O Ministério Público Federal investiga o repasse de R$ 89,5
milhões para empresas ligadas ao operador financeiro Adir Assad e para o
advogado Rodrigo Tacla Duran --alvos da 36ª fase da Operação Lava Jato-- por
dois consórcios e empreiteiras que executaram as obras de ampliação da marginal
Tietê, na capital paulista, entre 2009 e 2011.
Os repasses constam de relatórios anexados pela Procuradoria
da República em Curitiba no pedido de busca e de prisões que embasaram a ação
da Polícia Federal, batizada de Dragão. A força-tarefa da Lava Jato atribui a
Assad e a Duran o papel de "operadores financeiros especializados na
lavagem de capitais de grandes empreiteiras".
A obra que ampliou as pistas da marginal foi resultado de um
convênio entre o governo de São Paulo, na época comandado pelo atual ministro
das Relações Exteriores, José Serra (PSDB), e a prefeitura na gestão de
Gilberto Kassab (PSD), atual ministro de Ciência, Tecnologia, Inovações e
Comunicações do governo Michel Temer.
Os consórcios Nova Marginal Tietê (Delta Engenharia e
Sobrenco) e Desenvolvimento Viário (EIT e Egesa) foram contratados pela estatal
paulista Dersa, responsável pela licitação, por um valor total de R$ 816,9
milhões. Os repasses considerados suspeitos pelos procuradores foram feitos
diretamente para três empresas ligadas a Assad e para um escritório de
advocacia de Duran.
Investigadores concluíram que empresas ligadas aos
operadores "revelaram-se pessoas jurídicas sem funcionamento real, ou
seja, sem estrutura física ou pessoal para prestar os serviços pelos quais
foram contratadas". "Em outros termos, revelaram-se como meras
pessoas jurídicas interpostas em operações de lavagem de capitais", afirma
o relatório do MPF.
Alvo de mandado de prisão na 36ª fase da Lava Jato, Duran
não foi localizado e foi incluído na lista da Interpol como foragido. Assad já
estava preso na capital paranaense desde agosto por ordem do juiz Sérgio Moro.
Ele foi investigado também na Operação Monte Carlo, em 2012, por relações com a
Delta e Carlos Augusto de Almeida Ramos, o Carlinhos Cachoeira.
Formado pela Delta e Sobrenco, o Consórcio Nova Marginal
Tietê recebeu ao todo R$ 360 milhões para a execução do lote 2 que previa a
abertura de vias da Ponte das Bandeiras, no centro, até a Rua Ulisses Cruz,
perto do Parque do Piqueri, na zona leste. O consórcio repassou R$ 37 milhões
para a Legend Engenheiros Associados, empresa ligada a Assad.
Já o Consórcio Desenvolvimento Viário ficou responsável por
obras em 18,32 km, considerando os dois sentidos da via, entre a Ponte da CPTM
e a Ponte das Bandeiras. Para isso, recebeu R$ 456,9 milhões da Dersa. Conforme
o MPF, a associação entre a EIT e Egesa pagou à JSM Engenharia e Terraplenagem
R$ 20,8 milhões e R$ 16,1 milhões à SM Terraplenagem, ambas vinculadas a Assad.
O grupo EIT repassou ainda R$ 11,9 milhões à JSM Engenharia e outros R$ 3,7
milhões ao escritório de advocacia de Duran.
A força-tarefa em Curitiba investiga se os pagamentos
efetuados pelos consórcios e por empresas líderes estão relacionados a desvios
na obra da Nova Marginal. Caso a suspeita se confirme, a investigação deve ser
encaminhada para a Procuradoria da República em São Paulo. Os procuradores já
apuraram que em um período que compreende os pagamentos dos consórcios da Nova
Marginal para pessoas jurídicas ligadas a Assad, entre 2007 e 2010, empresas do
operador fizeram aportes de R$ 17 milhões para a Econocell, vinculada a Duran.
Denúncia
O Consórcio Nova Marginal já foi alvo de denúncia oferecida
pelo Ministério Público de São Paulo. Segundo o promotor Marcelo Mendroni,
responsável pela acusação formal, o consórcio recebeu aditivos irregulares de
R$ 71 milhões. A denúncia foi encaminhada à 14ª Vara Criminal de São Paulo. O
dono da Delta, Fernando Cavendish, Assad e outras quatro pessoas foram acusados
de formação de quadrilha, lavagem de dinheiro e falsidade ideológica. A
denúncia não atinge agentes públicos ou servidores do Estado.
Cavendish, que está preso no âmbito da Operação Saqueador
(desdobramento da Monte Carlo), negocia um acordo de delação premiada com a
Procuradoria-Geral da República (PGR). Na proposta de colaboração, o empresário
relacionou pagamentos às empresas de Assad a repasses a agentes públicos e
citou o ex-diretor da Dersa Paulo Vieira de Souza - que foi um dos responsáveis
pela assinatura do contrato pelo governo paulista.
Defesas
A Dersa informou que todos os pagamentos referentes às obras
do empreendimento Nova Marginal Tietê foram realizados diretamente aos
consórcios contratados e nenhum pagamento foi efetuado às empresas de Adir
Assad e Rodrigo Tacla Duran. "A Dersa não realizou nenhum pagamento às
empresas denunciadas."
O ex-diretor da autarquia estadual Paulo Vieira Souza disse
que nunca manteve contato com as empresas de Assad e Duran.
A assessoria do ministro de Ciência, Tecnologia, Inovações e
Comunicações, Gilberto Kassab (PSD), afirmou que na época a prefeitura apenas
"prestou apoio técnico e logístico, conforme previsto na legislação, desde
o início até a conclusão" das obras.
A reportagem procurou Antonio Figueiredo Basto e Miguel
Pereira Neto, respectivamente, advogados da EIT Engenharia e de Assad, mas eles
não responderam. A defesa de Fernando Cavendish e da Delta não foi localizada.
A reportagem não conseguiu contato nesta terça-feira, 15, com a Egesa e a
Sobrenco. Procurada, a assessoria do ministro José Serra não havia respondido
até a conclusão desta edição. As informações são do jornal "O Estado de S.
Paulo", via UOL.
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