Da ISTOÉ
Coube ao presidente da República, Michel Temer, uma missão
nada fácil no decorrer de 2016: assumir o comando do País em um momento
conturbado política e economicamente, depois de 13 anos de descalabros da era
petista, principalmente na economia, que chegou até aqui em uma das piores
recessões da história do Brasil e com total descontrole das contas públicas.
Temer não se esquivou. Vice-presidente de Dilma Rousseff nos
seus dois mandatos, afastado gradativamente do dia a dia da gestão por causa do
estilo centralizador da petista, o peemedebista encarou o desafio de colocar o
País nos eixos, realizar reformas estruturais para salvar a economia e voltar a
dialogar com o Congresso Nacional, em um giro de 180º no estilo da sua
antecessora. Para isso, colocou em um dos postos-chave do seu governo, o
Ministério da Fazenda, seu correligionário Henrique Meirelles, respeitado pelo
mercado e cuja credibilidade passou de imediato uma imagem positiva da política
econômica da nova gestão.
A homenagem, Brasileiro do Ano pela revista ISTOÉ, é um voto
de confiança para uma gestão que começou tomando medidas urgentes e necessárias
em direção à austeridade e ao equilíbrio fiscal, mas que ainda terá muito
trabalho pela frente. Logo nos primeiros meses, Temer propôs uma PEC (proposta
de emenda à Constituição) ao Congresso Nacional, em fase final de aprovação,
para conter a escalada dos gastos públicos e reverter os descalabros petistas.
O princípio é evitar que a despesa cresça mais do que a inflação, estabelecendo
limites de gastos para cada um dos Três Poderes. A PEC do Teto dos Gastos já
foi aprovada em dois turnos na Câmara e em primeiro turno no Senado. Sua
votação final está prevista para o próximo dia 13, o que deve permitir a
aplicação das novas regras já no próximo ano.
Outra medida fundamental será a reforma da Previdência, cuja
necessidade é praticamente unânime entre especialistas, mas poucos governantes
tiveram coragem de mexer nesse vespeiro, por ser uma medida extremamente
impopular. Apesar de polêmica, a reforma servirá para reverter o déficit da
Previdência e garantirá uma aposentadoria às futuras gerações. O projeto foi
enviado à Câmara nesta semana e deve ser exaustivamente discutido durante o
próximo ano, até se formar um consenso entre a sociedade, Legislativo e governo
federal. O assunto já tem sido discutido pelo presidente diretamente com as
centrais sindicais.
A construção de pontes, aliás, tem sido a marca da gestão
Temer. Ao contrário de Dilma Rousseff, que não se relacionava com o Parlamento
e mal tinha diálogo com sua própria equipe, o peemedebista adotou um estilo
muito mais respeitoso às demais instituições, principalmente em relação ao
Legislativo. Nada é decidido por ele unilateralmente, mas apenas depois de
construir consensos com seus aliados.
O mar que Michel Temer atravessa, porém, não é só de
calmarias. Em sete meses de gestão, seis ministros deixaram o governo. O último
foi Geddel Vieira Lima (PMDB-BA), seu braço-direito na articulação com o
Congresso, que foi acusado de pressionar seu colega Marcelo Calero, da Cultura,
para que o Iphan liberasse a obra de um edifício de luxo em Salvador no qual
Geddel havia comprado um apartamento. Temer, porém, não teve sua força política
afetada, o que ficou demonstrado pela aprovação da PEC do Teto dos Gastos em
primeiro turno no Senado com votação semelhante à obtida no impeachment de
Dilma Rousseff naquela Casa: 61 senadores favoráveis.
O prêmio Brasileiro do Ano 2016 é um voto de confiança para
uma gestão que começou tomando medidas fundamentais em direção à austeridade e
ao equilíbrio fiscal
O peemedebista começou na vida pública em 1964, como oficial
de gabinete na Secretaria de Educação do governador de São Paulo Adhemar de
Barros, e ocupou a Presidência da Câmara por três vezes, sendo a última no biênio
2009-2010. Formado em direito pela USP, acumula em seu currículo produção
acadêmica na área constitucional, da qual a mais relevante contribuição é o
livro “Elementos de Direito Constitucional”, hoje na 24ª edição. Aos sete anos,
em Tietê (SP), Temer leu no muro da cidade natal a palavra “Temperança” e
correu até a sua casa para procurar o termo no dicionário. Descobriu que
significava moderação. “Adotei isso para toda minha vida”, disse. Essa é uma
característica que ele precisará realçar na sinuosa trilha até 2018. Formal e
hábil, Temer construiu a vida pública como um gestor de crises. Em 40 anos de
trajetória política, só Dilma já o fez perder a cabeça, dizem amigos próximos.
“Temos que aproveitar as crises. A crise, no geral, é mobilizadora das pessoas
e dos governos”, afirma. Não será uma quadra tranqüila, como sugeriu o
turbulento ano de 2016. Os desafios pela frente são muitos. Caberá ao
presidente Michel Temer colocar o País nos trilhos e construir os alicerces
para que os próximos governos retomem o crescimento, a geração de emprego e o
bem-estar social. O Brasil tem pressa.
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