quinta-feira, 24 de setembro de 2015

FRASE MISÓGINA

"Queria ser estuprada". Esta foi a frase de um vereador de Viçosa dita na Tribuna da Câmara Municipal no dia 15 de setembro, em relação a participante de uma festa na cidade. Segundo o vídeo que está na internet, Helder Evangelista (PHS) respondia a um discurso da estudante Indyra Giácomo, membro do Coletivo de Mulheres Vacas Profanas, da Universidade Federal de Viçosa (UFV). A estudante tinha ido ao plenário falar sobre casos de violência ocorridos na festa nos dias 5 e 6 de setembro. Nesta terça-feira (22), o grupo e outros movimentos estudantis foram à Câmara Municipal manifestar repúdio ao comentário do parlamentar.
Ao G1, o vereador lamentou a proporção que a fala tomou e disse que defende o gênero feminino. Já a Câmara Municipal não se manifestou, justificando que o que o vereador disse foi pessoal e não institucional.
Sobre a denúncia da estudante de violência na festa no começo do mês, a assessoria da Polícia Militar (PM) de Viçosa informou que não houve registro de nenhuma ocorrência envolvendo assédio, estupro ou crimes contra a mulher nos dois dias do evento. E orientou  que as vítimas entrem em contato com a PM ou com a Polícia Civil para registrar as ocorrências. Já a Polícia Civil informou que há um caso de estupro em que uma jovem de 27 anos foi atacada na festa e estuprada pelo ex-namorado. No entanto, o registro foi feito dois dias depois, quando a vítima procurou o hospital.
Em nota enviada ao G1, a organização do evento informou que durante o planejamento da festa foram feitas reuniões com a Polícia Militar e outros órgãos para discutir a segurança do local e que, além disso, a Policial Civil esteve presente. Com relação aos casos denunciados, consta na nota que após o primeiro dia do evento a organizadora tomou conhecimento nas redes sociais do relato de uma mulher que disse ter sido agredida com canecas por homens que ela não quis beijar e que assim que soube fez uma nota de repúdio e respondeu ao fato na própria página do Facebook. De acordo com a nota, também houve contato da organização com a pessoa que sofreu as agressões se colocando à disposição.
A organização disse, ainda, que tomou ciência nos últimos dias do caso de uma menina que foi agredida no banheiro, retirada do evento e depois estuprada e que sobre o caso busca informações com a Polícia Civil.
Discurso
Na semana passada, a estudante Indyra Giácomo relatou na Câmara três casos de violência contra as mulheres nos dois dias da festa, disse aos presentes que as atitudes eram recorrentes e pediu o apoio dos parlamentares para combater os atos. Contudo, o Coletivo Vacas Profanas não deu informação sobre as possíveis vítimas.
Logo em seguida, subiu à tribuna o vereador do PHS, que opiniou sobre a festa. "Queria cumprimentar a Indyra, que falou sobre a festa, mas só lembrá-la que tem uns vídeos e fotos rolando pela internet que são uma coisa horrorosa. Coisa horrorosa”, comentou.
O vereador completou com a frase que causou revolta aos grupos feministas. “Ela disse aqui que teve uma pessoa que foi estuprada, uma coisa do tipo, violentada. Ela não disse isso? Parece que disse isso, não foi? Mas o vídeo que eu vi parece que a cidadã não estava se importando não. Acho que ela queria realmente ser estuprada”, disse.
Após a fala na Câmara, na última segunda-feira (21) o vídeo com o pronunciamento do vereador se tornou público e foi postado e divulgado pelo Coletivo Vacas Profanas. O G1 conversou com a militante do Coletivo, Isabella Leal, que afirmou que o objetivo dos estudantes é cobrar um posicionamento por parte dos outros vereadores e chamar atenção para a cultura de machismo atual e para a necessidade de criação de medidas educativas.
“Estamos cobrando ações sobre esta festa e outras com bebida liberada. Queremos que os organizadores desses eventos, já sabendo que ocorre violência, façam propagandas de conscientização e respeito com as mulheres, que tenham ações coletivas”, disse.
Leal disse que algumas dessas ações são simples, não custam nada e podem trazer o assunto à tona, além de desmistificar os atos violentos.
“Essa festa traz uma cartilha de comportamento que pune quem joga bebida para cima com a expulsão do evento, por exemplo. Agora, mulheres são agredidas e os agressores ficam na festa. Então, precisamos trazer esse debate à mídia porque fazer esta conscientização é importante para a desconstrução do machismo que está aí”, afirmou.
A militante disse que o grupo vai esperar a próxima sessão da Câmara para prosseguir com o processo. “Foram pelo menos três casos de violência na festa. São garotas agredidas com canecas, círculos de homens para assaltar mulheres, além do assédio sexual. A partir do posicionamento do vereador e dos outros integrantes da Câmara, vamos ver o que pode ser feito para dar continuidade”, finalizou.
A íntegra da reunião está disponível no site da Câmara Municipal de Viçosa, assim como uma matéria sobre o discurso da estudante Indyra Giácomo relatando os casos de violência na festa.
A assessoria da Câmara, que faz o papel de porta-voz do vereador, afirmou que o parlamentar “lamenta que a fala tenha tomado tamanha proporção e que ele sempre foi muito preocupado com a bandeira da mulher, se colocando contra qualquer ato de violência de gênero”. Disse ainda que não houve a intenção, por parte dele, de ofender a qualquer movimento ou grupo.
A assessoria disse, ainda, que o posicionamento acima é do vereador, visto que ele usou a tribuna para fazer uma fala pessoal, não institucional. Por isso, a Câmara entende que até o momento não houve necessidade para que o órgão se posicionasse, mas que fará isto assim que necessário.
Estupro
De acordo com a assessoria da Polícia Civil, em Belo Horizonte, houve o registro de um caso de estupro dois dias depois da festa. Segundo o Boletim de Ocorrência (BO), a Polícia Militar foi acionada no Hospital São Sebastião, onde uma jovem de 27 anos era atendida. Ela contou que no sábado (6) recebeu uma mensagem do ex-namorado de 20 anos, que a chamava de “vagabunda, piranha” e dizia que “ela teria uma surpresa”. Na mesma noite, ela foi para a festa com um “ficante”.
No evento, enquanto o rapaz foi buscar uma bebida, ela foi ao banheiro, onde foi abordada e agredida pelo ex-namorado. Ela desmaiou e ele aproveitou para retirá-la da festa e levá-la para a casa dele.
Ainda conforme o relato da vítima, ela acordou na madrugada de segunda-feira (7) e percebeu que estava sem roupas e que ele teria aproveitado para ter relações sexuais com ela. Ao ver que ela tinha recuperado a consciência, o rapaz devolveu os pertences dela e a deixou ir embora.
A jovem também disse que por volta das 12h de segunda-feira voltou à casa do acompanhante para pegar a moto e foi seguida pelo ex-namorado. Ainda neste dia, ela disse que recebeu outra mensagem do ex-namorado dizendo que estava arrependido do que tinha feito.
A ocorrência foi registrada na manhã de terça-feira (8). No Boletim de Ocorrências consta que a jovem foi orientada a procurar a Delegacia de Polícia Civil, onde foi aberto um inquérito para apuração e instaurado um pedido de medida protetiva para a vítima. Como passou o período de flagrante, o ex-namorado está em liberdade.
Do G1, Zona da Mata
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