Da Exame
São Paulo – “A incompetência, a arrogância e a corrupção
esmagaram a magia brasileira”. É assim, sem meias palavras, que o jornal
britânico Financial Times começa uma dura análise sobre a condição atual do
Brasil. O problema: o pior ainda está por vir, nas palavras da publicação.
Com o título “Recessão e corrupção: a crescente podridão no
Brasil”, o texto publicado nesta quarta-feira destaca os fatores que levaram o
Brasil a virar “um filme de terror sem fim”.
O primeiro deles é o método desastroso que perseguiu as
decisões econômicas do primeiro mandato da presidente Dilma Rousseff, que, nas palavras do jornal, manipulava a
economia com sua “nova matriz econômica”.
Para reparar os erros do passado, o governo Dilma tem
adotado medidas corretivas “dolorosas, mas necessárias” que como efeito têm
reduzido os salários reais, “cortado empregos e esmagado a confiança nos
negócios”, além de levado a petista a um pífio desempenho nas sondagens de
opinião pública.
Mas, para a publicação, o que mais pesa na atual delicada
situação do Brasil é o escândalo de corrupção na Petrobras.
“A senhora Rousseff enfrenta acusações de que sua gestão
quebrou regras de financiamento de campanha e que maquiou as contas do governo;
ambas [acusações] são suficientes para um impeachment”.
O Financial Times pondera que, pelo menos por enquanto, os
políticos preferem que Dilma se mantenha no poder e ganhe o crédito pelos
problemas do país.
“Mas este cálculo pode mudar ao passo que eles precisarem
salvar a própria pele”, diz o texto.
Para o jornal, o rompimento do presidente da Câmara, Eduardo Cunha, com
o governo na última sexta seria uma prova disso.
O cenário deve piorar se o ex-presidente Luiz Inácio Lula da
Silva for alvo de processo por envolvimento no esquema de corrupção.
“Isso aprofundaria o racha entre ele e Rousseff”, diz o
jornal. Se isso se concretizar, todos os fatores conspirariam para a deposição
da presidente, na opinião da publicação.
Mas nem tudo são más notícias no país, diz o jornal. O texto
argumenta que o zelo pela Petrobras mostra o quanto as instituições
democráticas são fortes no Brasil.
“Em um país onde os poderosos pensam que estão acima da lei,
Marcelo Odebrecht, chefe da maior empresa de construção do Brasil, está preso”,
afirma o texto.
O jornal pontua que, se por um lado, o aprofundamento das
investigações da Operação Lava Jato tem preocupado investidores, por outro, se
“isso levar políticos e empresários a pensar duas vezes antes de pagar suborno,
este terá sido o maior avanço da luta da região [América Latina] contra a
corrupção”, diz a publicação.
Enquanto esta história não chega ao seu desfecho prático, o
jornal prevê ao menos mais três anos solitários para a presidente Dilma.
“Os brasileiros são pragmáticos, então, o pior cenário de um
impeachment caótico será evitado”, afirma. “Mesmo assim, o mercado tem começado
a cobrar o preço pelo risco”.
Conclusão: o pior ainda pode estar por vir para o Brasil, na visão do Financial Times.
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