do prazo
de filiações. Qualquer decisão teria de ser tomada rapidamente.
Trecho da reportagem de capa da revista ÉPOCA desta semana.
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