Artur Xexéo, O Globo
Muita gente se apiedou dos gritos de Clarissa Garotinho
diante do pai, o ex-governador Anthony Garotinho, sendo transferido de
ambulância do Hospital Souza Aguiar para o Complexo Penitenciário de Bangu. Não
entendo essas almas piedosas. O sujeito comprava votos, explorava o povo, pena
de quê? Ah, mas pai é pai, explicam-me os que se comoveram com a gritaria de
Clarissa. Ele está doente, precisa de cuidados médicos que não encontraria no
presídio.
Confesso que tenho dificuldade em sentir pena de Clarissa
Garotinho. Para mim, ela é uma garota mimada, acostumada a resolver as coisas
no grito. Lembro-me bem de que, na época das manifestações de 2013, ela
costumava estacionar um carro de som em frente à redação do GLOBO e ficava
gritando palavras de ordem contra o jornal. Como gritava!
A confusão que culminou na ambulância do Souza Aguiar
começou antes da gritaria de Clarissa ser gravada por dezenas de câmeras de
telefones celulares. Como Garotinho, já preso pela Polícia Federal, apresentou
sintomas de uma suposta angina, a família do ex-governador resolveu
transferi-lo para o Copa D’Or. Iria de um hospital público, sem condições de um
serviço mais sofisticado, para um hospital particular, estrela do atendimento
hospitalar no Rio. Mas o plano de saúde de Garotinho não dá direito à
internação no Copa D’Or. A ideia, então, seria levá-lo para o Quinta D’Or, da
mesma rede, mas menos aristocrático. O esforço foi em vão. A Justiça não deixou
Garotinho passear pelos hospitais particulares cariocas e determinou que ele
fosse atendido pela Unidade de Pronto Atendimento de Bangu. Se vira nos 30, foi
o recado. Só aí começou a gritaria costumeira de Clarissa.
No fim das contas, a Justiça, em segunda instância, autorizou
a ida de Garotinho para uma clínica privada. Os gritos de Clarissa de nada
adiantaram. Foi uma questão resolvida entre advogados e juízes. Como deve ser.
De qualquer maneira, não deixa de ser irônico que Garotinho tenha rejeitado
tanto a possibilidade de ficar num hospital público. Logo ele que, ao lado da
mulher, é responsável por oito anos de comando do governo fluminense, o que
inclui a gestão de hospitais públicos. Sempre se pode alegar que o Souza Aguiar
é um hospital municipal, mas a UPA de Bangu é estadual. Dá para concluir que,
na cabeça da Família Garotinho, hospital público na angina dos outros é
refresco.
Garotinho justificou sua aversão pelo perigo que
supostamente corria ao ser enclausurado com um traficante que ele teria mandado
para a cadeia. Foi por isso que esperneou. Garotinho não tem direito a prisão
especial. Bem feito. Quem mandou não estudar?
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A outra prisão de celebridade desta semana, como todo mundo
sabe, foi a do ex-governador Sérgio Cabral. Muita gente imagina que este colunista
está comemorando. Muita gente acha que eu odeio o Sérgio Cabral. Vou esclarecer
essa questão. Não tenho nada contra Cabral. Só estranhei que, quando o
governador Pezão começou a escancarar a precária situação financeira do estado,
ninguém tenha cobrado dele sua parte na responsabilidade dessa falência. Cadê o
Sérgio Cabral?, perguntei aqui algumas vezes. A manchete do GLOBO, enfim, me
respondeu na sexta-feira: “Cabral é descoberto”. Os sinais de enriquecimento
ilícito eram evidentes há algum tempo. Os sinais de ostentação cafajeste
estavam à mostra. Que bom que descobriram. Antes tarde do que nunca. Mas nem
por isso estou comemorando. Fico pensando o que o Rio de Janeiro fez de errado
para merecer dois ex-governadores presos por corrupção. Além de votar, é claro.
Faz tempo que o Rio vota errado. E as prisões de Garotinho e Cabral só reforçam
isso.
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Pezão vai me desculpar, mas é difícil acreditar que, como
vice de Sérgio Cabral, ele não tenha desconfiado do que estava acontecendo. Nem
que fosse pela variedade de relógios estrangeiros que o ex-governador usava.
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E a Adriana Ancelmo, hein? Pela lista de clientes que
conseguiu para seu escritório, só pode ser a melhor advogada do Brasil.
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