Se tenho com frequência comentado aqui, nesta coluna, os
problemas que envolvem Lula, Dilma e o PT, é porque esse problemas, por
envolverem o governo e a situação do maior partido político do país, dizem
respeito a nosso presente e ao nosso futuro.
Não se trata, portanto, de meramente criticar os atuais
detentores do poder político do país. A verdade é que algo de muito importante
está acontecendo, e que sem dúvida alguma preocupa Lula, como o líder desse
partido e responsável por seu futuro.
Essa é razão por que, em recentes ocasiões, ele falou da
necessidade de renovação dos quadros dirigentes do PT e da pregação de novas
utopias que -segundo ele- caracterizaram o surgimento e o crescimento do
Partido dos Trabalhadores.
Não resta dúvida de que o PT, ao ser fundado em 1980,
prometia uma mudança radical na vida política brasileira, que ainda estava
submetida à ditadura militar. Mas não só isso; no seu manifesto de fundação,
soavam alusões ao manifesto comunista de 1848, o que indicava a visão
ideológica dos seus fundadores, a maioria deles admiradora da revolução cubana.
Aconteceu que, não muito depois, o sistema soviético
desabou, tornando praticamente insensato acreditar numa cubanização do Brasil.
De fato, o fim da utopia marxista levou à desativação de
quase todos os partidos comunistas no mundo inteiro. O PT, a exemplo de outros
partidos latino-americanos, tomou o caminho do populismo, como já observei
nesta coluna. Não por acaso, Lula mudou seu discurso, abandonou a postura de
feroz agitador para tornar-se o Lulinha, paz e amor. De suposto líder da
revolução operária, passou a ser o defensor dos pobres contra os ricos, enfim,
o presidente do Bolsa Família.
Como se não bastasse, passou a comprar deputados de sua base
parlamentar, a fim de assegurar-se de seu apoio sem ter de ceder-lhes
ministérios e cargos importantes das estatais. Isso é o que se soube com o
escândalo do mensalão, mas o pior estava por vir e se revelou graças à Operação
Lava Jato: o assalto aos cofres da Petrobras.
Por outro lado, tendo de deixar a presidência ao fim do
segundo mandato, inventou para suceder-lhe a figura de Dilma Rousseff, que
nunca havia sido eleita nem vereadora, e a elegeu presidente da República,
certo de que, ao fim de quatro anos, seria eleito para o cargo.
Só que Dilma, que ama o poder acima de tudo, não lhe deu
essa chance: candidatou-se de novo e foi reeleita. Para consegui-lo, gastou
tanto dinheiro durante seu primeiro mandato que, ao chegar ao fim dele, o país
estava à beira da falência.
Era o que diziam os candidatos de oposição, enquanto ela os
acusava de serem mentirosos, garantindo que a economia do país ia às mil
maravilhas. Mas, após assumir o novo mandato, teve que reconhecer a verdade do
que diziam seus adversários.
E estamos assim, agora, cortando as verbas de todos os
ministérios, aumentando o custo de vida e nas mãos de uma inflação crescente.
Quase 70% dos eleitores a avaliam como ruim ou péssima. É vaiada aonde chega.
E a perspectiva é o agravamento da crise econômica.
Essa é a razão por que Lula agora diz verdades que sempre
negou.
E mais, que ele, Dilma e o PT perderam o prestígio na
opinião pública. Para as eleições de 2018, o PT só tem a ele como possível
candidato à presidência, mas, na última pesquisa, perdia para Aécio Neves.
E a crise ainda não chegou a seu ápice. Novos escândalos se
anunciam e o próprio Lula, depois da prisão dos chefões das empreiteiras, teme
a chegada da sua vez. É ele quem o diz.
E aí se entende por que apela para que o PT se recupere e
alardeie novas utopias. Mas quais? Voltar ao PT ideológico de 1980? Como, se
foi o Lula mesmo que trocou a utopia pelo Bolsa Família? Talvez seja a utopia
do Instituto Lula, que diz lutar contra a fome - não só no Brasil, mas no
mundo! Como? Fazendo palestra em troca de muitos milhares de dólares.
Nos seus últimos pronunciamentos, atribuiu a culpa do
desastre petista à inoperância do partido e à teimosia de Dilma, que não ouve o
que ele diz. E ele, Lula, tem alguma culpa nesse desastre? Não, não tem culpa
nenhuma, embora Dilma tenha sido uma invenção sua.
Ferreira Gullar é cronista, crítico de arte e poeta.
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