É intolerável a situação que vivemos em anos eleitorais,
marcados por uma degradante agressão verbal contra candidatos e lideranças
políticas. Não bastassem a indústria dos dossiês, as notinhas maldosas nos
jornais e as "reportagens" encomendadas para expor fraquezas reais ou
inventadas, temos agora a guerrilha virtual que cria territórios inóspitos na
internet. Calúnia, difamação, injúria e ofensas formam uma espécie de enxurrada
que arrasta o Brasil para o atraso onde prosperam várias modalidades de protofascismo.
Todos sabemos quem são os responsáveis por essa guerra. Eles
estão na direção dos partidos mais poderosos, cujos militantes, geralmente
remunerados, seguem sua pauta e comando no ataque aos alvos definidos. E chamam
isso de tática e estratégia numa disputa supostamente ideológica entre esquerda
e direita.
No final, todos perdem. O Brasil é derrotado. Quando as
multidões foram às ruas no ano passado disseram claramente: essa política não
nos representa. Na verdade, os que a fazem não representam nem a si mesmos. Não
adianta ficarmos dois ou três anos nos tratando com cortesia diante das câmeras
e preparando novos ataques para o período eleitoral.
Também sobre isso o Brasil necessita de um acordo, um pacto
de não agressão. Críticas e divergências expostas com firmeza e veemência
ajudam. Ninguém precisa ficar melindrado, o debate é próprio da democracia. Mas
a linguagem chula dos desaforos anônimos ou "fakes" não devem ser
estimulados nem acobertados. Assumimos um compromisso assim em 2010 e o levamos
a cabo durante toda a campanha, insistindo que era um debate, não um embate.
Por isso sei que é possível.
As cenas de violência que vemos nos presídios e nas ruas, o
drama de milhões de pessoas nas enchentes, o caos do transporte urbano, tudo
isso nos mostra a realidade e a urgência da crise civilizatória e deveria ser
suficiente para nos dar um mínimo de consciência. Quem sabe, até um novo
sentimento que, como ouvi do psicanalista Ricardo Goldenberg, tenha menos culpa
e mais vergonha.
Ainda há tempo para o entendimento. A primeira condição é
que os dirigentes assumam a responsabilidade, que de fato têm, sobre a ação de
seus companheiros. A segunda é de que a decisão de manter o bom nível seja
incondicional, nada de "responder na mesma altura", quer dizer, na
mesma baixeza. O foco deve estar nas ideias e propostas.
Lembro de antigas campanhas, com Lula e o PT enfrentando
calúnias e preconceitos em boatos, panfletos apócrifos e pichações nos muros.
No Acre, pelos idos dos anos 90, criamos uma "campanha de limpeza da
campanha" para combater a baixaria. Precisamos de uma assim, no Brasil.
Marina Silva, ex-senadora, foi ministra do Meio Ambiente no
governo Lula e candidata ao Planalto em 2010. Escreve às sextas na versão
impressa da Folha de S. Paulo.
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