Da ISTOÉ
Brasil foi reprovado com louvor na mais importante avaliação
de estudantes do mundo. E mostrou que a educação, decantada como prioridade nos
últimos anos pelo governo brasileiro, foi deixada às traças, apesar dos
vultuosos orçamentos da pasta. Dados divulgados pelo Programa Internacional de
Avaliação de Estudantes (PISA, na sigla em inglês), prova aplicada em 2015 em
72 países pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico
(OCDE), mostraram que o País caiu nas três áreas avaliadas: ciências,
matemática e leitura. Em 2012, ano do último exame, a pontuação dos alunos
brasileiros de 15 anos, faixa etária para a qual o teste é aplicado, já era
considerada baixíssima. Ainda assim, o Brasil era o país com maior evolução em
matemática desde os anos 2000. Agora, porém, a situação é vexatória. A OCDE
detectou uma preocupante estagnação nas quedas das notas. E, levando-se em
consideração que o gasto por aluno aumentou 43% no País, impressiona constatar
que, mesmo com mais investimentos públicos, os índices educacionais caíram para
patamares vergonhosos. Ficamos em penúltimo lugar no ranking da América Latina,
à frente apenas do Peru, e em 63º lugar geral. Diante desse quadro, resta a
pergunta: por que o Brasil permitiu essa tragédia, na área mais sensível para o
desenvolvimento do País? Especialistas são praticamente unânimes. Falta uma
política educacional e legislação que valorize o professor. O problema não é
dinheiro.
Desestímulo
Enquanto o Chile tem a mesma média de investimento e está 20
posições acima, por aqui ainda se insiste em um modelo anacrônico, pouco
eficiente e enfadonho, do qual fogem não só professores em potencial, mas
também os próprios alunos. “Há algumas questões que desestimulam os estudantes,
como a reprovação”, afirma Patrícia Mota Guedes, gerente de Pesquisa e
Desenvolvimento da Fundação Itaú Social. Segundo ela, 36% dos alunos brasileiros
responderam que já reprovaram pelo menos uma vez, número três vezes maior que a
média da OCDE. Patricia ainda cita que 45% dos estudantes do País disseram ter
faltado pelo menos uma vez nas duas semanas anteriores ao teste, enquanto que o
índice dos outros países é de 20%.
Para Mozart Neves Ramos, diretor de articulação e inovação
do Instituto Ayrton Senna, há outro grave e persistente problema: o professor
no Brasil não é valorizado. “A qualidade dos educadores é um ponto essencial e
tem que ser tratado com urgência, tanto na questão da formação inicial, quanto
da continuada”, diz. A pouca atratividade pela carreira do magistério, salários
baixos, falta de plano de carreira e praticamente nenhuma política pública para
formação são fatores que afastam os jovens da profissão e, por consequência,
deixam o Brasil a léguas de distância do grupo dos melhores dos rankings de
ensino. “Em Cingapura, no Canadá e na Finlândia, por exemplo, o magistério é
uma profissão competitiva e supervalorizada. E o resultado são melhores
desempenhos”, afirma Ramos. Por aqui, no entanto, a história é outra. No PISA,
os alunos foram questionados sobre que profissão gostariam de seguir. Entre os
brasileiros, nenhum respondeu a de professor. Hoje, 30% dos educadores dos anos
finais do Ensino Fundamental não têm graduação para a área que lecionam. A
média da OCDE é de 6%. “Como o governo precisa colocar alguém na vaga para
aquela disciplina, aceita qualquer formação”, afirma Juliano Costa, diretor
pedagógico da Pearson, empresa de educação britânica responsável pela
elaboração do PISA.
A verdade é que há muito para ser feito e poucas soluções
estão sendo tomadas. Mas depositar todas as fichas no aumento do investimento
não é suficiente. É preciso que o governo crie novas políticas educacionais,
bem elaboradas, e reformule o ensino. Entre as mais urgentes está a Base
Nacional Comum, que vai estabelecer um eixo curricular principal para ser
seguido em todo o território nacional. Outro projeto também em andamento que
precisa ser expandido o quanto antes é a educação integral. O caminho existe,
mas o resultado do PISA mostra que, por muitos anos, faltou vontade política
para ser traçado.
Entre os piores
O péssimo desempenho do Brasil no PISA fez o País cair
posições no ranking educacional mais importante do mundo
401 foi a nota na prova de Ciências, quatro pontos menor do
que em 2012. Passou do 59º para o 63º lugar
2ª pior pontuação entre os países da América Latina, ficando
atrás apenas do Peru
US$ 38 mil é o gasto médio por aluno brasileiro, cerca de R$
129 mil. Com o mesmo valor investido, o Chile está 20 posições acima
14 pontos de queda foram registrados em matemática entre as
provas de 2012 e 2015. É a área em que o Brasil mais caiu, indo do 8º ao 6º lugar
entre os piores colocados
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