quarta-feira, 16 de novembro de 2016

INOVAÇÃO E CLIMA

Suzana Kahn, O Globo
Após a ratificação do Acordo de Paris, celebrado por muitos, ocorre até sexta-feira, em Marrakech, a 22ª Conferência das Partes sobre Mudança do Clima (COP22), que discute a implementação do referido acordo e o plano de ação dos países signatários. Apesar da incerteza gerada com a eleição de Donald Trump, as delegações continuam negociando as regras que nortearão o Acordo, baseando-se na suposição de que não há espaço para retrocesso.
O Brasil apresentou suas metas de redução de emissão de gases de efeito estufa, que possivelmente cumprirá com facilidade. No entanto, o que se almeja não é simplesmente a redução das emissões, pois uma recessão é capaz de dar conta de nosso compromisso, mas, sim, o desenvolvimento sustentável do país.
Uma das formas é através de inovação da indústria, aumentando seu valor agregado, gerando empregos qualificados e expandindo a receita, devido à maior independência tecnológica. É importante destacar que a inovação deve ser entendida como um processo com três fases fundamentais.
A primeira está associada ao avanço do conhecimento científico e a segunda, à transformação da ciência, fase de laboratórios, protótipos, experimentos, ainda na órbita dos institutos de pesquisa e universidades. A última fase é a de produção de algo inovador, incluindo projeto básico de engenharia, testes de verificação e validação, design, licenciamento e colocação no mercado. É exatamente aí que o Brasil estaciona.
Há uma grande distância entre inovação na indústria e conhecimento científico. Nossas universidades e centros de pesquisa têm toda a capacidade de chegar à segunda etapa do processo. Dessa forma, o primeiro passo para desenharmos o plano de ação do cumprimento do Acordo de Paris é criarmos um canal entre os “produtores de ciência” e aqueles que devem “consumi-la”.
Apenas para ilustrar este ponto, tomemos a energia eólica, que aumenta sua participação em todo o mundo, inclusive no Brasil. Isso ocorre por causa do desenvolvimento tecnológico, ganho de escala e valorização das renováveis em substituição aos combustíveis fósseis. O Brasil atraiu inúmeras indústrias de aerogeradores, mas que são, em geral, montadoras com produção local apenas de algumas partes predominantemente pesadas ou de grande volume, como pás e torres. Com isso, essas indústrias atendem a critérios de índice de nacionalização baseados em peso, mas não em valor. As demais partes, com maior valor tecnológico agregado, ainda são importadas, criando forte dependência tecnológica.
Vale lembrar que uma das metas do Brasil no Acordo de Paris é o aumento da participação de renováveis em nossa matriz energética, o que sinaliza o crescente mercado nacional para essa indústria. Inúmeros eixos de desenvolvimento de uma indústria inovadora são possíveis e estratégicos para o país, independente de nossas metas de redução de emissão.
Como na COP22 se inicia o processo para desenhar um plano de desenvolvimento de longo prazo para o país, é oportuno que haja uma sincronia de políticas nacionais visando à construção de uma ponte entre as competências das universidades e dos empreendedores, pequenos ou grandes. Só assim, para além de Marrakech, por volta de 2030, poderemos ser um país com menor emissão de carbono, desenvolvido e com indústria inovadora.
Além das metas, almeja-se o crescimento sustentável do país.
Suzana Kahn é presidente do Comitê Coefficient do Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas
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