sábado, 15 de outubro de 2016

O MESMO HADDAD ATÉ O FIM

Numa coisa o prefeito Fernando Haddad mantém inabalável coerência: a improvisação e a falta de planejamento sempre foram e continuam sendo uma constante do seu governo, mesmo neste final melancólico. Uma das provas disso é o vaivém das medidas adotadas com relação ao Uber, outros aplicativos de transporte semelhantes e o serviço de táxi. A última delas muda regras que ele próprio estabeleceu – sem ter tido o cuidado de então avaliar devidamente as suas consequências –, com o objetivo de evitar que, com base nelas, o Uber domine esse mercado.
A Prefeitura vai mudar a taxa cobrada de todos os aplicativos, hoje de R$ 0,10 por quilômetro percorrido por seus carros, mas de tal forma que as viagens feitas pelo Uber fiquem mais caras do que as de seus concorrentes – o Cabify, o 99Pop e o Easy Go. Após os carros circularem um total de 7.500 quilômetros, haverá uma sobretaxa de 10%, chegando a R$ 0,11. Foram criadas também outras cinco faixas que podem levar a tarifa até um máximo de R$ 0,30. Tudo isso de uma maneira que, na prática, o aumento afete apenas o Uber.
O que se pretende com essa mudança é tornar os outros aplicativos mais atraentes e impedir que o Uber – que já tem a maior parte dos veículos que atuam nesse sistema – controle o mercado. “O consumidor pode achar que tem vantagem com a cobrança mais barata”, disse Haddad referindo-se certamente ao Uber, “mas essa vantagem é temporária. Se uma empresa tem um porcentual exagerado do mercado, ela pode criar um monopólio.” Entre os problemas que uma posição dominante do Uber criaria, operando com tarifa muito barata, estaria, segundo o prefeito, uma competição desleal com os taxistas.
O que Haddad diz agora para justificar a medida anunciada é verdade. Mas por que ele não percebeu isso antes? Pela simples e boa razão de que as medidas tomadas por ele, em relação tanto ao Uber como aos táxis, não foram precedidas por estudos técnicos destinados a medir seus impactos. Por isso, foram logo substituídas por outras ou não tiveram parâmetros que orientassem sua reavaliação a tempo.
Além da bisonha regulamentação do Uber, as medidas tomadas por Haddad em relação aos táxis trazem a marca da improvisação, que ameaça desorganizar esse serviço. Restringiu, sob o argumento de que eles reduziam a velocidade dos ônibus, e depois – sem explicar por que o argumento deixara de valer – liberou a circulação de táxis pelos corredores e faixas exclusivas, como compensação pela regulamentação do Uber.
Criou o táxi preto, de melhor padrão, sorteando 5 mil alvarás e exigindo dos que a ele aderiram investimentos que seriam compensados por sua tarifa mais elevada. Menos de um ano depois, igualou as tarifas dos vários tipos de táxi – comum, comum-rádio, especial, preto e luxo – à da categoria mais popular, do táxi comum, alegando que isso facilitaria a concorrência com o Uber. A medida descontentou a todos, a começar pelos que tiveram de investir para satisfazer as exigências das categorias mais elevadas e por isso ficaram em dificuldade para pagar a conta. E tanto não melhorou as condições de concorrência com o Uber, que para isso a Prefeitura aumenta agora a tarifa desse serviço.
O Uber se apressou a dizer, a respeito do aumento da tarifa, que “é importante lembrar que limites arbitrários criam sistemas ineficientes, fazendo com que os preços subam para o consumidor”, deixando entender que vai tentar resistir à mudança, contando com a simpatia de seus clientes, o que é uma atitude legítima da parte de qualquer empresa.
O resultado de tudo isso é que, com sua improvisação e suas trapalhadas, Haddad desorganizou o serviço de transporte individual de passageiros e desagradou a todos. Ao Uber, que trouxe inegáveis vantagens de conforto e preço e por isso é hoje uma realidade da qual não se pode fugir; aos outros aplicativos, que têm dificuldades de enfrentá-lo; e aos táxis, serviço mais antigo, confiável e que tem ainda importante papel a desempenhar.
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