Ruth de Aquino, Época
A prisão de Paulo Bernardo, ministro do Planejamento de Lula
e ministro das Comunicações de Dilma Rousseff, talvez seja, até agora, o maior
golpe contra o Partido dos Trabalhadores desde sua fundação, em 1980. Não é o
“golpe” do atual dicionário petista. A operação da Polícia Federal chamada de
Custo Brasil é um golpe mortal no coração de um partido criado, a princípio,
para defender quem trabalha contra a exploração e a especulação do capital.
Caso se comprove que Paulo Bernardo, marido da senadora
Gleisi Hoffmann (ambos do PT do Paraná), recebeu, por meio de um advogado, R$ 7
milhões, entre 2010 e 2015, desviados de empréstimos consignados para
funcionários públicos, o PT se tornará indefensável como partido. Para
sobreviver, precisará promover um expurgo geral, pedir desculpas à nação,
refundar valores e renovar lideranças. Segundo os investigadores, o esquema de
roubo envolve um total de R$ 100 milhões em contratos entre a Pasta de
Planejamento de Lula e a empresa de tecnologia Consist.
Respeitando a presunção de inocência característica das
democracias, muito ainda precisa ser respaldado por provas incontestáveis do
“esquema de lavagem” que teria sido comandado por um dos ministros mais
importantes de Lula e Dilma. Só assim Paulo Bernardo poderá ser considerado
culpado por usar propina para pagar despesas pessoais suas e da mulher. Caso
seja inocente, seria um caso gigantesco de danos morais, porque a reputação do
casal foi seriamente atingida.
O PT considera ilegais a prisão preventiva de Paulo Bernardo
e a apreensão de documentos e computadores do apartamento funcional de Gleisi,
devido ao foro privilegiado da senadora. Sou contra o foro privilegiado para
crimes comuns – eu, ministros do STF e a maioria da população. O que importa é
se o ex-ministro cometeu um crime tão mesquinho quanto o de roubar milhões de
servidores públicos. De centavo em centavo, o galo encheu o papo. É isso ou não
é isso? O argumento único deveria ser: Paulo Bernardo não roubou e Gleisi não
teve despesas pagas por propina. São inocentes.
Isso veremos, com o avanço da investigação sob o comando do
procurador Andrey Mendonça, do Ministério Público Federal de São Paulo, e a
ajuda de Fábio Ejchel, da Receita Federal. “É um exemplo de como a corrupção e
a sonegação prejudicam o cidadão e aumentam o custo das operações”, disse
Ejchel. Isso a gente já sabe. Quando o Rio de Janeiro decreta “calamidade
pública”, alguém realmente acredita que foi por causa apenas do preço do barril
do petróleo? Ou é o preço cobrado pela desonestidade de nossos sultões?
Se for verdade que, de cada R$ 1 cobrado mensalmente de cada
servidor federal como taxa para manter o empréstimo consignado, só 30 centavos
eram usados para o fim declarado e 70 centavos eram desviados como propina para
a Consist... e que, dessa propina de R$ 100 milhões, um terço foi passado a
Paulo Bernardo e outros no Ministério do Planejamento e dois terços para o
PT... se tudo isso for comprovado, será a desmoralização do partido. A nota do
PT diz que “o PT não tem nada a esconder”.
O esquema com a Consist, revelado pelo jornal O Globo em
agosto, saiu em setembro das mãos do juiz Sergio Moro, em Curitiba, e foi para
a Justiça Federal de São Paulo. “É uma resposta àqueles que celebravam com
champanhe o declínio do caso em Curitiba, para mostrar que não é só Curitiba
que faz investigação”, afirmou o procurador Andrey Mendonça.
O esquema envolveria os ex-tesoureiros do PT Paulo Ferreira
e João Vaccari Neto e o ministro da Previdência de Dilma Carlos Gabas. Gabas
foi quem levou Dilma na garupa de sua moto Harley-Davidson para passear. Como
era divertida nossa República.
Outro argumento de petistas é que a Operação Custo Brasil
visa desviar o foco “deste governo (Temer) claramente envolvido em desvios”.
Numa semana em que o Supremo Tribunal Federal confirmou Eduardo Cunha como réu,
novamente por unanimidade de 11 votos a zero, é difícil crer que as investigações
sejam seletivas ou políticas.
Com a ampliação das operações da Polícia Federal contra “o
câncer da corrupção”, não há hoje na política quem ri por último, mas quem
chora por último. Aconselha-se que ninguém celebre a prisão do outro. Nenhum
partido está em condições de festejar. Está em jogo não “a propina de cada um”,
mas o aparelhamento, ano a ano, de um Estado acusado de agir com má-fé contra a
população, e com apoio de políticos de vários matizes ideológicos.
A cada nova temporada, o seriado da Lava Jato parece se
reinventar com a entrada de coadjuvantes, até que todos os atores sejam
eliminados. O cadáver de um empresário foragido, envolvido na Operação
Turbulência, surgiu num motel em Pernambuco. Suicídio ou assassinato?
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