Editorial, O Estado de S.Paulo
A edição do Estado de domingo passado trouxe mais uma
reportagem da série A Reconstrução do Brasil, desta vez tratando do combate à
corrupção. Mais do que um assunto entre outros da agenda nacional, pôr fim à
impunidade é uma necessidade prioritária, já que a corrupção afeta
negativamente todas as esferas da vida da sociedade e do Estado.
A corrupção não é um mal menor. Ela aumenta a desigualdade
social, afasta os investimentos, piora o ambiente de negócios, dificulta a
criação de empregos, prejudica a qualidade dos serviços públicos, entre outros
danos.
Faz-se necessário relembrar os males da corrupção, pois – de
forma similar ao que ocorreu nos anos 1960, com o bordão “rouba, mas faz”, dos
apoiadores de Ademar de Barros, ex-governador de São Paulo – observa-se
atualmente nova tentativa de justificar a corrupção. “Com a descoberta do
mensalão, em meados da década passada, e de maneira mais enfática agora, com o
petrolão, um contingente expressivo de militantes e simpatizantes do PT fechou
os olhos para as acusações de corrupção sofridas pelo partido e continuou a
apoiá-lo, com o argumento de que o principal é o que ele faz pelos mais pobres.
Numa adaptação livre do velho bordão de Ademar, é como se dissessem que o PT
‘rouba, mas distribui’. Ou, então, que ‘rouba, mas faz obra social’. Na
essência, são duas maneiras semelhantes de tentar justificar o mesmo fenômeno,
que contamina o País e afeta a vida dos cidadãos e das empresas – a pilhagem de
dinheiro público”, dizia a reportagem de José Fucs.
Felizmente, nas ruas e nas urnas, a população não tem
concordado com esse tipo de lassidão ética, manifestando clara oposição a
qualquer sinal de tolerância com a corrupção. Sintoma desse cansaço com a
impunidade é a adesão popular a toda proposta de combate à corrupção, como se
viu com os mais de 2 milhões de assinaturas a favor das medidas anticorrupção
propostas pelo Ministério Público Federal. Mais do que um aval definitivo e
integral ao conteúdo da proposta – que exige cuidadoso estudo pelo Congresso
Nacional –, o massivo apoio indica o grau de ojeriza da sociedade em relação à
corrupção.
O clamor social pelo fim da impunidade não é uma reação
histérica ou desproporcional. As investigações da Lava Jato dão inequívocas
mostras de como a corrupção se instalou no Estado brasileiro, permeando de
forma sistemática as relações entre a administração pública, os partidos
políticos e a iniciativa privada. Segundo a Polícia Federal, o propinoduto montado
na Petrobrás, envolvendo PT, PMDB e PP, deixou um prejuízo de R$ 42,8 bilhões.
Um estudo do Fórum Econômico Mundial indicou que o Brasil só
fica à frente da Venezuela e do Chade, empatado com a Bolívia, na lista dos
países mais corruptos do mundo. E os números internos corroboram a
classificação internacional. Segundo estimativa da Federação das Indústrias do
Estado de São Paulo (Fiesp), feita em 2010, as perdas geradas por corrupção no
País alcançam entre 1,38% (R$ 80 bilhões) e 2,3% (R$ 140 bilhões) do Produto
Interno Bruto (PIB).
“Em comparação com outros países, a corrupção no Brasil é
bem diferente, por ser altamente concentrada na esfera política”, afirmou o
professor Matthew M. Taylor, da Universidade Americana, em Washington, nos
Estados Unidos. Longe de significar uma desculpa para a corrupção – coisa que,
de forma nada isenta, agora desejam os adeptos do lulopetismo –, sua
proximidade com a esfera política revela a profunda injustiça social que
comporta todo e qualquer desvio de dinheiro público.
Ao diminuir a eficiência do setor público e desviar recursos
dos contribuintes do destino que deveria ser dado a eles, a corrupção prejudica
especialmente quem mais precisa dos serviços públicos. Por exemplo, ela afeta a
qualidade da escola pública e do sistema público de saúde dos quais mais
dependem os que dispõem de menos recursos. O combate à impunidade não é,
portanto, uma bandeira elitista. Deve ser uma prioridade para todos que anseiam
pela reconstrução do Brasil.
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