“Unhas e dentes” à parte, Dilma Rousseff começou a fazer
contas para segurar-se na Presidência da República. A reunião com líderes
aliados foi para computar votos na Câmara. Sua sobrevivência depende de 172
deputados com os quais ela possa contar até no mais fundo dos poços. Fernando
Collor caiu porque ficou reduzido a míseros 38. Em 29 de setembro de 1992, 441
votaram pela abertura do processo de impeachment. Bastavam 342.
Os números evidenciam o pragmatismo dos deputados. Em
situações extremas, a Câmara tem comportamento da manada. Raros votam com sua
“consciência”. A maioria migrará para o lado que tiver mais chance de ganhar.
Questão de sobrevivência: alinhar-se com a oposição em questão de vida e morte
para o governo é abrir mão de qualquer cargo e verba. Não tem volta. E votar
com o governo que por ventura cair dificulta usufruir daquele que vai entrar.
Todo o palavrório sobre “golpe” e “golpismo”, tanto por
parte do governo quanto da oposição, seria desperdício de tinta e bytes se não
tivesse um efeito simbólico para os deputados: sinaliza que ambos os lados
estão dispostos a ir até o fim no seu propósito de ficar na cadeira
presidencial ou de desocupá-la.
Isso é especialmente importante para Dilma. A qualquer sinal
de dúvida ou fraqueza, a manada pode correr para o lado da oposição. Os
deputados estão todos com orelhas e narinas alertas, como um bando de zebras
auscultando leões.
A consequência fundamental da reunião de Dilma com os
aliados na segunda-feira passada foi a declaração de apoio de PT, PMDB, PSD, PC
do B, PDT, PRB, PR e PROS. Eles somam 262 deputados, hoje. Segundo o artigo 51
da Constituição, cabe privativamente à Câmara autorizar, por dois terços de
seus membros, a instauração de processo contra o presidente e o vice. Dois
terços de 513 dá 342 votos. Logo, 172 deputados é o mínimo que qualquer
presidente precisa – sempre – para não ir mais cedo para casa.
Os 262 deputados dos oito partidos que se declararam
governistas implicam, em tese, 90 votos a mais do que a presidente precisa para
garantir-se no cargo. Está longe de ser “moleza”. Em primeiro lugar, porque a
base do governo é movediça: só 131 deputados votaram 90% das vezes nesta
legislatura seguindo a orientação do governo – e a maioria deles é do PT.
Ter o apoio formal de outros partidos, portanto, é condição
necessária à sobrevivência de Dilma. Mas não suficiente. Nem todos os deputados
seguem a orientação do seu líder partidário. Haverá defecções.
Computando-se apenas aqueles deputados que votaram 90% das
vezes de acordo com a orientação do líder de seu partido ou que seguiram o
líder do governo em 80% das votações nominais neste ano, os 262 caem para 203.
A margem de segurança de Dilma ficaria reduzida de 90 para 31 votos.
Acrescente-se aí outro fator de incerteza: os partidos podem mudar de lado.
A deserção da liderança do PMDB, por exemplo, implicaria
Dilma perder 39 votos de deputados fiéis a ela ou ao líder do PMDB. Já seria
fatal para sua contabilidade. Com o agravante de que o PMDB tem um peso
institucional extra por presidir a Câmara e o Senado, além de ter o
vice-presidente, Michel Temer. Se os peemedebistas se bandearem para a tese do
impeachment, outros partidos tendem a segui-lo. Zebras e leões.
Logo, é praticamente impossível para Dilma segurar-se no
cargo sem o apoio do PMDB. Mas pode não bastar. Nas simulações e modelos estatísticos
desenvolvidos pelo Estadão Dados, outro partido é sempre um bom termômetro das
votações na Câmara: o PSD. Se o partido do ministro das Cidades, Gilberto
Kassab, mudar de orientação, não seriam só 24 deputados fiéis a menos. Seria um
sinal forte demais para a manada parlamentar ignorar.
Ao final das contas, para manter seu mandato, Dilma
precisará manter PMDB e PSD do seu lado. Custe o que custar.
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