Gil Alessi, El País
João Doria Jr., do PSDB, quer ficar conhecido como “João dos
Bairros”. Aos 58 anos de idade, o empresário, que chegou a apresentar o reality
show O Aprendiz, quer ‘demitir’ o prefeito Fernando Haddad (PT) nas eleições
municipais de 2016. Para assumir a cadeira do petista, e se cacifar como o nome
do PSDB na disputa, Doria tenta tomar o “banho de povo” que o ex-presidente
Fernando Henrique Cardoso disse que a legenda precisava.
Sentado em uma das salas do edifício-sede do Grupo Doria, na
zona oeste de São Paulo, vestindo uma camisa branca com o monograma azul-escuro
“J. D. J” no bolso, o empresário recebeu o EL PAÍS neste final de dezembro.
Além de ter afirmado que caso eleito não disputará a reeleição ("faremos
quatro anos vibrantes que valerão por oito"), o pré-candidato tucano
voltou a dizer que doará seu salário de prefeito para instituições do terceiro
setor. Além de Doria, o vereador tucano Andrea Matarazzo também já anunciou que
quer a vaga do partido para disputar a prefeitura, e o primeiro turno das
prévias da legenda, que escolherão o postulante tucano para 2016, estão
marcadas para 28 de fevereiro.
Pergunta. Um dos seus adversários na luta pela vaga do PSDB
na disputa do ano que vem, o Andrea Matarazzo, tem uma base forte de vereadores
além do apoio de caciques do partido. Ele tem a máquina da legenda a seu favor.
Isso não o intimida?
Resposta. Ele tem a máquina e eu tenho o sentimento. O
sentimento da militância tem sido muito fortalecido nas inúmeras visitas que
fiz [aos diretórios do partido]. Nos últimos meses já foram 68 bairros, 51
diretórios, dos 58 do PSDB. Os outros sete visitarei em janeiro. Eu entendo que
o Andrea é um bom candidato, que merece respeito, tanto ele quanto um eventual
outro que possa vir pela frente, não está fechada essa possibilidade. Mas eu
sou muito determinado, e sigo a orientação e a instrução de gastar sola de
sapato, amassar barro, ir ao encontro da militância, ouvir mais do que falar,
ter contato com eles... E isso está funcionando muito bem.
P. O PSDB costuma ter muita dificuldade no chamado cinturão
vermelho da cidade, composto pelos bairros periféricos que tendem a dar ao PT
maioria de votos…
R. Primeiro que o cinturão não é mais vermelho. Ele foi,
hoje não é mais. A disruptura foi feita não por ação do PSDB, mas por
ineficiência na gestão do PT. O desastre da gestão petista no Governo Federal
influiu muito na ruptura desse cinturão, na decepção dessa população que vive
hoje a amargura do desemprego ou a ameaça do desemprego. Esse eleitorado hoje
vive a inflação, são pessoas que faziam compras no mercado com determinado
valor e hoje compram menos da metade, e essa decepção rompeu o cinturão
vermelho.
P. Você e o Andrea Matarazzo são empresários. Não teme que
esse fato afaste esse eleitorado?
R. A Marta Suplicy [possível candidata do PMDB para a
prefeitura] é tão Matarazzo quanto o Andrea. Tão Suplicy quanto a família
Suplicy. E nem por isso ela é mal avaliada nas periferias. Ela é uma pessoa com
um passado e uma trajetória na qual, contrariando seus dois sobrenomes, foi uma
prefeita com boa penetração nas bases populares. Eu não vejo em que sobrenome
ou endereço possam comprometer atitudes. E não vejo que seja preciso ter
atestado de pobreza para ser bem avaliado pela população mais simples da
cidade. É preciso ter propostas, e capacidade de olhar e corresponder ao voto
de confiança da população.
P. Como o PSDB pode se aproximar desse eleitorado das
periferias?
R. É seguir o exemplo de Mário Covas: ir ao encontro deles,
estabelecer compromissos viáveis e não mentir. E buscar fazer uma gestão,
quando eleito, muito próxima da população, sobretudo a mais simples e a mais
sofrida da cidade. Não existe a menor possibilidade de que, caso eleito, eu
seja um prefeito engravatado estacionado dentro do gabinete do Viaduto do Chá.
