Em janeiro, o ex-governador e ex-senador pelo PMDB do Rio
Grande do Sul, Pedro Simon, completou um ano desde sua aposentadoria da vida
parlamentar. Neste mesmo mês, ele comemora 86 anos, dos quais mais de 50
dedicados à vida pública, iniciada como deputado estadual em 1963. Longe da
tribuna parlamentar, entretanto, Simon decidiu manter-se ativo no ano passado e
optou por um giro pelo Brasil. Percorreu o País em palestras a políticos,
estudantes, movimentos sociais e organizações empresariais. Agora, tira suas
tradicionais férias na casa de verão na praia Rainha do Mar, de onde, após
voltar de uma missa, conversou com ISTOÉ.
Entusiasmado com os rumos da investigação sobre o esquema de
corrupção na Petrobras, o peemedebista acredita que as denúncias serão responsáveis
por uma verdadeira transformação na ordem política brasileira. Segundo Simon, a
novidade virá da Lava Jato, quando, segundo ele, “chegar em pessoas que nunca
imaginávamos”. A partir daí, acredita ele, acontecerá uma grande renovação.
Católico, ele diz rezar, diariamente, pela proteção de Sérgio Moro e do Papa
Francisco. “Tenho muito medo que aconteça alguma coisa contra eles”, revela.
ISTOÉ - Existe a possibilidade de o ex-presidente Lula se
lançar novamente como candidato à presidência em 2018. Como o senhor vê isso?
PEDRO SIMON - Quando houve a primeira denúncia no caso dos
Correios, eu subi à tribuna e disse que o Lula iria demitir os envolvidos. Mas
ele não demitiu, nem deixou que criássemos a CPI. Precisamos do STF para
criá-la. Hoje, o Lula não pode mais dizer que não sabia, porque está tão
provado, está tão certo, que o melhor é ele ficar quieto. Não sei o que vai
acontecer com ele, mas, certamente, ele ficará marcado como uns dos homens
públicos que levou à ruína do País. Ele não vai ser mais nada, as pessoas estão
muito esclarecidas agora. O PT vai pagar suas contas e o Lula deixará a cúpula
do partido.
ISTOÉ - O sr. já disse temer que a Lava Jato seja esvaziada.
Por quê?
PEDRO SIMON - O Judiciário brasileiro nunca existiu, só
existia para ladrão de galinha. Hoje, ele mudou. Com o Sérgio Moro as coisas
vão aparecer. Vai ficar provado que o maior escândalo criminoso do século foi
feito no Brasil e, pode ter várias origens, mas teve seu apogeu no governo
Lula. Eu rezo todas as noites pelo Sério Moro e pelo Papa Francisco. Tenho
muito medo que aconteça alguma coisa com eles, porque são duas pessoas muito
boas e que estão fazendo coisas extremamente relevantes.
ISTOÉ - O sr. acredita que nossa cultura de impunidade está
mudando?
PEDRO SIMON - Certamente. O Moro é um homem fantástico.
Merece uma estátua em praça pública. Se o Supremo não nos decepcionar,
viveremos a época mais importante da história do Brasil. Desde Dom Pedro, o
Brasil é o País da impunidade. Isso está mudando. Levei 20 anos no Congresso
tentando criar a CPI dos empreiteiros, desde as denúncias na época do Collor.
Mas nunca deixaram criar uma CPI sobre os corruptores, nem sobre os
empreiteiros. A CPI só saiu agora, quando eles já estavam na cadeia.
ISTOÉ - Qual é a avaliação que o sr. faz hoje da atuação do
Congresso?
PEDRO SIMON - Do Congresso, não se pode esperar nada, ele
está vivendo uma realidade crítica. Virou a política do troca-troca. E agora,
que Dilma está no seu pior momento, com a água chegando no pescoço, a prática
do troca-troca está mais intensa do que nunca. Muda ministro atrás de ministro,
dependendo das votações. Depois de cortar as doações das empreiteiras na
eleição, multiplica o fundo partidário de R$ 300 para R$ 800 milhões e diminui
o tempo de televisão. Faz tudo isso para evitar ao máximo a insatisfação
popular, mas é só uma forma de apaziguar.
ISTOÉ - E do governo Dilma?
PEDRO SIMON - Eu felicito o ministro da Justiça, José
Eduardo Cardozo, um homem de muito mérito, e a Dilma, por permitirem a
continuidade da operação Lava Jato. Desde que
assumiu o governo, Dilma demitiu seis ministros por corrupção. Eu
aplaudi na tribuna e publiquei um livro chamado “Presidenta Dilma, resistir é
preciso”. Ela deu sinais de que queria se libertar, mas aí veio o “Fora Dilma”,
o Congresso parou de aprovar qualquer coisa e ela se entregou. Sem um apoio
mais amplo, ela ficou isolada e entrou numa omissão total.
ISTOÉ - Qual é a sua posição sobre o impeachment?
PEDRO SIMON - Acho que houve um equívoco com relação ao
momento de se pedir o impeachment. Eu fui um dos grandes responsáveis pela
saída do Collor. Na época, nos reunimos em meu gabinete para criar uma CPI a
partir das denúncias do irmão dele, o Pedro Collor, sobre o PC Farias. Ou seja,
primeiro os fatos contra ele apareceram - e, sinceramente, nem eram tão graves
quanto os que há hoje contra o Lula e a presidente. Mas dessa vez foi o
contrário, foi antes do tempo, criaram a CPI para buscar os fatos. Eu confio
muito mais no Supremo. Ele sim vai apurar dados graves contra o Lula e a Dilma.
