sábado, 2 de abril de 2016

A DEBANDADA DO PMDB

Reunido com assessores em seu escritório no bairro do Itaim, em São Paulo, o vice-presidente Michel Temer pediu que, na manhã da quinta-feira, dia 24, a televisão de sua sala permanecesse ligada. Adepto de ambientes silenciosos para conversar, abriu a exceção porque vinha acompanhando com grande interesse a visita do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, à América Latina. Naquela manhã da véspera da Sexta-Feira Santa, Obama se reunia com o recém-empossado Mauricio Macri, na Argentina, e jogava flores no Rio da Prata em homenagem às vítimas da ditadura militar que dominou o país. Temer, que vem observando o trabalho do presidente argentino, rasgou elogios e arrematou. “É disso que o Brasil precisa, de um efeito Macri”, afirmou aos que o acompanhavam, sem nenhum receio de ter sua fala interpretada como voluntarismo em excesso. Pelo contrário. A inspiração já é tratada com desembaraço.
O vice-presidente, que até pouco tempo temia levar sobre os ombros a pecha de conspirador, já não esconde o empenho em construir uma agenda política e econômica com o intento de conduzir o país num cenário pós-impeachment. O modelo Macri não é mimetizado tanto pela similaridade das medidas adotadas, mas pela sinalização emitida ao mundo, que alterou substancialmente a percepção sobre a Argentina. Se em pouco tempo o ex-prefeito de Buenos Aires conseguiu trazer esperança a uma nação mais combalida que o Brasil, reflete o vice em suas conversas, há uma saída possível. “Ele sabe que terá de agir rápido. Mas, pelo exemplo argentino, viu a importância do gesto, sobretudo na economia”, afirma um interlocutor do vice, que não parou de aparafusar as estruturas do que pretende ser seu futuro governo, mesmo depois de o Planalto abrir o varejo dos cargos e colocar a militância na rua para entoar até gritos de guerra anti-Temer.
De gestos, Temer e todo o PMDB entendem muito. O fluido que compõe a legenda é carregado de sinalizações, mais do que convicções. E Temer aposta no aprendizado adquirido ao liderar um partido com tantas nuances para conseguir garantir, ao mesmo tempo, a governabilidade no Congresso e a confiança do mercado. Jargões como “choque de gestão” e “guinada política” estão em sua cartilha de como recolocar a economia nos trilhos. Interlocutores que têm acompanhado o vice afirmam que ele passou a semana imerso em conversas e reuniões com algumas das principais lideranças políticas e econômicas do país. Os principais atores do setor bancário e da indústria estiveram em seu escritório, em São Paulo. Temer tem preferido isolar-se na capital paulista para fugir do tiroteio em voga no Congresso e receber com mais privacidade, fora das instalações do governo, pessoas interessadas em discutir o país num contexto, digamos, sem o PT.
Leia a reportagem completa na edição da revista Época que já está nas bancas.
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