Artigo de Murilo de Aragão
As eleições municipais desde ano serão completamente
diferentes de tudo o que aconteceu no campo eleitoral nas últimas décadas. Os
vetores da mudança são os seguintes: as mudanças de regras, a crise fiscal, a
crise econômica e na Operação Lava Jato.
Todas os quatro se relacionam entre si e causam profundo impacto na
política nacional e, em especial, nas eleições municipais deste ano.
O primeiro aspecto refere-se às regras. Sem detalhar muito o
tema, destaco apenas três. Uma refere-se à janela de transição partidária que
está em vigor. Com ela, por exemplo, os
vereadores podem mudar de partido até meados de março. A outra, anterior à janela, foi a decisão do
STF de liberar os detentores de cargos majoritários mudar de partido sem
restrições. Consta que o PT, por exemplo, perdeu cerca de 10% de prefeitos que
foram eleitos pelo partido em 2012.
A terceira mudança de grande impacto refere-se ao banimento
das doações empresariais das campanhas.
Sem recursos privados, as campanhas ficarão pobres. O que não é ruim.
Causará um impacto transformador sério. Mas, sem uma fiscalização ativa e
preventiva, abrir espaço para os recursos do crime organizado. Imaginem a
situação de Fernando Haddad que gastou quase 70 milhões de reais na campanha em
2012. Como fará a campanha de sua reeleição financiado apenas por recursos
públicos e doações de pessoas físicas?
Mas as limitações não são apenas as mencionadas. A crise
fiscal do governo central impede que ocorram transferências vultosas para
municípios. A crise econômica, pelo seu lado, derruba a arrecadação de
todos. Sem dinheiro, como concluir obras
que poderiam alavancar as campanhas municipais? Cerca de 60% dos atuais
prefeitos são muito mal avaliados. Sem dinheiro e sem obras, como ser
competitivo?
Dois outros temas remanescem: a crise econômica e a Operação
Lava Jato. A crise econômica "federaliza" as eleições municipais.
Principalmente, nas cidades médias e grandes. Desloca o eixo de preocupação do
eleitor dos seus problemas locais para as questões nacionais. O provável agravamento da cena econômica nos
próximos meses vai afetar sobremaneira o comportamento do eleitor.
Especialmente se o desemprego estiver acima de 10%.
Por fim, temos a novela da Operação Lava Jato prossegue que
prossegue destruindo a parca confiança do eleitorado nos políticos e na
política. Além disso, a cada nova etapa de investigações, o mundo político fica
mais abalado e na defensiva. Temendo o pior. Em um ano eleitoral, já encurtado
por conta da disputa, a paralisia do mundo político é uma péssima notícia em
tempos de crise.
O que esperar do processo? O cenário que se configura para
as eleições é, no mínimo, complexo. Para não dizer dantesco. Um eleitorado
descrente dos políticos (como sempre) e irritado (como nunca) deve se
manifestar de forma emocional. As
narrativas de mudanças tendem a prevalecer junto ao eleitorado. Já as narrativas
de quem está no poder podem ser mais agressivas como estratégia de resistência.
Resta-nos torcer para que o ambiente eleitoral seja menos conturbado do que os
sinais indicam.
Murilo Aragão, é cientista político – via Blog do Noblat
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