O prefeito João Doria (PSDB) cancelou sua participação que
faria em evento do Lide, empresa fundada pelo tucano e conhecida por pedir
contribuições de empresários para organizar palestras com políticos.
A decisão ocorreu após a publicação de uma reportagem da Folha
na quinta (19) revelando que, na primeira semana do ano, a Lide enviou e-mails
a empresários para pedir patrocínio para o evento, que ocorreria durante um
almoço com 350 convidados, no hotel Grand Hyatt, em São Paulo, no dia 6 de
março.
As cotas de copatrocínio solicitadas custariam R$ 50 mil e
dariam aos presidentes das empresas doadoras o direito de se sentarem à mesa
principal, ao lado do prefeito, além de aparições de suas logomarcas em
painéis.
Procurada pela reportagem na quarta (18), a prefeitura
afirmou que não havia nenhuma restrição para que o prefeito fizesse palestras
em eventos promovidos por empresas ou entidades. O presidente do Lide, Gustavo
Ene, respondera que não havia conflito de interesse por parte do prefeito
porque o controle acionário da empresa foi transferido para o controle dos
filhos de Doria.
O pedido de transferência da empresa já foi feito mas,
formalmente, ainda não aconteceu e aguarda os trâmites comerciais. Outro
argumento de Ene para negar o conflito de interesse foi o fato de outros
prefeitos e governadores já terem participado de palestras no Lide, com
recursos captados entre empresas.
Nesta segunda (23), no entanto, a prefeitura divulgou nota
afirmando que "para evitar que haja qualquer tipo de interpretação
distorcida sobre sua conduta", Doria decidiu desistir de fazer a palestra
durante almoço organizado pelo Lide.
"A Prefeitura de São Paulo reafirma que a participação
do prefeito não representaria qualquer ilegalidade, nem feriria a moralidade e
a ética públicas. Tanto é que os últimos três prefeitos da cidade de São Paulo
participaram de eventos semelhantes promovidos pelo Lide, que há 14 anos
realiza almoços com a participação das mais diversas autoridades públicas e de
centenas de líderes empresariais."
Na nota, a administração municipal afirma também que "o
Lide, assim como fazem veículos de comunicação de prestígio e seriedade como
Exame, Época Negócios, Folha, Estadão, Valor e O Globo, comercializam cotas de
patrocínio de seus eventos empresariais. E nada desqualifica os eventos nem
seus organizadores e participantes por esta razão."
Também em nota, o Lide disse que "embora não exista
restrição legal ou ética para a participação do prefeito, a decisão tem por
objetivo evitar qualquer interpretação que desvirtue a verdade dos fatos".
O comunicado à imprensa diz que, para a realização de
qualquer evento, é necessária a comercialização de cota de patrocínio.
"Não há 'doação' ou solicitação de 'contribuição', conforme
noticiado", diz o texto.
Ainda de acordo com a nota, o Lide diz que, desde a sua
fundação, em 2003, a empresa tem recebido inúmeras autoridades para debater
questões importantes para a sociedade, incluindo os últimos prefeitos da
cidade.
Na última quinta (19), a liderança do PT na Câmara Municipal
entrou com uma representação no Ministério Público de São Paulo para pedir a
suspensão da palestra do prefeito.
Especialistas ouvidos pela reportagem afirmam que, ainda que
o prefeito tenha se afastado da empresa, a captação de dinheiro privado por
parte do Lide para financiar sua palestra ainda é um caso delicado.
"Existe um flagrante conflito de interesse na medida em
que ele é o prefeito da cidade, e as empresas podem se sentir intimidadas e
temerosas de sofrer retaliações do poder público caso não contribuam", diz
Rafael Alcadipani, professor de estudos organizacionais da FGV Eaesp.
Jaime Crozatti, professor da Escola de Artes, Ciências e
Humanidades da USP (Universidade de São Paulo), diz que "é preciso tomar
cuidado para que esses financiadores não sejam fornecedores da prefeitura no
futuro".
Empresários relatam que a estratégia da equipe do Lide para
captar recursos é insistente. Enquanto Doria ainda chefiava o Lide, antes da
campanha para prefeito, não era raro que ele próprio ligasse para reiterar o
pedido de patrocínio quando algum dono de empresa negava o apoio. Para Ene, o
presidente da Lide, a insistência da equipe da Lide nos pedidos de patrocínio é
sinal da eficiência da organização na busca por recursos.
Íntegra da nota da Prefeitura de São Paulo
Para evitar que haja qualquer tipo de interpretação
distorcida sobre sua conduta, o prefeito de São Paulo, João Doria, decidiu
declinar o convite para ministrar palestra durante almoço organizado pelo Lide.
A Prefeitura de São Paulo reafirma que a participação do prefeito não
representaria qualquer ilegalidade, nem feriria a moralidade e a ética
públicas. Tanto é que os últimos três prefeitos da cidade de São Paulo
participaram de eventos semelhantes promovidos pelo Lide, que há 14 anos
realiza almoços com a participação das mais diversas autoridades públicas e de
centenas de líderes empresariais.
A Prefeitura observa ainda que o Lide, assim como fazem
veículos de comunicação de prestígio e seriedade como Exame, Época Negócios,
Folha, Estadão, Valor e O Globo, comercializam cotas de patrocínio de seus
eventos empresariais. E nada desqualifica os eventos nem seus organizadores e
participantes por esta razão.
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