Vai falhar quem fizer isso... Pode ter a maior sabedoria, ser o mais profundo
conhecedor da cidade, se fizer isso [ficar no gabinete], vai falhar.
P. Como você avalia a gestão do prefeito Fernando Haddad?
R. Tenho uma relação republicana com o prefeito. Não somos
inimigos, somos adversários. Respeito sua trajetória de vida, acadêmica
principalmente, é um bom professor. Até aqui me pareceu uma pessoa honesta, com
bons princípios, mas não é vocacionado para ser um bom gestor. Ele não é um
gestor. É um bom professor ocupando a prefeitura de São Paulo. Como gestor ele
falhou, a gestão da cidade não foi boa, e não sou eu quem diz, são as pesquisas
que mostram que ele tem uma avaliação muito ruim em todas as classes: A, B, C,
D e E.
P. Uma das bandeira dele foram as ciclovias. Como você
avalia essa política pública de mobilidade?
R. É uma política acertada, eu vou defender a manutenção das
ciclovias. O que eu tenho como crítica é que houve uma implantação acelerada,
houve um açodamento nessa implantação com o objetivo de alcançar metas de
quilometragem de ciclovias, e nisso vários equívocos acabaram sendo cometidos.
Primeiro teve um efeito no custo, o mau planejamento sempre estabelece custos
mais elevados. Depois, ciclovia e ciclofaixas colocadas em áreas onde não há
ciclistas ou áreas de risco para ciclistas, pedestres, transeuntes e até
usuários de outros veículos. Imaginar que em várias áreas da cidade as
ciclofaixas estão pintadas em cima de calçadas... Talvez nem ele saiba, porque
como ele não frequenta a periferia, ele talvez não saiba que vários quilômetros
de calçadas foram pintadas como ciclofaixas. Mas o programa é bom, é uma boa
iniciativa e será mantida.
P. Vários municípios e Estados do país, inclusive São Paulo,
enfrentam uma grave crise fiscal, não têm dinheiro para investir. Como fazer
uma boa gestão sem caixa?
R. É possível. Principalmente fazendo aquilo que o PT não
sabe fazer. Não sabe e não gosta de fazer uma gestão enxuta. O PT só sabe fazer
gestão gorda e com muitos recursos. Recursos lícitos e recursos ilícitos. Os
lícitos são mal aplicados no setor público. Os ilícitos, que deveriam ir para o
setor público, vão para o bolso de parlamentares, secretários e tesoureiros do
partido, que pautam sua vida de forma irregular, corrompendo a máquina pública
e a cidadania brasileira.
P. Mas de onde a Prefeitura pode tirar dinheiro para
investir?
R. Eu defendo o Estado mínimo, e vou fazer isso. A
Prefeitura vai vender tudo aquilo que não for essencial para a gestão pública e
a assistência à população que mais precisa. Vamos começar vendendo o estádio do
Pacaembu, o autódromo de Interlagos e o parque de convenções do Anhembi. Numa
mostra clara e definitiva de que o Estado não pode e não deve estar onde ele
não é necessário. Quem deve administrar estes locais é o setor privado. Vamos
vender e vamos vender bem, por valores que representam a dimensão física dos
espaços e sua importância. E vamos aplicar os recursos onde são necessários.
Principalmente saúde, educação e creches.
P. Caso eleito, qual será sua primeira medida como prefeito?
R. Voltar a velocidade normal nas marginais [Haddad reduziu
a velocidade máxima nas vias expressas], para dar uma declaração clara do
absurdo que foi feito, da falta de consciência e de planejamento. Isso vai ser
uma demonstração clara de mudança e transformação. Nas marginais, as
velocidades vão voltar ao que eram antes.
P. De acordo com a Companhia de Engenharia de Tráfego (CET),
após a implantação da medida as mortes no trânsito caíram 18,5% no primeiro
semestre de 2015…
R. A razão não foi essa. A queda ocorreu fundamentalmente
devido à redução sensível do número de veículos transitando nas marginais. A
volta da velocidade normal será uma demonstração clara da busca da eficiência
de colocar São Paulo na dimensão de uma megametrópole.
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