Por Bernardo Mello Franco, da Folha de S.Paulo
BRASÍLIA - A imagem salta à memória a cada vez que o
ex-presidente Lula repete, de peito estufado, que os poderosos acusados de
desviar dinheiro público nunca iam para a cadeia até a sua chegada ao Planalto.
Em uma pista de pouso do interior do país, um homem corpulento,
de cabelos tingidos de preto-graúna, caminha sob a escolta de policiais
federais. A mão direita segura um livro na horizontal, truque improvisado para
esconder as algemas nos pulsos. O preso ilustre era Jader Barbalho, investigado
por desfalques milionários na Sudam (Superintendência do Desenvolvimento da
Amazônia). A foto foi tirada em 2002, último ano do governo Fernando Henrique
Cardoso.
Jader integra um time de políticos que submergiram sob
acusações de corrupção e, depois de amargar uma temporada nas profundezas,
voltaram à tona na era Lula. Assim como Fernando Collor, o paraense foi
reabilitado após esquecer as rixas com o PT e se tornar um defensor de seus
interesses no Senado. A conversão acaba de ser recompensada. Seu filho Helder,
35, foi convidado pela presidente Dilma Rousseff para assumir o Ministério da
Pesca.
Além de amarrar o apoio de um velho cacique do PMDB, a
escolha atende a outra função da reforma: dar emprego a aliados derrotados nas
urnas. A exemplo de Eduardo Braga (Minas e Energia) e Armando Monteiro Neto
(Desenvolvimento), o jovem Barbalho perdeu as eleições de outubro. Foi
rejeitado na corrida ao governo do Pará, apesar da máquina do pai e do apoio de
Lula na TV.
A nomeação do filho de Jader ainda contém um ingrediente de
ironia. No escândalo da Sudam, que se arrasta até hoje no Supremo Tribunal
Federal, o senador foi associado ao desvio de recursos liberados para um
ranário mantido por sua ex-mulher em Belém.
Como ministro, Helder vai comandar a distribuição de verbas
federais para a criação de peixes, crustáceos, moluscos, rãs e jacarés.
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