As primeiras semanas de trabalho de Cunha, eleito para o
cargo no dia 1° de fevereiro, guardam semelhanças com a mitologia de Momo, deus
sarcástico banido do Olimpo depois de tanto criar confusões. O presidente da
Câmara levou a plenário e aprovou projeto que gera despesas fixas de pelo menos
R$ 9,6 bilhões anuais para o governo com o pagamento de emendas parlamentares.
O Orçamento Impositivo, como é conhecido esse mecanismo, é um pleito antigo de
deputados e senadores, mas até a gestão Cunha se evitava levar adiante uma
afronta tão forte ao governo. Ele também não se acanhou em ler o ato de criação
de uma nova CPI da Petrobras, comissão que se empenhará nas investigações do
esquema de propina que atingem em cheio o PT e a base governista. Cunha ainda
deixou no ar a possibilidade de mobilizar o PMDB e seu bloco majoritário para
disputar os postos de presidente e relator da CPI, monopolizando assim os
trabalhos de apuração.
Esse foi só o início das mensagens de inauguração do
carnaval legislativo. Nesse ritmo, Cunha vai ter em sua administração mais
contatos com os 39 ministros do que a presidente Dilma Rousseff. A Casa aprovou
na última semana a convocação de todo o primeiro escalão governista. Farão
rodadas de apresentações que ocorrerão às quintas-feiras. Um calendário está
sendo elaborado para definir a ordem das sabatinas. Os ministros terão que
guardar espaço na agenda, pois o chamamento é compulsório. É convite para não
ser deselegante logo de início, mas quem não comparecer será convocado, avisou.
A medida vai afetar a vida dos parlamentares, que geralmente registram presença
na manhã da quinta-feira e embarcam para seus Estados de origem. Como a
comissão geral é realizada em plenário, a exposição dos ministros será
transmitida pela TV Câmara e a população saberá se seu representante está ausente.
As travessuras de Momo atingiram ainda a principal bandeira
do PT para se reconciliar com a sociedade. Desde o escândalo do mensalão, o
partido tenta emplacar no Congresso um modelo de reforma política que
privilegia alteração no método de financiamento de campanha.
O PT insiste em barrar doações de empresas privadas e alega
que as eleições patrocinadas com recursos públicos podem ser mais equilibradas.
Mas Cunha se apressou em montar uma comissão para analisar o modelo contemplado
pela PEC 352/2013, que prevê o fim da reeleição para presidente, governadores e
prefeitos, extingue o voto obrigatório e adota um sistema misto (privado e
público) para o financiamento de campanhas. A bancada do PT avisou que votará
contra o projeto.
As extravagâncias políticas do peemedebista permitiram, até
mesmo, que ele apoiasse um cabo eleitoral do senador Aécio Neves (PSDB-MG) –
adversário de Dilma nas eleições – para liderar o PMDB na Câmara. Aecista
declarado, Leonardo Picciani (PMDB-RJ) comandará a bancada de 68 parlamentares
em um ano em que a presidente Dilma dependerá da base para aprovar projetos
imprescindíveis para o governo. Esse Momo...
Da ISTOÉ
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