Artigo de Nelson Motta, O Globo
Além de oito anos de salários de presidente e despesas zero,
Lula ganhou R$ 27 milhões fazendo palestras no exterior, tudo com nota fiscal,
declarado à Receita Federal e com impostos pagos. Teria todo o direito de
comprar o tríplex ou o sítio que quisesse, sem dar satisfações a ninguém.
Ainda que as palestras não fossem compradas por interessados
internacionais, mas pagas por empresas brasileiras que queriam fazer bons negócios
e resolver problemas complicados com governos locais, seria, digamos, apenas
lobby. Mas isto ainda está sob investigação e, até prova em contrário, os
milhões de Lula são tão limpos como os de Bill Clinton.
Com uns sete ou oito milhõezinhos, ele poderia comprar uma
boa cobertura, não um muquifo na cafona Guarujá, mas em Ipanema, e um belo
sítio em Campos do Jordão. Sobrariam-lhe uns 20 milhões, e ele não teria que
enfrentar o calvário imobiliário que o humilha publicamente, desmoraliza sua
liderança e ridiculariza o seu maior patrimônio: a “alma viva mais honesta do
país”.
Mas, sabe-se lá por que, já que burro não é, Lula preferiu
fazer tudo escondido, para se aproveitar de vantagens oferecidas por “amigos” e
empresários com interesses no governo, enrolar-se numa mentira atrás da outra,
tudo para não gastar uma pequena parte do seu patrimônio.
Seus 20 milhões, se investidos por Henrique Meirelles (por
Mantega ou Dilma jamais!), lhe renderiam uns R$ 250 mil por mês, além de suas
gordas aposentadorias e bolsa-ditadura, sem contar com futuras palestras, que,
agora, ninguém quer de graça. Poderia viver como a mais luxuosa e odiosa elite
brasileira. Ou como um craque de futebol.
Claro, viver de renda no luxo ia pegar meio mal para a
militância do PT, mas logo tudo seria visto como o heroico triunfo de um
torneiro mecânico sobre a burguesia.
Não consigo entender como um cara tão inteligente colocou em
risco sua reputação e sua carreira por tão pouco, talvez por arrogância e
soberba, ou malandragem barata, em jogadas ilegais e perigosas, ou tudo isso
para não gastar o que — diante de seu patrimônio pessoal — seria coisa de
pobre. Um barato que está lhe custando caríssimo.
Nelson Motta é jornalista
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