Artigo de José Aníbal, via Blog do Noblat
Dilma, quem diria, só foi aplaudida por banqueiros e
rentistas. É o sinal dos tempos. Seu pacote de primavera escolheu punir o
brasileiro. O Planalto, essa furiosa máquina de desperdício de dinheiro, vai
pegar o grosso do ajuste no seu bolso. Sobre como sanar o sumidouro de dinheiro
público causado pela ineficiência do governo, nenhuma palavra.
É inacreditável que após 13 anos no poder eles não tenham
sequer um rascunho para reformas que são discutidas insistentemente há duas
décadas, como a tributária e a da previdência. Mesmo com estudos sistemáticos e
competentes de diversos órgãos da inteligência econômica federal, eles não
sabem como construir um caminho para o futuro próximo.
Por diversas vezes eu disse aqui que o problema é estrutural
e diz respeito ao sistemático e insustentável aumento do gasto público acima da
receita. A capacidade de resposta da economia foi danificada por uma série de
distorções no ambiente econômico causadas pela intervenção pouco inteligente de
Dilma nos mais diversos setores. Reformas? Nenhuma.
Eleita montada na mentira e provavelmente com ajuda de
dinheiro sujo, Dilma passa por uma desmontagem vexatória de sua imagem pública.
O mandato anterior, como já se sabe, foi todo ocupado em fabricar e encobrir a
crise de hoje. Ela destruiu o setor elétrico, maquiou dados oficiais e burlou a
lei orçamentária. Deixou crescer a inflação e a dívida pública. Também deixou
roubar?
Na hora de enfrentar os efeitos de suas escolhas, Dilma
abdicou sem renunciar e deixou o papel de Geni da história ao Congresso.
Primeiro, na ridícula decisão de mandar um orçamento com déficit. Agora,
acendendo o pavio da CPMF no colo dos deputados. Não sem antes anexar emendas
parlamentares e deixar os governadores da "base" a lamber os beiços.
A concertação política reclamada terá pouca chance, pois o
PT tem vocação para partido único. Como tal, tem verdadeira ojeriza à ideia da
política com viés conciliador. Ademais, modernizar significa enfrentar
privilégios. Lula e Dilma optaram pela velha política de usar o Estado para
acomodar interesses. Ao invés de preparar o futuro, o PT administrou e se
locupletou no poder.
Enquanto o brasileiro sério e comprometido se preocupa com o
pacote, leio num jornal uma frase atribuída a Lula segundo a qual os pobres não
podem pagar pelos "erros dos outros". Só pude pensar que precisamos
fazer uma reflexão sobre o grau de cinismo que estamos dispostos a aceitar no
debate público. É preciso haver um limite. Sob o risco de travarmos qualquer
avanço duradouro.
José Aníbal – É presidente nacional do Instituto Teotônio
Vilela e senador suplente pelo PSDB-SP. Foi deputado federal e presidente
nacional do PSDB.
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