domingo, 28 de dezembro de 2014

O TRISTE ADEUS A CID GOMES

Por Yuri Leonardo e Henrique Araújo, O Povo
Sobre como o cearense segura o choco na hora da partida  
É com banzo indisfarçável que o alencarino vê aproximar-se o fim da era Cid Gomes. Nunca antes na história do Ceará um gestor concluiu oito anos de governança colecionando uma lista interminável de episódios cujo denominador comum é a absoluta falta de pudor. Em dois mandatos consecutivos, Cid flertou com o abismo ao dar uma tainha do capô de um jipe e deixou a vergonha de lado ao saltar de tirolesa no Cocó. Sucessor no trono estadual, Camilo Santana terá dificuldade para ombrear os trabalhos do tutor.
Do incrível voo da sogra, cartão de visitas do governador, ao bufê com bombinhas de camarão no Palácio Iracema, passando por shows para inaugurar equipamentos públicos, a gestão do engenheiro civil prodigalizou o que há de anedótico na política.
O irmão do meio do clã Ferreira Gomes transformou a performance em capital eleitoral. Como numa peça de Zé Celso Martinez Corrêa, termina o ano com um soft power de fazer inveja. Ninguém antes dele fez a perigosa mistura de gestão pública com talk show.
Diferentemente do que os analistas imaginam, não foram os bons resultados na educação que levaram Cid ao ministério de Dilma, mas a carreira desabalada que o governador empreendeu em um aeroporto na Bahia. Ali, ao quase provocar um acidente, ele convenceu a presidente de que era merecedor de um posto na Esplanada dos Ministérios.
A aventura aérea ilustra uma constante na vida pública do ainda governador: a performance como extensão da política e a política como gesto cômico. Nesse campo, o sobralense foi imbatível. Seja pilotando um carro com o filho no colo sem usar cinto de segurança, seja mergulhando no tanque de uma adutora, Cid demonstrou voluntarismo na resolução dos problemas do Estado.
Como no dia em que, feito um cacique, procurou os ocupantes do Cocó na crise dos viadutos, pediu licença e sentou num tronco de carnaubeira. Em seguida, passou a desenhar na areia um esboço do projeto a ser levado adiante pela Prefeitura de Fortaleza. Ou quando, nas eleições de Roberto Cláudio e de Camilo, aboletou-se no lombo de uma motoneta pelas ruas da cidade à cata de votos para os pupilos.
Se a opção por Hilux com tração nas quatro rodas e bancos de couro para equipar a PM, ainda no início da gestão, pressagiava um governo extravagante, o projeto de construção do aquário na Praia de Iracema não deixa dúvidas: Cid Gomes imprimiu uma marca no Ceará. Como as fachadas das novas delegacias, o símbolo tem dupla leitura: moderno por fora, arcaico por dentro.
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