Da ISTOÉ
O futuro da União Europeia pode começar a ser decidido no
dia 23 de abril, quando a França realiza o primeiro turno de suas eleições
presidenciais. Dez candidatos alinhados às mais diversas correntes políticas
disputam o cargo máximo do país. Nenhum tem registrado desempenho tão promissor
e consistente nas pesquisas de intenção de voto quanto Marine Le Pen, do
partido de extrema-direita Frente Nacional (leia quadro). Com discurso
nacionalista e protecionista, Le Pen tem como uma de suas principais promessas
de campanha a convocação, ainda nos primeiros seis meses de mandato, de um
referendo para definir se a França deve ou não permanecer na União Europeia.
Segundo ela, o bloco é um “fracasso” e não cumpriu as promessas de prosperidade
e estabilidade feitas na sua criação. “Estamos no fim de um ciclo”, disse Le
Pen, em discurso no dia 5. “Um dia, a União Europeia será apenas uma lembrança
ruim”.
Ameaça
Hoje, Le Pen representa o maior risco para a sobrevivência
do bloco desde a sua criação, em 1993. “A União Europeia até sobrevive à saída
da Inglaterra, mas sem a França, o projeto se desfaz”, diz Carlos Gustavo
Teixeira, coordenador do curso de Relações Internacionais da Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Diferentemente da Inglaterra – que
rompeu com o bloco por meio de referendo em junho de 2016 – a França é uma das
nações fundadoras da UE e, desde o final da Segunda Guerra Mundial, cumpre a
função de mentora política de boa parte dos projetos de integração do
continente. Junto com a Alemanha, a nação é um dos pilares do bloco, que hoje
tem 28 países-membros, 24 línguas oficiais e, em 2015, teve PIB de US$ 16,3
trilhões, segundo o Banco Mundial.
“Pensar um futuro para a União Europeia sem a França não é
tarefa simples”, diz o ex-embaixador do Brasil em Paris Marcos Azambuja, hoje
conselheiro do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (CEBRI). No pior
dos cenários, a ruptura do país com o bloco seria total – como apregoa Le Pen –
e a nação passaria a ter uma política imigratória, econômica e legislativa
independentes da União Europeia. O bloco se desestabilizaria e seria difícil
manter vinculados membros importantes, como Itália e Holanda – a Alemanha, por
seus laços econômicos, dificilmente sairia. Um cenário menos catastrófico seria
a ruptura parcial, com o abandono, pela França, do Euro e da política de livre
circulação entre países-membros. “De qualquer forma, a União Europeia deixaria
de existir como ela existe hoje”, afirma Azambuja.
O projeto de uma grande aliança entre países europeus que
culminou com a União Europeia nasceu na segunda metade da década de 1950 para
domar nacionalismos e trazer estabilidade a uma região que, em menos de quatro
décadas, foi palco de duas guerras mundiais. O projeto de Le Pen vai contra
todos esses esforços. Ele é nacionalista e protecionista, o que dificulta
acordos e inviabiliza o consenso. E a história do século 20 é repleta de
exemplos que mostram que nações que seguem esse caminho nem sempre acabam bem.
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