Sem apoio majoritário do Congresso, dos trabalhadores, dos
empresários, dos funcionários públicos e dos movimento sociais para o seu novo
pacote, a presidente Dilma Rousseff fez o de sempre: chamou o Lula! Ou será que
o ex-presidente é que se escalou para dar mais um dos incontáveis conselhos que
entram por um ouvido e saem pelo outro de sua pupila?
O fato é que Lula não tem mais apenas comichões e urticárias
diante dos erros políticos, econômicos e de gestão de Dilma e do seu governo.
Ele disfarça razoavelmente, mas agora está à beira de um ataque de nervos, à
beira de um colapso, vendo o barco afundar e, pior, afundando com o barco.
Dilma pode estar mal informada sobre Lula, mas Lula está
muitíssimo bem informado sobre Dilma, as brigas internas do governo, o
zigue-zague das decisões, a insistência da sucessora em menosprezar todos os
sinais óbvios de que a coisa está feia na economia e principalmente na
política.
O ministro do Planejamento, Nelson Barbosa, é uma das pedras
no sapato do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, e, apesar de tão dilmista
quanto Aloizio Mercadante, Edinho Silva, Miguel Rossetto, Ricardo Berzoini e
José Eduardo Cardozo, ele vive de ti-ti-ti com Lula, ou diretamente ou via
algum companheiro confiável. Quem conhece a história sugere consultar a agenda
do Instituto Lula em São Paulo, sobretudo às sextas-feiras. Se é que isso entra
na agenda formal.
Nessas conversas, ardem muitas orelhas, principalmente a de
Levy, mas talvez a mais ardida seja sempre a de Mercadante. Teimoso, chegado a
desafios e à competição, Lula parece não descansar enquanto não sacá-lo da Casa
Civil para jogá-lo no ostracismo. Dilma vem resistindo, mas até quando?
Lula tira, lula põe. Pelo menos insiste em tentar tirar e
por. Queria porque queria Henrique Meirelles para a Fazenda, perdeu para Levy.
Agora quer porque quer trocar Mercadante por Cesar Borges, que foi do grupo de
Antonio Carlos Magalhães e ex-governador da Bahia pelo PFL/DEM. Trata-se de um
homem sensato, afirmativo e mais técnico do que partidário, numa hora em que
Dilma tem de estar acima de partidos.
Lula, porém, precisa combinar com os adversários,
especialmente com a adversária Dilma, porque, como se lê nas páginas, se ela
realmente rifar Mercadante, dará preferência a Kátia Abreu, atual ministra da
Agricultura, líder ruralista, mulher forte e batalhadora como Dilma e fiel à
presidente, algo que parece estar se tornando cada vez mais raro.
Kátia Abreu, porém, tem dois inconvenientes graves. Um é que
ela, como ruralista, será imediatamente rejeitada pelo MST e pelo que resta
governista das bases sociais do lulismo, já indóceis com Levys, pacotes e
ajustes. Outro é que circulam fartamente nas redes sociais as fotos dela,
quando ainda era DEM (hoje é PMDB) – e, portanto, de oposição – comemorando,
feliz da vida, a derrubada da CPMF. Teria mudado de ideia?
De duas, uma, já que a recriação da CPMF é o coração do
pacote anunciado há poucos dias e já todo desvirtuado na outra ponta, a do
corte de gastos: ou Dilma desiste de nomear Katia Abreu para a Casa Civil ou
desiste do pacote de Levy, o que equivale a dizer do próprio Levy. Isso, aliás,
vem sendo mais e mais cogitado no centro e nos arredores do lulismo, como
mostrou ontem o Valor Econômico.
Com a palavra, a presidente da República, que continua
produzindo um erro atrás do outro, confundindo aliados, irritando as bases
sociais do PT, enlouquecendo o setor produtivo e, assim, abrindo rombos no
casco do próprio barco. Que, por mais que Lula tente escapulir, é também o
barco dele.
Mesma fala. Ex-aliados do governo, sobretudo na área
empresarial, têm unificado o discurso com setores da oposição: não se faz
impeachment do nada, mas se, como diz FHC, o governo “vai ficando no ralo” e
for configurada a responsabilidade da presidente, aí não vai ter jeito. A
resposta pode ser dada pelo TCU, antes do TSE.
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