quinta-feira, 15 de dezembro de 2016

O PRESIDENTE DA TRAVESSIA

Da ISTOÉ
Coube ao presidente da República, Michel Temer, uma missão nada fácil no decorrer de 2016: assumir o comando do País em um momento conturbado política e economicamente, depois de 13 anos de descalabros da era petista, principalmente na economia, que chegou até aqui em uma das piores recessões da história do Brasil e com total descontrole das contas públicas.
Temer não se esquivou. Vice-presidente de Dilma Rousseff nos seus dois mandatos, afastado gradativamente do dia a dia da gestão por causa do estilo centralizador da petista, o peemedebista encarou o desafio de colocar o País nos eixos, realizar reformas estruturais para salvar a economia e voltar a dialogar com o Congresso Nacional, em um giro de 180º no estilo da sua antecessora. Para isso, colocou em um dos postos-chave do seu governo, o Ministério da Fazenda, seu correligionário Henrique Meirelles, respeitado pelo mercado e cuja credibilidade passou de imediato uma imagem positiva da política econômica da nova gestão.
A homenagem, Brasileiro do Ano pela revista ISTOÉ, é um voto de confiança para uma gestão que começou tomando medidas urgentes e necessárias em direção à austeridade e ao equilíbrio fiscal, mas que ainda terá muito trabalho pela frente. Logo nos primeiros meses, Temer propôs uma PEC (proposta de emenda à Constituição) ao Congresso Nacional, em fase final de aprovação, para conter a escalada dos gastos públicos e reverter os descalabros petistas. O princípio é evitar que a despesa cresça mais do que a inflação, estabelecendo limites de gastos para cada um dos Três Poderes. A PEC do Teto dos Gastos já foi aprovada em dois turnos na Câmara e em primeiro turno no Senado. Sua votação final está prevista para o próximo dia 13, o que deve permitir a aplicação das novas regras já no próximo ano.
Outra medida fundamental será a reforma da Previdência, cuja necessidade é praticamente unânime entre especialistas, mas poucos governantes tiveram coragem de mexer nesse vespeiro, por ser uma medida extremamente impopular. Apesar de polêmica, a reforma servirá para reverter o déficit da Previdência e garantirá uma aposentadoria às futuras gerações. O projeto foi enviado à Câmara nesta semana e deve ser exaustivamente discutido durante o próximo ano, até se formar um consenso entre a sociedade, Legislativo e governo federal. O assunto já tem sido discutido pelo presidente diretamente com as centrais sindicais.
A construção de pontes, aliás, tem sido a marca da gestão Temer. Ao contrário de Dilma Rousseff, que não se relacionava com o Parlamento e mal tinha diálogo com sua própria equipe, o peemedebista adotou um estilo muito mais respeitoso às demais instituições, principalmente em relação ao Legislativo. Nada é decidido por ele unilateralmente, mas apenas depois de construir consensos com seus aliados.
O mar que Michel Temer atravessa, porém, não é só de calmarias. Em sete meses de gestão, seis ministros deixaram o governo. O último foi Geddel Vieira Lima (PMDB-BA), seu braço-direito na articulação com o Congresso, que foi acusado de pressionar seu colega Marcelo Calero, da Cultura, para que o Iphan liberasse a obra de um edifício de luxo em Salvador no qual Geddel havia comprado um apartamento. Temer, porém, não teve sua força política afetada, o que ficou demonstrado pela aprovação da PEC do Teto dos Gastos em primeiro turno no Senado com votação semelhante à obtida no impeachment de Dilma Rousseff naquela Casa: 61 senadores favoráveis.
O prêmio Brasileiro do Ano 2016 é um voto de confiança para uma gestão que começou tomando medidas fundamentais em direção à austeridade e ao equilíbrio fiscal
O peemedebista começou na vida pública em 1964, como oficial de gabinete na Secretaria de Educação do governador de São Paulo Adhemar de Barros, e ocupou a Presidência da Câmara por três vezes, sendo a última no biênio 2009-2010. Formado em direito pela USP, acumula em seu currículo produção acadêmica na área constitucional, da qual a mais relevante contribuição é o livro “Elementos de Direito Constitucional”, hoje na 24ª edição. Aos sete anos, em Tietê (SP), Temer leu no muro da cidade natal a palavra “Temperança” e correu até a sua casa para procurar o termo no dicionário. Descobriu que significava moderação. “Adotei isso para toda minha vida”, disse. Essa é uma característica que ele precisará realçar na sinuosa trilha até 2018. Formal e hábil, Temer construiu a vida pública como um gestor de crises. Em 40 anos de trajetória política, só Dilma já o fez perder a cabeça, dizem amigos próximos. “Temos que aproveitar as crises. A crise, no geral, é mobilizadora das pessoas e dos governos”, afirma. Não será uma quadra tranqüila, como sugeriu o turbulento ano de 2016. Os desafios pela frente são muitos. Caberá ao presidente Michel Temer colocar o País nos trilhos e construir os alicerces para que os próximos governos retomem o crescimento, a geração de emprego e o bem-estar social. O Brasil tem pressa.
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