quinta-feira, 24 de novembro de 2016

OS GRITOS DE CLARISSA

Artur Xexéo, O Globo
Muita gente se apiedou dos gritos de Clarissa Garotinho diante do pai, o ex-governador Anthony Garotinho, sendo transferido de ambulância do Hospital Souza Aguiar para o Complexo Penitenciário de Bangu. Não entendo essas almas piedosas. O sujeito comprava votos, explorava o povo, pena de quê? Ah, mas pai é pai, explicam-me os que se comoveram com a gritaria de Clarissa. Ele está doente, precisa de cuidados médicos que não encontraria no presídio.
Confesso que tenho dificuldade em sentir pena de Clarissa Garotinho. Para mim, ela é uma garota mimada, acostumada a resolver as coisas no grito. Lembro-me bem de que, na época das manifestações de 2013, ela costumava estacionar um carro de som em frente à redação do GLOBO e ficava gritando palavras de ordem contra o jornal. Como gritava!
A confusão que culminou na ambulância do Souza Aguiar começou antes da gritaria de Clarissa ser gravada por dezenas de câmeras de telefones celulares. Como Garotinho, já preso pela Polícia Federal, apresentou sintomas de uma suposta angina, a família do ex-governador resolveu transferi-lo para o Copa D’Or. Iria de um hospital público, sem condições de um serviço mais sofisticado, para um hospital particular, estrela do atendimento hospitalar no Rio. Mas o plano de saúde de Garotinho não dá direito à internação no Copa D’Or. A ideia, então, seria levá-lo para o Quinta D’Or, da mesma rede, mas menos aristocrático. O esforço foi em vão. A Justiça não deixou Garotinho passear pelos hospitais particulares cariocas e determinou que ele fosse atendido pela Unidade de Pronto Atendimento de Bangu. Se vira nos 30, foi o recado. Só aí começou a gritaria costumeira de Clarissa.
No fim das contas, a Justiça, em segunda instância, autorizou a ida de Garotinho para uma clínica privada. Os gritos de Clarissa de nada adiantaram. Foi uma questão resolvida entre advogados e juízes. Como deve ser. De qualquer maneira, não deixa de ser irônico que Garotinho tenha rejeitado tanto a possibilidade de ficar num hospital público. Logo ele que, ao lado da mulher, é responsável por oito anos de comando do governo fluminense, o que inclui a gestão de hospitais públicos. Sempre se pode alegar que o Souza Aguiar é um hospital municipal, mas a UPA de Bangu é estadual. Dá para concluir que, na cabeça da Família Garotinho, hospital público na angina dos outros é refresco.
Garotinho justificou sua aversão pelo perigo que supostamente corria ao ser enclausurado com um traficante que ele teria mandado para a cadeia. Foi por isso que esperneou. Garotinho não tem direito a prisão especial. Bem feito. Quem mandou não estudar?
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A outra prisão de celebridade desta semana, como todo mundo sabe, foi a do ex-governador Sérgio Cabral. Muita gente imagina que este colunista está comemorando. Muita gente acha que eu odeio o Sérgio Cabral. Vou esclarecer essa questão. Não tenho nada contra Cabral. Só estranhei que, quando o governador Pezão começou a escancarar a precária situação financeira do estado, ninguém tenha cobrado dele sua parte na responsabilidade dessa falência. Cadê o Sérgio Cabral?, perguntei aqui algumas vezes. A manchete do GLOBO, enfim, me respondeu na sexta-feira: “Cabral é descoberto”. Os sinais de enriquecimento ilícito eram evidentes há algum tempo. Os sinais de ostentação cafajeste estavam à mostra. Que bom que descobriram. Antes tarde do que nunca. Mas nem por isso estou comemorando. Fico pensando o que o Rio de Janeiro fez de errado para merecer dois ex-governadores presos por corrupção. Além de votar, é claro. Faz tempo que o Rio vota errado. E as prisões de Garotinho e Cabral só reforçam isso.
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Pezão vai me desculpar, mas é difícil acreditar que, como vice de Sérgio Cabral, ele não tenha desconfiado do que estava acontecendo. Nem que fosse pela variedade de relógios estrangeiros que o ex-governador usava.
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E a Adriana Ancelmo, hein? Pela lista de clientes que conseguiu para seu escritório, só pode ser a melhor advogada do Brasil. 
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