terça-feira, 13 de dezembro de 2016

O RIO EM CHAMAS

Da ISTOÉ
Centro do Rio de Janeiro, terça-feira 6. Um grupo de militares fortemente armados invade a Igreja São José, um dos templos coloniais mais antigos e bonitos da capital carioca, onde há passagens tão estreitas que só permitem a caminhada de uma pessoa por vez. Aos tropeços e ruidosamente, com suas pesadas botas, os policiais do Batalhão de Choque passam pelos símbolos sagrados, sobem as escadas correndo e se posicionam nas janelas para atirar balas de borracha e bombas de gás lacrimogêneo nas centenas de manifestantes que protestam em frente à Assembleia Legislativa (Alerj), na vizinha praça Tiradentes. A inaceitável cena virou símbolo da manifestação mais violenta já ocorrida na cidade, onde a população explode em revolta contra a corrupção responsável maior pela falência do Estado e dos serviços públicos . Quatro meses depois de se tornar a capital do mundo ao sediar a Olimpíada, o Rio volta a chamar a atenção, mas agora de forma negativa.
Os servidores, e a sociedade em geral, se negam a aceitar o arrocho proposto no pacote anticrise enviado para votação dos deputados pelo governador Luiz Fernando Pezão (PMDB), que tem sido votado em partes na Alerj. Calcula-se que a polícia tenha arremessado pelo menos 50 bombas, além de utilizar spray de pimenta e balas de borracha. Já os manifestantes revidaram com morteiros, rojões e pedras. Ao final, 30 pessoas, entre civis e militares, ficaram feridas e nove foram levadas para prestar depoimento em delegacias (leia quadro). Nas grades e tapumes colocados açodadamente para impedir a invasão à Alerj, ainda há cartazes com frases que não deixam dúvidas sobre a ligação direta entre a descoberta de que o ex-governador Sergio Cabral seria o comandante de uma organização criminosa que teria recebido mais de R$ 220 milhões em propinas e a explosão da violência. “Por que temos que pagar pelos crimes de vocês?”, diz uma das frases.
Segundo o procurador da República Leonardo Cardoso de Freitas, “a crise aguda que o Rio vive, sem dúvida nenhuma, seria menor se toda essa corrupção e desgoverno que acompanha a corrupção não tivessem sido praticados nesse passado recente.” A prática de propinas e apropriação indevida de recursos públicos, que vem sendo revelada pelos vários braços da operação Lava Jato, atinge todo o País e foi a causa central das mobilizações que ocorreram no domingo 4. Mas o Rio é o primeiro a emitir o alerta vermelho em grau máximo. As imagens da cidade, cuja alcunha é ‘maravilhosa’, ardendo em chamas circulou pelo mundo e consiste na parte mais visível e assustadora do “custo-corrupção”, como escreveu o juiz Marcelo Bretas, da 7.ª Vara Federal Criminal, no despacho que determinava a prisão de Cabral, hoje no Complexo Penitenciário de Gericinó, antigo Bangu, como parte da Operação Calicute, da Lava Jato.
Quem paga a conta?
Segundo ele, com a “corrosão dos orçamentos, toda a sociedade vem a ser chamada a cobrir seguidos rombos.” Só que ninguém mais aceita passivamente o pagamento dessa fatura. Há quase três meses, servidores da Justiça estão em greve e lutam contra o “pacote do Pezão”, como disse Amarildo Silva, 57 anos, que trabalha no 29º Cartório de Vara Civil e é filiado ao Sindicato dos Servidores do Poder Judiciário/RJ. Ele estava entre os manifestantes na fatídica terça-feira 6. “O Rio está nessa crise por causa desse combustível que mistura corrupção, isenções fiscais excessivas e má administração”, afirma. “As manifestações são para mostrar que sabemos o que eles faziam enquanto pensávamos que governavam o Estado.” E avisa: o protesto na segunda-feira 12 será maior ainda.
SALDO DA GUERRA
5 horas de combate entre policiais e manifestantes
11 agentes feridos
15 manifestantes feridos
9 pessoas presas
30 atendimentos médicos
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