Da Veja
Lula ama suas plateias. As plateias de Lula o amam. Mas isso
não é suficiente para apagar as evidências de prática de crimes que levaram a
Polícia Federal a escoltá-lo para depor, na sexta-feira passada, em uma
delegação do órgão instalada no Aeroporto de Congonhas. Como todo populista,
Lula é um defensor do igualitarismo, desde que ele seja sempre mais igual do
que os outros. Um suspeito da autoria de crimes pelos quais ele é investigado,
em especial o delito de ter enriquecido com repasses de dinheiro desviado de
uma estatal que pertence ao povo brasileiro, é levado por policiais a depor
coercitivamente. Basta que as autoridades decidam assim. Ponto. Mas Lula se acha
acima da lei. Ele se sentiu no direito de debochar da Justiça e dos agentes
policiais. Fez um pronunciamento depois de depor durante três horas à Polícia
Federal sobre as razões pelas quais recebeu 30 milhões de reais de empreiteiras
pegas na Operação Lava-Jato por usufruírem um esquema de corrupção na
Petrobras.
Lula nada explicou. Nada disse que ajudasse os brasileiros a
entender por que recebeu milhões de reais de empresas condenadas por esquemas
de propina na Petrobras e de lobistas traficantes de medidas provisórias no seu
governo. Fez-se de vítima e encenou o número de sempre diante de sua plateia.
Enalteceu as próprias qualidades e magnificou seus feitos nos oito anos em que
presidiu o Brasil. Feitos, aliás, que ninguém discute. Lula foi um governante
de imensa sorte, presidindo um país cuja economia recebeu mais de 200 bilhões
de dólares de recursos extras produzidos por exportações de minerais e grãos
que tiveram preços recordes no período. Se no lugar de Lula tivesse sido eleito
um "poste", essa massa espetacular de recursos teria sido injetada na
economia brasileira da mesma maneira. Mas ter sorte não é um elemento
desprezível na vida privada nem na pública. O problema para Lula é que, no
âmbito da Justiça e nas encrencas que claramente ele tem com a polícia, a sorte
não conta muito.
Foi louvável a tentativa de Lula de politizar os eventos de
sexta-feira passada. Politizar é o instinto básico do ex-presidente. Mas, como
a sorte, esse atributo não ajuda muito Lula em suas atuais atribulações. Carlos
Fernando Lima, um dos procuradores da Lava-Jato, explicou o objetivo e a
abrangência da Operação Aletheia (verdade, em uma tradução livre do grego).
Disse ele: "Não temos nenhuma motivação política. A única consideração do
Ministério Público é o legal versus o ilegal. Esta é apenas mais uma etapa da
Operação Lava-Jato". O procurador esclareceu que, ao levar Lula
coercitivamente para depor - em vez de marcar uma hora para recebê-lo na
delegacia -, o MP quis evitar manifestações públicas de parte a parte.
"Sabemos da polarização que existe no país e, para evitar maiores
manifestações, procuramos fazer da maneira mais silenciosa possível."
Com Policarpo Junior, Rodrigo Rangel, Daniel Pereira, Robson
Bonin e Hugo Marques
Leia a íntegra da reportagem na edição de Veja desta semana
que já está nas bancas.
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