quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

ELEIÇÕES DO FIM DO MUNDO

As eleições municipais desde ano serão completamente diferentes de tudo o que aconteceu no campo eleitoral nas últimas décadas. Os vetores da mudança são os seguintes: as mudanças de regras, a crise fiscal, a crise econômica e na Operação Lava Jato.   Todas os quatro se relacionam entre si e causam profundo impacto na política nacional e, em especial, nas eleições municipais deste ano.
O primeiro aspecto refere-se às regras. Sem detalhar muito o tema, destaco apenas três. Uma refere-se à janela de transição partidária que está em vigor.  Com ela, por exemplo, os vereadores podem mudar de partido até meados de março.  A outra, anterior à janela, foi a decisão do STF de liberar os detentores de cargos majoritários mudar de partido sem restrições. Consta que o PT, por exemplo, perdeu cerca de 10% de prefeitos que foram eleitos pelo partido em 2012.
A terceira mudança de grande impacto refere-se ao banimento das doações empresariais das campanhas.  Sem recursos privados, as campanhas ficarão pobres. O que não é ruim. Causará um impacto transformador sério. Mas, sem uma fiscalização ativa e preventiva, abrir espaço para os recursos do crime organizado. Imaginem a situação de Fernando Haddad que gastou quase 70 milhões de reais na campanha em 2012. Como fará a campanha de sua reeleição financiado apenas por recursos públicos e doações de pessoas físicas?
Mas as limitações não são apenas as mencionadas. A crise fiscal do governo central impede que ocorram transferências vultosas para municípios. A crise econômica, pelo seu lado, derruba a arrecadação de todos.  Sem dinheiro, como concluir obras que poderiam alavancar as campanhas municipais? Cerca de 60% dos atuais prefeitos são muito mal avaliados. Sem dinheiro e sem obras, como ser competitivo?
Dois outros temas remanescem: a crise econômica e a Operação Lava Jato. A crise econômica "federaliza" as eleições municipais. Principalmente, nas cidades médias e grandes. Desloca o eixo de preocupação do eleitor dos seus problemas locais para as questões nacionais.  O provável agravamento da cena econômica nos próximos meses vai afetar sobremaneira o comportamento do eleitor. Especialmente se o desemprego estiver acima de 10%.
Por fim, temos a novela da Operação Lava Jato prossegue que prossegue destruindo a parca confiança do eleitorado nos políticos e na política. Além disso, a cada nova etapa de investigações, o mundo político fica mais abalado e na defensiva. Temendo o pior. Em um ano eleitoral, já encurtado por conta da disputa, a paralisia do mundo político é uma péssima notícia em tempos de crise.
O que esperar do processo? O cenário que se configura para as eleições é, no mínimo, complexo. Para não dizer dantesco. Um eleitorado descrente dos políticos (como sempre) e irritado (como nunca) deve se manifestar de forma emocional.   As narrativas de mudanças tendem a prevalecer junto ao eleitorado. Já as narrativas de quem está no poder podem ser mais agressivas como estratégia de resistência. Resta-nos torcer para que o ambiente eleitoral seja menos conturbado do que os sinais indicam.
Murilo Aragão, é cientista político – via Blog do Noblat
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