Walcyr Carrasco, via Facebook
Hoje faz 50 anos que foi sancionada a Lei de Imprensa, que
endureceu a censura no país durante a ditadura militar. Eu vivi essa época
intensamente, me dividindo entre o trabalho e o sonho, os ideais e as
responsabilidades, como conto no meu livro Em Busca de Um Sonho. Durante os
anos de chumbo, tinha um emprego numa editora e meu diretor me chamou dizendo
que era preciso criar uma revista em quadrinhos mostrando as virtudes dos
militares.⠀⠀⠀
Estava sendo iniciado o processo de abertura política que
fez o país retornar à democracia. Exilados políticos retornavam. No governo,
havia duas tendências. Uma, que infelizmente venceu, é encabeçada por um grupo
desejoso de, aos poucos, fazer o país retornar à democracia. Outra, radical,
almejava reviver os tempos de linha dura. ⠀⠀⠀
Houvera uma tentativa de explosão durante um show no Rio, o
atentado do Riocentro. Uma bomba estourou antes da hora, expondo todo plano.
Com o escândalo, a linha dura arrefeceu. O juiz tomou uma decisão usada:
responsabilizou governo pela morte do jornalista Vladimir Herzog na cadeia.
Descartou, assim a tese oficial de que fora suicídio. ⠀⠀⠀
O projeto que me pediram era contra minhas convicções. Fui
até meu chefe. Explicei que tive amigos presos torturados, exilados. Ele
entendeu.⠀⠀⠀
— Só não conte a ninguém que você se recusou a passar o
projeto pra outro.
Concordei. Não queria passar por herói, era uma questão
íntima. "Ele compreendeu", pensei. Um mês e meio depois fui demitido.
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