ISTOÉ - Como o sr. vê a atuação do PMDB e as denúncias que
pesam sobre o partido?
PEDRO SIMON - O PMDB não merecia viver o que está vivendo
hoje. É possível que ele possa ajudar lá adiante, com uma realidade diferente e
resgatando um pouquinho da cara da época em que foi o grande responsável pelas
“Diretas, Já” e pela democracia no País. Hoje, ele não tem peso nenhum, porque
tem uns para lá, outros para cá, e ninguém se importa com a opinião do PMDB.
ISTOÉ - Como o sr. avalia nosso cenário político atual, em
comparação com outras crises vividas no País?
PEDRO SIMON - Eu me sinto no escuro. Essa fase que nós estamos
vivendo, que começou com a derrubada do presidente Jango em 1964, já completou
meio século. Desde o MDB, Arena, aquela coisa toda. Desde então, nós vivemos
momentos em que as circunstâncias em que nós vivíamos e ram muito piores do que
as de hoje. Tivemos cinco presidentes nomeados com atos institucionais, o
Congresso Nacional foi fechado, a imprensa não tinha absolutamente nenhuma
liberdade. Agora não, vivemos uma democracia, a presidente foi reeleita, o
Congresso está funcionando, o STF está funcionando e a imprensa tem a mais
absoluta liberdade. É um momento mais complexo do que vivemos no passado. As
pessoas mais ricas e poderosas estão sendo punidas. Vemos o presidente da
Câmara e do Senado investigados, o dono da Odebrecht e dessas empreiteiras sendo
punidos. É um momento em que as coisas realmente estão acontecendo, mas a
população só pode assistir.
ISTOÉ - O sr. acha que a população participa mais ativamente
da vida política?
PEDRO SIMON - Na ditadura, nós lutávamos com as armas que
tínhamos. Havia quem defendesse a luta armada, a guerrilha, o voto em branco.
Mas nós tínhamos estímulos e uma expectativa. Uma esperança popular. Hoje
vivemos uma fase dolorosa em que só assistimos a esses episódios. A oposição
está brincando, não tem um projeto. E estamos todos assistindo o trabalho
notável do juiz Sérgio Moro, do procurador-geral Rodrigo Janot, e do
Judiciário. Esses sim estão vivendo um momento significativo de nossa história
e que poderá, se Deus quiser, nos transformar de maneira profunda, se não
aceitarmos que, aos poucos, se esvazie essa operação.
ISTOÉ - O que aconteceu com aquela esperança?
PEDRO SIMON - Na ditadura, havia uma grande expectativa
sobre o MDB e ele conseguiu, apesar das divergências, reunir o povo em busca do
fim da tortura, da liberdade de imprensa e das “Diretas, Já”. Veio então o
Collor, que saiu daquele jeito e assumiu o Itamar Franco, na minha opinião o
homem mais importante dos últimos 50 anos da nossa história. Itamar criou o
Plano Real e conduziu muito bem aquela transição. Elegeu-se o FHC, que levou
adiante o Real, é verdade, mas que comprou a reeleição e vendeu de graça a Vale
do Rio Doce. Daí, veio o Lula, que era uma expectativa do tamanho de um bonde e
criou o que criou. O PT foi, na história do Brasil, a maior decepção e a maior
paulada que levamos na vida. Foi nossa maior esperança e nossa maior
expectativa, que se contrabalanceou com a maior traição que tivemos. Você tinha
um partido forte, uma grande referência na área social, mas viu que era tudo um
esquema montado, no qual o governo esteve presente e continua até hoje.
ISTOÉ - O vice-presidente Michel Temer, atual presidente do
PMDB, conseguirá se reeleger para o comando da sigla, em março?
PEDRO SIMON - O normal seria que ele não fosse candidato.
Ele já bateu o recorde, está lá há mais tempo que o Ulysses Guimarães. Seria um
gesto bacana se ele orientasse um grande movimento para reorganizar o partido,
mas sem ser o candidato.
ISTOÉ - Quem seria o candidato ideal?
PEDRO SIMON - Algum nome não tão metido na confusão.
ISTOÉ - E para 2018, o sr. continua defendendo uma
candidatura própria do partido?
PEDRO SIMON - Sempre fui a favor, mas esse grupo que está aí
nunca deixou. Em fevereiro, terá uma reunião para discutir isso novamente.
Vamos ver o que será decidido. Essas candidaturas que hoje estão colocadas se
posicionam muito longe da realidade. Até lá vamos ter um choque. Essas
lideranças do Congresso, esse sistema todo do qual fazemos parte, essa história
que o PT chama de “aliança de esquerda”... O povo vai se rebelar contra isso
tudo e surgirá uma fórmula nova. Acredito muito no povo, o povo tá tomando
conhecimento desse escândalo, formando verdadeiras correntes. O problema é que
o povo está assistindo, torcendo para que dê certo, mas não sabe o que fazer.
ISTOÉ - De onde virá a novidade?
PEDRO SIMON - Da
explosão da Lava Jato. Quando a investigação chegar a pessoas que nunca
imaginávamos, o povo estará nas ruas e, queira Deus, que saia uma grande
renovação. E que não seja a loucura que aconteceu na época do Collor, em que os
candidatos eram excepcionalmente bons e ganhou o pior deles. Hoje, a economia
está em pandarecos. Agora, a paralisia é um problema gravíssimo e temos de ter
a capacidade de não querer o “quanto pior, melhor”. Não podemos boicotar o
governo naquilo que é essencial como segurança, saúde, educação. A novidade é
que nunca um general, um grande empresário, grandes líderes políticos haviam
sido processados e presos, que nem hoje. Começou a punição dos grandes.
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