Exatos 345 dias depois de vencer o segundo turno das
eleições mais acirradas da história recente, a presidente Dilma Rousseff
recebeu nesta terça-feira um duro golpe do Tribunal Superior Eleitoral (TSE),
que confirmou, por cinco votos a dois, que vai dar prosseguimento a uma ação de
impugnação de mandato eletivo, processo que pode levar à cassação da petista e
de seu vice, o peemedebista Michel Temer. Com isso, o Ministério Público tem
autorização para investigar suspeitas de irregularidades e abuso de poder
políticos e econômico praticados pela campanha presidencial do PT.
A decisão de hoje ainda não representa um julgamento de
mérito contra a campanha dilmista, mas é um recado claro da Corte eleitoral de
que ilegalidades praticadas no vale-tudo pela reeleição podem e devem ser
investigadas. A gota d'água para que o TSE tenha decidido dar seguimento ao
processo foi a revelação do empreiteiro Ricardo Pessoa, dono da UTC Engenharia,
de que 7,5 milhões de reais recolhidos do escândalo do petrolão foram
destinados à campanha de Dilma depois de pressão do então tesoureiro da
campanha Edinho Silva.
A posição do TSE de abrir uma ação de impugnação de mandato
eletivo contra um presidente da República empossado abre caminho agora para que
testemunhas sejam ouvidas, entre as quais o próprio Ricardo Pessoa, e para que
Dilma apresente sua defesa. A decisão ainda joga por terra o argumento
frequentemente utilizado pelo PT de que a disputa eleitoral de 2014 estaria
encerrada porque o TSE já aprovara as contas da campanha à reeleição. O
argumento de aprovação de contas, no entanto, é facilmente questionável porque
o processo de prestação de contas no TSE é meramente formal e não analisa a
legalidade de doações e muito menos se determinados recursos foram repassados
ou não do esquema de corrupção que sangrou os cofres da Petrobras.
Na ação que pede a cassação da petista, o PSDB elenca fatos
que considera ilegais ao longo da campanha presidencial, como o uso de prédios
públicos para atividades eleitorais e a manipulação de indicadores
socioeconômicos, e solicita que a Corte diplome os senadores Aécio Neves
(PSDB-MG) e Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP). Entre as irregularidades, diz o
partido, estão o uso da máquina administrativa federal para fins eleitorais, a
convocação de pronunciamentos oficiais em cadeia nacional "para exclusiva
promoção pessoal da futura candidata", a veiculação de propaganda
institucional em período proibido pela Justiça Eleitoral, o atraso deliberado
da divulgação de dados sociais desfavoráveis ao governo federal e o uso do
Palácio do Planalto para atividades de campanha.
Como esperado, a ministra Luciana Lóssio, que já atuou como
advogada eleitoral de Dilma e que havia pedido vista do processo, votou na
sessão plenária desta terça-feira contra o seguimento da ação que pode levar a
presidente a perder o mandato e disse que a abertura de um processo como este
exige a apresentação de provas no momento em que a ação é proposta. "É
preciso pôr um fim às disputas porque as eleições têm no máximo dois
turnos", disse ela. Para Lóssio, a possibilidade de o TSE exigir provas
para o seguimento de uma ação desta natureza não significaria
"proteger" a presidente Dilma Rousseff. "A Constituição Federal
protege o direito ao regular exercício da administração pública para que este
se dê longe de demandas temerárias contra o chefe do Executivo. Não se cuida de
proteção do presidente, mas do cargo ocupado. É preciso garantir viabilidade ao
exercício do cargo, evitando que a administração do país seja perturbada com
uma infinidade de demandas", afirmou ela, que considerou que, ao contrário
do que diz o PSDB, autor da ação, não há provas de irregularidades praticadas
na campanha.
Mesmo com as revelações do delator da Lava Jato Ricardo
Pessoa, a ministra disse que "não há qualquer demonstração nesses autos
quanto ao envolvimento dos agravados [Dilma e Temer]". "Não se pode
admitir alegações genéricas advindas de um delator", resumiu.
Em fevereiro, a relatora do caso Maria Thereza Assis Moura
havia alegado que a ação de cassação não deveria continuar por considerar
frágeis as provas apresentadas pelo PSDB, mas o caso chegou ao Plenário após
recurso dos tucanos. Votaram pela continuidade da ação eleitoral contra Dilma
os ministros Gilmar Mendes, João Otávio de Noronha, Luiz Fux, Henrique Neves e
o presidente do TSE José Antonio Dias Toffoli. Maria Thereza e Luciana Lóssio
se manifestaram em sentido contrário.
Da Veja
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