Da ISTOÉ
O governador de Minas Gerais, Fernando Pimentel, quem diria,
já integrou a ala dos éticos do PT. Ao menos, era como ele se autoproclamava.
Quando eclodiu o escândalo do mensalão, o político mineiro logo se apresentou
com um dos candidatos a “refundar” o partido. Como o próprio PT, que não teve
pudores em trair seus ideais, Pimentel – e tudo a ele relacionado – não passou
de uma grande ilusão. Hoje, chafurda na lama da corrupção como os principais
dirigentes da legenda. Alvo de nada menos do que sete procedimentos criminais,
sendo duas denúncias à espera de autorização do Supremo Tribunal Federal (STF)
para torná-lo réu, o petista é apontado como autor de crimes em mais três
inquéritos e só não foi indiciado ainda por falta autorização do
ministro-relator do caso no Superior Tribunal de Justiça, Herman Benjamin. A
Polícia Federal aponta que o caixa dois do governador foi de R$ 19,6 milhões obtido por seis empresas, segundo
documentos aos quais ISTOÉ teve acesso. A arrecadação oficial de Pimentel foi
de R$ 53,4 milhões, de acordo com a Justiça Eleitoral. Ou seja, a polícia
indica que 27% das receitas do petista foram contraídas ilegalmente. Para os
agentes federais da Operação Acrônimo, há uma “organização criminosa coordenada
e integrada por Fernando Damata Pimentel que, em razão de seu cargo, facilitou
a atuação de outros integrantes do grupo criminoso”.
Financiamento
Nos três inquéritos, a PF pediu o indiciamento de Pimentel
por corrupção passiva, caixa dois e lavagem de dinheiro. A mulher dele,
Carolina Pimentel, foi indiciada pelos mesmos crimes, junto com o empresário
Benedito Rodrigues de Oliveira Neto, o Bené, ex-coordenador da campanha do
petista que fechou acordo de delação premiada com o Ministério Público. Outras
19 pessoas, entre empresários e pessoas ligadas Pimentel foram indiciados por
crimes como falsidade ideológica, tráfico de influência ou caixa dois
eleitoral. A Acrônimo foi deflagrada em maio de 2015 para investigar esquema de
tráfico de influência para liberação de empréstimos do BNDES e esquema de
lavagem de dinheiro em campanhas eleitorais envolvendo gráficas e agências de
comunicação. O indiciamento significa certeza da autoridade policial de que há
fatos para denúncia e processo.
De acordo com a PF, parte dos recursos era obtida com caixa
dois feito quando empresas financiadoras – como Support Consultoria, Gontijo
Transportt e Águia Branca (do grupo dono da Azul Linhas Aéreas) – e a CNI
pagavam parte das despesas com gráficas da campanha ou forneciam recursos em
espécie, muitas vezes com uso de notas frias. Empresários que não fecharam
delação premiada confessaram que os acertos eram feitos com Pimentel e depois
com Bené, algumas vezes em troca de não ter problemas futuros com o provável
governador.
Num dos inquéritos, o dono da JHSF Participções, José
Auriemo Neto, disse em sua delação que pagou R$ 1 milhão ao Vox Populi a fim de
disfarçar o caixa dois. Afirmou que ainda repassou recursos em dinheiro vivo e
gastou US$ 4.867 em estadia no hotel Las Piedras, em Punta de Leste, no
Uruguai, para o governador, a primeira-dama, Bené e duas mulheres em março de
2014. O advogado de Pimentel, Eugênio Pacelli, adotou o mantra usual. Disse que
seu cliente não pediu caixa dois a ninguém e que Bené tinha autonomia para
atuar, mas legalmente. “Fernando Pimentel não pediu dinheiro de caixa 2, pediu
doações”, afirmou. “Pimentel confiou que Bené faria seu papel.” O advogado de
Carolina, Thiago Bouza, preferiu não comentar. O dono da Athalia Gráfica, João
Batista Santos, afirmou que imprimiu mais de 1 milhão de apostilas para a CNI e
pagou comissão de R$ 400 mil a Bené, emitindo nota fiscal. “Não tenho nada a
ver com Pimentel. Eu e o cliente (CNI) não temos nada com isso.”
Agora, falta o Ministério Público decidir se denuncia
Pimentel mais três vezes, arquiva os casos ou solicita mais apurações da PF –
um dos relatórios está na Procuradoria Geral da República desde dezembro. Como
se nota, o ex-ético não terá uma jornada fácil.
Todos os rolos do governador
Fernando Pimentel é alvo de duas denúncias do MPF e mais
cinco
inquéritos policiais
Carros
Ação penal 836. PGR denunciou Pimentel por corrupção, porque
haveria repasse de propina para a montadora obter benefícios tributários do
governo
Odebrecht
Ação penal 843. PGR denunciou Pimentel e Marcelo Odebrecht
por corrupção porque o petista teria recebido propina da empreiteira em troca
“ingerência” na Câmara de Comércio Exterior (Camex) do governo federal em favor
do empresário
Caixa dois
Inquérito na PGR à espera de denúncia desde dezembro. PF
pediu indiciamento de Pimentel por receber R$ 19,6 milhões em caixa 2 em 2014
de várias empresas. A PGR precisa decidir se denuncia governador
Financiadoras
Inquérito na PGR à espera de denúncia desde março. PF pediu
indiciamento de Pimentel por corrupção porque ele teria recebido propina e
feito caixa 2 com apoio da mulher, Carolina Pimentel, e de uma rede empresas
financiadoras de materiais gráficos e até dinheiro vivo
Aeroporto
Inquérito na PGR à espera de denúncia desde março. PF pede
indiciamento de Pimentel porque teria recebido dinheiro em caixa 1, caixa 2, em
espécie e em resort de luxo no Uruguai em troca de favorecimento à JHSF
Participações em concessão de aeroporto
BNDES
Em apuração. Inquérito em que PF investiga se houve propina
em troca de lobby que a mulher de Pimentel, Carolina Oliveira, teria feito no
BNDES
Lobby
Em apuração. Inquérito em que PF investiga se houve propina
em troca de lobby feito pela mulher de Pimentel, Carolina Oliveira, e por
Danielle Fonteles, no governo federal
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