Da ISTOÉ
O Rio de Janeiro sente as chagas deixadas pela corrupção
endêmica e pela irresponsabilidade administrativa sem limites. Gestores se
lambuzaram na fartura de recursos do pré-sal, nas concessões irrestritas
lançadas de maneira inconsequente na era Lula/Dilma, nos aportes da Copa do
Mundo, da Olimpíada, no dinheiro que jorrava sem controle. E fizeram a festa.
Quebraram o Estado. Saquearam o cofre. Mandaram às favas qualquer compromisso
fiscal. Deixaram de lado o planejamento, a preocupação com provisão para
eventuais apertos de caixa. Gastaram descontroladamente e desviaram mais ainda.
O cenário mudou. A crise econômica, a crise do petróleo, a crise da instabilidade,
a crise-mãe de todas as crises com o impeachment tomaram conta. E eles não
estavam preparados. Não reservaram sequer um minuto de preocupação com o avanço
do risco. Era tudo uma grande farra. A conta veio. Pesada. Implacável.
Deprimente decadência do poder público enxerga-se naquelas paragens, causando
estupor no Brasil e no Mundo. Vivem-se dias de caos por ali com arruaceiros
organizando rebeliões. Quebra-quebras e confrontos são constantes. Inclusive
deserções das forças convocadas a marchar pela ordem. A Cidade Maravilhosa
agora é símbolo de uma tragédia prenunciada nas falcatruas, conchavos e
fisiologismo de homens públicos que não deram o menor respeito ao voto recebido
nas urnas. Dois ex-governadores presos em menos de 24 horas. O atual, Pezão, sitiado,
jogando a toalha, perdendo por completo o controle da máquina, à mercê de
baderneiros que tentam impor a ideia do quanto pior, melhor. O pacote de
austeridade, com restrições agudas, recaiu sobre os servidores e a reação foi
grande. Faz sentido. Em um governo marcado por distorções absurdas, privilégios
ao Legislativo e ao Executivo são mantidos enquanto trabalhadores têm de pagar
o pato. Mordomias de transporte, de subvenção de combustível e até para a
compra de mil selos per capita aos parlamentares fluminenses persistem enquanto
hospitais, escolas e salários ficam à míngua.
Há uma desfaçatez tremenda de políticos que não cessa nem
mesmo com a evidente saturação da sociedade sobre o seu comportamento. A turma
de parlamentares federais que faz agora de tudo para barrar as medidas
anticorrupção e que tenta anistiar o caixa dois também se encontra nessa
categoria deplorável de figuras que usam e abusam do cargo para advogar em
causa própria. Só isso explica a forma como essa gente atua para travestir de
corretas suas más intenções. A defesa do foro privilegiado e de todos os
privilégios, a delinquente atuação para limitar o arco de investigações da
Lava-Jato, a protelação imoral do projeto que estabelece um teto de gastos (em
respeito aos recursos dos brasileiros pagadores de impostos e cumpridores do
dever) são manobras de quem não está nem aí com o futuro e a estabilidade da
Nação. E o povo, carente de líderes diligentes do patrimônio, entra em
parafuso. Loucos extremistas, agindo como “Black blocs” que a tudo querem
destruir, se aproveitam do momento para por em anarquia o ambiente. Ditam o
ritmo de aberrações durante os protestos. Aconteceu em Brasília tal qual no
Rio. Invadiram o Congresso. Promoveram a bagunça. Violentaram o poder
constituído e vandalizaram instalações, fazendo da Câmara o seu picadeiro de
pilhérias. Fascistas ensandecidos pregaram a volta dos militares. Enalteceram a
ignóbil ditadura dos anos de chumbo. Precisam receber repúdio e punição
exemplares pelo desrespeito e por suas práticas deletérias. Erraram e continuam
a errar muitos. Principalmente as autoridades que deixaram o País alcançar
tamanho estágio de convulsões. Não é possível crer em solução adequada sem a
investigação a fundo pela banca da justiça sobre os responsáveis por tamanho
estrago. Doa a quem doer, facínoras de qualquer escalão precisam ir parar atrás
das grades. Somente após a limpeza ética será possível experimentar um sopro de
modernidade nas relações políticas, com boas consequências no campo econômico e
social. Sem camaradagens ou proteção à camarilha. No tribunal do povo a
resposta já vem sendo dada como foi possível notar via enxurrada dos votos em
branco, nulos e das abstenções nas eleições municipais – algo passível de
acontecer novamente mais adiante nas disputas majoritárias. O fato insofismável
é que a democracia clama por respeito aos cidadãos. E os políticos precisam
logo acordar para isso ou serão implacavelmente condenados.
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