O TRE-RJ (Tribunal Regional Eleitoral do Rio de Janeiro)
cassou nesta quarta-feira (8) os mandatos do governador do Rio, Luiz Fernando
Pezão (PMDB), e do vice-governador, Francisco Dornelles (PP), por abuso de
poder econômico e político. Como ainda cabe recurso ao TSE (Tribunal Superior
Eleitoral), a decisão não tem efeito por enquanto.
A cassação, caso confirmada pelo TSE, deixa Pezão e
Dornelles inelegíveis por oito anos. O TRE-RJ determinou ainda que sejam
realizadas eleições diretas para a chefia do Executivo do Estado.
A decisão do tribunal regional foi por maioria dos votos.
Segundo nota divulgada pelo órgão, "o abuso de poder econômico e político
ficou configurado uma vez que o Governo do Estado do Rio de Janeiro concedeu
benefícios financeiros a empresas como contrapartida a posteriores doações para
a campanha do então candidato Pezão e de seu vice".
Em seu voto, o desembargador Marco Couto afirmou que
"restou comprovado que contratos administrativos milionários foram
celebrados em troca de doação de campanha".
A decisão do TRE-RJ responde a uma representação protocolada
pelo deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL-RJ) em setembro de 2014, ainda
durante a campanha eleitoral daquele ano. Segundo o documento, empresas doaram
milhões de reais para o PMDB ou para a campanha de Pezão e Dornelles como
recompensas a recursos recebidos do governo.
"Observa-se, na prática, uma canalização de recursos
públicos para a campanha do governador-candidato e seus correligionários,
travestida a partir de falsos acordos e aditivos contratuais com o Governo do
Estado, muito deles realizados pelas brechas da Lei das Licitações", diz a
representação.
Pezão e Dornelles vão recorrer
Em nota, a assessoria de imprensa do governo do Rio informou
que, "quando for publicada a decisão, o governador Luiz Fernando Pezão e o
vice-governador Francisco Dornelles vão entrar com recurso no Tribunal Superior
Eleitoral (TSE)."
Se a cassação de Pezão e Dornelles for confirmada, o
presidente da Alerj (Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro), Jorge
Picciani (PMDB), assume interinamente até a realização de novas eleições.
Segundo a Constituição do Estado do Rio, o pleito deve ser realizado em 90
dias. Já se o governador e o vice deixarem o poder no último ano de mandato,
cabe à Alerj escolher os novos ocupantes dos cargos em 30 dias.
Apesar de ser do mesmo PMDB que Pezão, Picciani tem feito
críticas abertas ao governo do Rio e comandou a votação que enterrou o pacote
de austeridade enviado à casa pelo Executivo.
Rio em crise
A decisão do TRE-RJ é mais um baque no governo de Pezão. Ele
assumiu em abril de 2014, depois que Sérgio Cabral (PMDB) renunciou para que o
então vice disputasse a eleição no cargo. Foi eleito no segundo turno, vencendo
o então senador e hoje prefeito do Rio, Marcelo Crivella (PRB).
Pezão foi vice nos dois mandatos de Cabral -- que está preso
desde dezembro sob suspeita de receber propina de empreiteiras. Hoje, o
governador comanda um Estado em profunda crise econômica e palco de frequentes
protestos de servidores públicos, que estão com salários atrasados.
Além de atrasar os pagamentos, o governo quer, para conter
gastos, que os servidores aumentem a contribuição para a previdência de 11%
para 22%.
Esta quarta, o governo do Rio garantiu o pagamento dos
salários dos servidores da segurança no dia 14 e com reajuste de até 10,22%,
tudo para evitar um possível motim na área de segurança. No pacote de ajuste
fiscal para o Estado anunciado no fim do ano passado, o governo previa adiar o
pagamento dos reajustes da categoria para 2020.
Em dezembro, os servidores da segurança engrossaram o ato
dos professores e demais servidores públicos e chegaram a invadir a Alerj
(Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro) durante a votação do pacote de
austeridade enviado à Casa por Pezão.
Na terça (7), servidores do Estado voltaram a protestar na
porta da Alerj. Centenas de participantes, a maioria de servidores da Cedae (a
companhia de água e esgoto do Estado), foram contra colocar em discussão a
privatização da companhia e os demais itens do pacote de medidas anunciadas
pelo governo do estado para combater a crise financeira. Na semana passada,
houve tumulto em manifestação no mesmo local.
Para pressionar o governo, servidores da Cedae decretaram
greve por 72 horas a partir desta terça. Somente 30% dos funcionários estão
trabalhando em ocorrências de falta d'água e grandes vazamentos, segundo o
SintSama (Sindicato dos trabalhadores das empresas de saneamento básico do Rio
de Janeiro). Funcionários da companhia fizeram novo protesto hoje.
A venda da companhia de saneamento é uma das manobras do
governo para tentar contornar a crise. Ela faz parte do acordo com a União, que
prevê a suspensão do pagamento de dívidas do Estado com bancos federais durante
três anos e o empréstimo de R$ 3,5 bilhões para o Rio de Janeiro.
Em meio a toda essa crise, Pezão ainda se viu obrigado a
ficar licenciado durante sete meses no ano passado para tratar de um câncer no
sistema linfático. Durante o período, foi substituído interinamente por
Dornelles.
Do Estadão Conteúdo, via UOL
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