Artigo de Hubert Alquéres
Estava tudo combinado. O encontro comemorativo do 36º
aniversário do PT marcaria a ofensiva contra o “cerco e aniquilamento” de Lula,
uma fábula existente apenas nas mentes petistas. O resgate da imagem do
caudilho tinha um objetivo claro: fazer do seu retorno ao trono presidencial a
bandeira de coesão de um projeto de poder que pretendia ser eterno, mas que se
encontra em acelerado desmanche.
As crises têm sua dinâmica. Atropelam, indiferentes, todos
aqueles que a ignoram. Em poucos dias foi ao chão o cenário desenhado pela
cúpula do PT. Em vez de ser o marco na blitzkrieger petista, o encontro da
próxima sexta-feira estará mais para muro de lamentações ou para o réquiem do
Lula-2018.
Não há a menor condição de ele ser candidato novamente, a
menos que esteja disposto a se submeter a um tremendo vexame. Seu telhado de
vidro é tamanho que sua candidatura dificilmente resistiria a uma semana de
campanha eleitoral na TV. Lula já sairá no lucro se conseguir limpar, nos
próximos dois anos, sua ficha corrida, para não entrar para a história pelas
portas do fundo, se é que já não entrou.
O adeus Lula tem sua razão de ser, e vai além da prisão do
satânico Dr. No, o marqueteiro João Santana. Ele próprio estabeleceu como
condição para sua nova candidatura o início da recuperação da economia a partir
de junho. Algo para lá de improvável.
No figurino do encontro petista está prevista a pressão das
“bases” e do braço esquerdo do lulopetismo, por uma guinada na atual política
econômica. Até mesmo petistas de perfil moderado que sentem a água bater no
pescoço, como o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, passaram a clamar pela
volta do “modelo econômico da era Lula”.
Entende-se. É dureza alguém disputar eleição, seja a qual
cargo for, pela legenda do PT, mais suja do que as águas do Rio Tietê, e em
meio à combinação perversa do binômio recessão-inflação. Sabedor disto, Lula
não só insufla as bases, resmunga também contra Nelson Barbosa, acusando-o de
ter perdido o brilho e a criatividade. Vejam a celeridade da crise: tido como a
grande solução para voltar fazer a economia crescer, o ministro Barbosa entrou
na frigideira em tempo recorde.
A realidade insiste em conspirar contra as pretensões de
Lula. Já está contratado que o PIB cairá mais 4% em 2016, que a inflação será
no mínimo de 8%. Queda de juros neste ano, nem pensar, como afirmou o
presidente do Banco Central, Alexandre Tombini. Sacramentou-se também um
déficit público de 1% do PIB, se não ultrapassar esta estimativa.
A crise invadirá 2017, podendo se estender até 2018, como
avaliam analistas responsáveis.
Lula seria candidato em um quadro de desemprego alto,
inflação em disparada e economia em queda livre? Inimaginável.
Provavelmente tira seu time de campo e escala outro companheiro para a
tarefa ingrata de defender o “legado petista”, na próxima disputa presidencial.
A conferir quem estaria disposto a ir para o sacrifício.
Esta hipótese fica mais forte diante da evidência de que
marchamos para o pior dos mundos, o da paralisia total na economia, com
consequências danosas para a vida dos brasileiros. Espremida pela realidade, a
presidente Dilma Rousseff acena com as reformas fiscal e previdenciária, mas
sua base, o PT e Lula, não querem nem saber dessa conversa. Sem poder peitar
seu criador, Dilma ficará, até o término do seu mandato, com a política
rame-rame de hoje. Daí não sairá coelho algum, a crise se agravará.
A última pesquisa Ibope traz um dado revelador: a imagem de
Lula derrete-se tal qual gelo no asfalto. Quanto mais a operação Lava-Jato bate
a sua porta, quanto mais sai do fundo do palco e vai para o primeiro plano do
tablado da corrupção, mais sua queda é vertiginosa. A tendência de sua rejeição
de 61% é aumentar. O Lula imbatível, aquele Messias venerado, a versão piorada
de pai dos pobres, é agora espécie em extinção.
As investigações da Polícia Federal no sítio de Atibaia, no
apartamento tríplex do Guarujá e as pistas que vieram à luz do dia com a
Operação Acarajé deixaram o santo nu. Mostraram seus pés de barro.
A essa altura não há muito mais a fazer. Talvez se despedir.
Adeus, Lula.
Hubert Alquéres, é professor e membro do Conselho Estadual
de Educação (SP). Lecionou na Escola Politécnica da USP e no Colégio
Bandeirantes e foi secretário-adjunto de Educação do Governo do Estado de São
Paulo
Via Blog do Noblat
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