sábado, 10 de dezembro de 2016

QUEM COME QUEM

Nelson Motta, O Globo
Os índios antropófagos, nossos ancestrais, mantinham a tradição de comer os inimigos aprisionados nas batalhas para absorverem e incorporarem as suas qualidades de guerreiros valentes e corajosos. Os covardes e desprezíveis eram abatidos na hora e dados aos cães. Os bravos e valorosos eram tratados com respeito e carinho e viviam semanas de conforto e prazeres antes do grande banquete em que suas qualidades seriam comidas festivamente por toda a tribo.
O que nunca se fala é do outro motivo da antropofagia: era a melhor carne da selva. Capivaras, veados, antas, macacos, javalis, peixes, aves, nenhum animal tinha carne mais macia e saborosa do que a humana. Alimentados por frutas, raízes, legumes, proteínas de peixes, aves e caças, criados em ambientes saudáveis e águas limpas, entre atividades físicas moderadas e longos repousos, os humanos eram os mais gostosos da floresta, gastronomicamente falando.
No sensacional romance “Jantar secreto”, de Raphael Montes, a carne humana é o prato principal. Como diz o cínico ex-milionário Umberto, mentor de jantares secretos de carne humana em Copacabana, todo mundo se comove, chora, nem aguenta ouvir falar sobre torturas e sofrimentos de animais, mas depois os comem prazerosamente sem qualquer culpa ou arrependimento: “O paladar não tem ética”.
Uma história eletrizante e assustadora de quatro rapazes do interior do Paraná que vêm estudar no Rio de Janeiro e protagonizam os mais insólitos, surpreendentes e abjetos comportamentos humanos para saldar uma dívida do grupo, sob a orientação de um velho ex-milionário já versado em gastronomia antropofágica.
Sob o codinome de “carne de gaivota”, promovem, a R$ 3 mil por cabeça, um jantar secreto para dez pessoas refinadamente preparado por um dos rapazes, chef de talento recém-formado em Gastronomia. E desencadeiam um turbilhão de mortes e gargalhadas até um fim trágico e surpreendente. Há um bom tempo um livro não me horrorizava — e divertia — tanto.
Um encontro de Stephen King com Rubem Fonseca, temperado com um fino humor gourmet. O mais impressionante é que o autor tem só 26 anos.
Nelson Motta, O Globo
Os índios antropófagos, nossos ancestrais, mantinham a tradição de comer os inimigos aprisionados nas batalhas para absorverem e incorporarem as suas qualidades de guerreiros valentes e corajosos. Os covardes e desprezíveis eram abatidos na hora e dados aos cães. Os bravos e valorosos eram tratados com respeito e carinho e viviam semanas de conforto e prazeres antes do grande banquete em que suas qualidades seriam comidas festivamente por toda a tribo.
O que nunca se fala é do outro motivo da antropofagia: era a melhor carne da selva. Capivaras, veados, antas, macacos, javalis, peixes, aves, nenhum animal tinha carne mais macia e saborosa do que a humana. Alimentados por frutas, raízes, legumes, proteínas de peixes, aves e caças, criados em ambientes saudáveis e águas limpas, entre atividades físicas moderadas e longos repousos, os humanos eram os mais gostosos da floresta, gastronomicamente falando.
No sensacional romance “Jantar secreto”, de Raphael Montes, a carne humana é o prato principal. Como diz o cínico ex-milionário Umberto, mentor de jantares secretos de carne humana em Copacabana, todo mundo se comove, chora, nem aguenta ouvir falar sobre torturas e sofrimentos de animais, mas depois os comem prazerosamente sem qualquer culpa ou arrependimento: “O paladar não tem ética”.
Uma história eletrizante e assustadora de quatro rapazes do interior do Paraná que vêm estudar no Rio de Janeiro e protagonizam os mais insólitos, surpreendentes e abjetos comportamentos humanos para saldar uma dívida do grupo, sob a orientação de um velho ex-milionário já versado em gastronomia antropofágica.
Sob o codinome de “carne de gaivota”, promovem, a R$ 3 mil por cabeça, um jantar secreto para dez pessoas refinadamente preparado por um dos rapazes, chef de talento recém-formado em Gastronomia. E desencadeiam um turbilhão de mortes e gargalhadas até um fim trágico e surpreendente. Há um bom tempo um livro não me horrorizava — e divertia — tanto.
Um encontro de Stephen King com Rubem Fonseca, temperado com um fino humor gourmet. O mais impressionante é que o autor tem só 26 anos.
Canibalismo tupinambá em gravura de 1592. Há registros dessa prática na Amazônia até a década de 1960 (Foto: historiadigital.org).
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