Artigo de Antonio Risério, Blog do Noblat
São Paulo: um prefeito irresponsável
A grossura pessoal, a
completa falta de educação urbana e a incapacidade de pensar coletivamente
levou a grande maioria dos motoristas de São Paulo a detestar Fernando Haddad.
Entre outras coisas, por ele ter determinado a redução do limite de velocidade
em algumas avenidas.
Para quem não se lembra, até Lula (sujeito bancado durante
anos pela “elite branca” que fingia combater) chegou a debochar dessas medidas
de Haddad, em discurso na campanha de 2016. Mas, agora, o prefeito eleito de
São Paulo promete levar à prática o retrocesso que Lula queria: os carros
voltarão a correr mais naquelas avenidas paulistanas.
Ao fazer isso, o tal do João Dória vai decididamente na
contramão do padrão que se vai estabelecendo atualmente nas democracias mais
ricas e avançadas do mundo. Como nos casos de Londres, cujo limite de
velocidade chega a ser de 32 km, e de Nova York, onde, na maior parte das vias,
o limite é de 40 km. Tudo em nome do bem-estar da população.
Quanto mais alta a velocidade, maior o número de “acidentes”,
claro. Só idiotas (de direita ou de esquerda) não querem ver isso. E escrevo a
palavra “acidente” entre aspas, por uma razão óbvia. Os estudiosos da vida
urbana sabem que a maioria das merdas que são feitas no trânsito brasileiro não
cabem na definição de “acidente”.
É óbvio. Olhem no dicionário: “acidente” significa
acontecimento casual, fortuito, inesperado. Algo que, por sua
imprevisibilidade, somos obrigados a creditar na conta do acaso. Ser atingido
por um raio, por exemplo, é um acidente.
Mas ser atropelado por um automóvel que fura um sinal
vermelho a 80 km/h, não – é uma ocorrência perfeitamente previsível. Nada tem
de verdadeiramente acidental. Um motorista que faz isso está muito mais próximo
da figura do crime premeditado do que da natureza do acidente.
Aumentar a velocidade das Marginais paulistanas não implica,
portanto, simplesmente concorrer para aumentar o número “acidentes”. Mas, isto
sim, incrementar a estatística de fatos absolutamente previsíveis e esperados,
aumentando o número de mortes e aleijões na população paulistana.
Ou seja: em vez de zelar pela gente da cidade, Dória vai
aumentar a dose de risco na vida de todos. É o contrário total do que qualquer
prefeito sério deveria fazer. E Dória terá de ser responsabilizado por isso.
Não sei se será possível responsabilizá-lo juridicamente
pelos crimes que serão cometidos. Mas moralmente, não tenho dúvida: ele está
responsabilizado desde já.
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