Da Época
Reunido com assessores em seu escritório no bairro do Itaim,
em São Paulo, o vice-presidente Michel Temer pediu que, na manhã da
quinta-feira, dia 24, a televisão de sua sala permanecesse ligada. Adepto de
ambientes silenciosos para conversar, abriu a exceção porque vinha acompanhando
com grande interesse a visita do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, à
América Latina. Naquela manhã da véspera da Sexta-Feira Santa, Obama se reunia
com o recém-empossado Mauricio Macri, na Argentina, e jogava flores no Rio da
Prata em homenagem às vítimas da ditadura militar que dominou o país. Temer,
que vem observando o trabalho do presidente argentino, rasgou elogios e
arrematou. “É disso que o Brasil precisa, de um efeito Macri”, afirmou aos que
o acompanhavam, sem nenhum receio de ter sua fala interpretada como
voluntarismo em excesso. Pelo contrário. A inspiração já é tratada com
desembaraço.
O vice-presidente, que até pouco tempo temia levar sobre os
ombros a pecha de conspirador, já não esconde o empenho em construir uma agenda
política e econômica com o intento de conduzir o país num cenário
pós-impeachment. O modelo Macri não é mimetizado tanto pela similaridade das
medidas adotadas, mas pela sinalização emitida ao mundo, que alterou
substancialmente a percepção sobre a Argentina. Se em pouco tempo o ex-prefeito
de Buenos Aires conseguiu trazer esperança a uma nação mais combalida que o
Brasil, reflete o vice em suas conversas, há uma saída possível. “Ele sabe que
terá de agir rápido. Mas, pelo exemplo argentino, viu a importância do gesto,
sobretudo na economia”, afirma um interlocutor do vice, que não parou de
aparafusar as estruturas do que pretende ser seu futuro governo, mesmo depois
de o Planalto abrir o varejo dos cargos e colocar a militância na rua para entoar
até gritos de guerra anti-Temer.
De gestos, Temer e todo o PMDB entendem muito. O fluido que
compõe a legenda é carregado de sinalizações, mais do que convicções. E Temer
aposta no aprendizado adquirido ao liderar um partido com tantas nuances para
conseguir garantir, ao mesmo tempo, a governabilidade no Congresso e a
confiança do mercado. Jargões como “choque de gestão” e “guinada política” estão
em sua cartilha de como recolocar a economia nos trilhos. Interlocutores que
têm acompanhado o vice afirmam que ele passou a semana imerso em conversas e
reuniões com algumas das principais lideranças políticas e econômicas do país.
Os principais atores do setor bancário e da indústria estiveram em seu
escritório, em São Paulo. Temer tem preferido isolar-se na capital paulista
para fugir do tiroteio em voga no Congresso e receber com mais privacidade,
fora das instalações do governo, pessoas interessadas em discutir o país num
contexto, digamos, sem o PT.
Leia a reportagem completa na edição da revista Época que já
está nas bancas.
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