O sonho de Dilma é deixar explodir na mão de qualquer outro
a massa falida em que seu governo transformou o Brasil e sair por aí de
bicicleta. Só se fala de Lula. A presidente deve agradecer de joelhos à Justiça
atabalhoada brasileira, que tem desviado o foco das denúncias contra seu
governo. Dilma tentou ser populista e popular. Não conseguiu ser uma coisa nem
outra. O “dilmismo” nunca passou de um cenário provisório e improvisado.
Um cenário falso como o do apartamento do Minha Casa Minha
Vida, adquirido pelo casal Eliel e Adriane Silveira, em Caxias do Sul. No
início, eles se sentiram num sonho. O casal foi informado de que Dilma, em
pessoa, entregaria as chaves de seu apartamento. Os dois vibraram ao ver que
seu apartamento estava mobiliado e decorado. Dilma foi filmada com o casal.
Depois da visita presidencial, a decoração foi removida. Geladeira, fogão,
televisão e máquina de lavar.
“Só não levaram o resto dos móveis porque a gente bateu o pé
e não deixou”, disse Adriane. “O tapete, disseram que poderíamos ficar com ele,
porque tinha sido muito pisado.” A Arcari Empreendimentos retrucou que ninguém
havia prometido doar nada, mas, diante da repercussão negativa, os
eletrodomésticos voltaram. “Nos avisaram que a presidente viria e que
precisaríamos ambientar um apartamento para a visita”, explicou Francielle
Arcari, do departamento jurídico da construtora. “Colocamos até papel de
parede, e vamos deixar, mesmo não sabendo quem prometeu.”
A história de Eliel e sua mulher Adriane parece surreal, mas
é a melhor metáfora para o governo Dilma. Não o final feliz – no qual ninguém
acredita, especialmente a “presidenta” e os pobres. A história ilustra a
fantasia populista brasileira. Dilma, Lula e o marqueteiro João Santana
“ambientaram” um cenário grandioso na última eleição para inventar um país que
só existia na propaganda político-partidária, sem compromisso com o futuro da
economia e da população. Blefaram. Prometeram o impossível. Rasgaram depois até
o papel de parede, os eletrodomésticos se foram, os empregos também, o país
ficou no escuro.
Dilma e Lula juntos no Meu Tríplex Minha Vida, com fim de
semana no Meu Sítio Minha Vida, tudo com a cumplicidade e as doações de
empreiteiras. As construtoras pagavam palestras, viagens e imóveis do padrinho
e, em troca, eram escolhidas para comandar os empreendimentos furados da
afilhada. Eram um pouquinho maiores do que a Arcari Empreendimentos, aquela que
botou, tirou e recolocou os eletrodomésticos na casa de Eliel e Adriane.
O populismo é a ideologia da ignorância. Confunde esquerda e
direita, mistura promessas na mesma sopa. O populismo se sustenta em líderes
carismáticos e se alimenta da manipulação da massa. A História tem exemplos com
resultados dramáticos. O programa Sem fronteiras, da GloboNews, analisou ciclos
de populismo no mundo e abordou alguns fenômenos atuais de ascensão e queda.
Qual a diferença entre ser populista e popular? A quem serve o populismo, cuja
retórica costuma ser o “nós contra eles”?
Donald Trump, o pré-candidato republicano nos Estados
Unidos, é o mais exorbitante populista no momento. Quanto mais esbraveja, mais
conquista a audiência e eleitores. Mesmo que seja com palavrões. Já viram algo
parecido? Trump é uma celebridade, com seus livros, hotéis e cassinos, que fica
“confortável diante das câmeras, fala como demagogo contra imigrantes ilegais,
especialmente mexicanos”, e faz parecer simples combater o Estado Islâmico e os
terroristas. A definição é de Michael Kazin, professor de História da
Universidade de Georgetown, para o Sem fronteiras. Como muitos populistas, diz
Kazin, “Trump gosta de reduzir a política a um conjunto simples de
polarizações” porque o “populismo é um dispositivo para mobilizar o povo contra
as elites”.
Na França, a populista mais popular é Marine Le Pen, com
discurso social e nacionalista de direita, contra a imigração. Na América
Latina de populistas de esquerda como Juan Perón e Getúlio Vargas, o movimento
tem caído em desgraça – na Venezuela, no Equador, na Argentina, na Bolívia e no
Brasil.
“O populismo, quando surge, permite acentuar o que a
democracia tem de positivo e de negativo. Se o populismo se consolida, é um
sintoma de que havia gente que não se sentia representada. Pode criar, assim,
fenômenos de inclusão social importantes”, disse ao jornalista Silio Boccanera,
da GloboNews, o uruguaio Francisco Panizza, professor de política da London
School of Economics e autor do livro Populismo e o espelho da democracia.
“Mas também há populismos extremamente destrutivos que levam
a uma completa polarização social e a um conflito social muito difícil de
resolver.” É, no mínimo, um alerta para este domingo 13.
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