Do blog do Fernando Rodrigues
Um fuzil modelo AK-47 de fabricação norte-coreana, um par de
chuteiras personalizadas e presentes de Emilio Odebrecht, Eduardo Campos e até
Aécio Neves.
Esses são alguns dos itens que compõem a “tralha” do
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, um acervo de 9.037 peças acumulado
pelo petista durante os 8 anos em que ocupou a Presidência da República
(2003-2010).
As informações são do repórter do UOL André Shalders.
Um levantamento minucioso foi apresentado pelo diretor do
Instituto Lula, Paulo Okamotto, ao juiz Sérgio Moro. São 987 páginas de
fotografias e uma planilha de 1.032 páginas descrevendo todos os itens.
O material entregue por Okamotto é possivelmente a mais
detalhada descrição já feita da “tralha” de Lula, como o próprio petista se
refere ao acervo. Acesse ao final deste post a planilha que descreve os itens e
mostra as fotografias das peças, na íntegra.
A quinquilharia está no centro de uma das denúncias
dirigidas pela força-tarefa da Lava Jato ao ex-presidente.
Para os procuradores em Curitiba, a empreiteira OAS pagou
propina a Lula quando bancou o armazenamento do acervo. Ao final do mandato, o
ex-presidente não tinha onde colocar os objetos. A empresa desembolsou R$1,3
milhão para que a transportadora Granero guardasse a coleção.
Na manifestação que acompanha a lista, Okamotto admite ter
pedido ajuda à empreiteira para guardar os itens. Ele diz, porém, que os
procuradores não conseguiram relacionar o pagamento a alguma vantagem obtida
pela OAS.
A maior parte do acervo de Lula é composta de itens sem
valor comercial. São principalmente camisetas, pinturas retratando o
ex-presidente e a mulher, Marisa Letícia, e centenas de bonés. Estatuetas,
imagens sacras e troféus também estão no acervo.
A coleção tem alguns objetos valiosos. A expressão “em ouro”
aparece 40 vezes na lista dos presentes recebidos por Lula. Veja aqui fotos
destes itens de valor e uma descrição de cada um.
A lista traz, ainda, vários presentes recebidos por Lula de
políticos, inclusive de alguns que depois se afastaram do ex-presidente.
No fim de 2003, por exemplo, o senador Aécio Neves (PSDB-MG)
enviou a Lula um par de taças de vinho em estanho, produzidas em São João
del-Rei (MG). “Caro presidente e amigo Lula, com meus cumprimentos pelo êxito
do primeiro ano [na presidência], sugiro-lhe um brinde nas taças de estanho de
São João del-Rei, sob a inspiração da história e da poesia de Minas. Tenha um
feliz Natal e um grande 2004, extensivos a D. Marisa. Do amigo Aécio”.
Outro que presenteou Lula foi Eduardo Campos (1965-2014). O
pernambucano foi aliado do PT até o final de 2012, quando o PSB rompeu com o
governo de Dilma Rousseff. Campos enviou 4 peças de artesanato típico
pernambucano a Lula, mas o acervo não traz a data em que os presentes foram
entregues.
FUZIL DA GUERRILHA E CHUTEIRA DA EMBRAPA
Alguns itens se destacam. É o caso do fuzil de guerra do
tipo AK-47, fixado em uma base de madeira. A arma mede 90 cm de comprimento e
foi fabricada na Coreia do Norte.
Na caixa de madeira, uma inscrição com o brasão da república
de El Salvador explica (em espanhol) a origem da arma: “Foi utilizado por
forças da Frente Farabundo Marti para a Libertação Nacional [FMLN, um grupo
guerrilheiro] na guerra de El Salvador, na frente oriental, entre os anos de
1988 e 1991”.
O AK-47 foi criado na antiga União Soviética em 1947.
Resistente e simples de manusear, tornou-se a arma preferida de guerrilheiros
em todo o mundo e inspirou as gerações seguintes de rifles de assalto. Réplicas
foram fabricadas em muitos países.
O levantamento de Okamotto não esclarece quem presenteou
Lula com a arma e nem a data.
Outro item curioso é uma chuteira personalizada, com o nome
do ex-presidente e a logomarca da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa
Agropecuária). O calçado de cor preta e tamanho 42 foi entregue a Lula pelo
engenheiro agrônomo Clayton Campanhola em julho de 2004. Campanhola presidiu a
Embrapa no começo do governo de Lula.
RESPOSTA À ACUSAÇÃO
O levantamento foi entregue por Okamotto junto de uma
“resposta à acusação” na ação penal que apura o suposto pagamento de propina.
Leia aqui a íntegra da manifestação.
Okamotto disse ter recebido um pedido do ex-ministro
Gilberto Carvalho, no fim do governo Lula, para que “providenciasse um destino”
para os objetos. Ele pediu ajuda a Léo Pinheiro, então chefe da OAS.
Para Okamotto, os investigadores não conseguiram ligar o
pagamento da armazenagem do acervo de Lula a nenhuma vantagem recebida pela OAS
na Petrobras.
“Dito de outro modo, a denúncia não apresentou suporte
probatório para demonstrar que o valor pago pela OAS à Granero estava
relacionado a um ato de corrupção cometido em desfavor da Petrobras”, escreveu
a defesa do petista.
CONHEÇA O ACERVO
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